Criador de The Boys explica sua relação “despudorada” com a Marvel e a DC
Por Claudio Yuge |
Quem já assistiu a The Boys, pode ter uma discreta ideia de como seu criador, Garth Ennis, pode ser cínico e sarcástico com a própria indústria em que trabalha — e olha que os quadrinhos homônimos são muito mais chocantes e até gosto duvidoso. O escritor irlandês passou um tempo meio sumido da grande mídia nos últimos anos, reformulando suas ideias em projetos com editoras independentes. E, em uma recente entrevista, ele diz como sua relação “despudorada” com a Marvel e a DC impulsionou sua carreira.
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Bem, já falei bastante sobre Garth Ennis por aqui, mas vale fazer um breve resumo de sua carreira para quem ainda não o conhece. O roteirista surgiu como um jovem rebelde, criativo e transgressor em sua excelente passagem por Hellblazer, o título de John Constantine, em meados de 1990. A partir daí, tornou-se um rockstar no mercado, emplacando seu próprio hit, Preacher, enquanto também assumia outros personagens, a exemplo do Justiceiro.
Seu estilo agressivo, provocativo, muitas vezes perturbado e sempre violento, deixou de ser divertido e inovador no final dos anos 1990 por conta de sua repetição formulaica, e, quando ele criou The Boys, já em meados de 2000, entrou em uma fase pouco inspirada. E, embora tivesse bom relacionamento com a DC, com títulos próprios de sucesso, a exemplo de Preacher e Hitman, sua visão irônica e debochada sobre os super-heróis escalou para uma visão pervertida sobre o gênero.
Somente depois de algumas edições nas bancas é que a diretoria da DC notou que The Boys era uma ridicularização da Liga da Justiça, e, assim que percebeu, baniu o título e o próprio autor. Ennis teve que levar seu gibi para outra empresa, a Dynamite Entertainmet. E foi aí que ele decidiu sair dos holofotes para tocar projetos autorais em pequenas editoras.
Com o sucesso da adaptação de The Boys, ele voltou a ser lembrado e ganhou popularidade diante de uma nova geração de fãs. E, agora, novamente em uma boa fase, Ennis quebrou o silêncio sobre as grandes editoras com as quais trabalhou no passado.
O que Ennis disse sobre a Marvel e a DC?
A Variety citou os comentários de Ennis para uma multidão na convenção Lucca Comics & Games, onde o autor discutiu a receita para seu sucesso ao longo de sua duradoura carreira de 35 anos. O autor, depois de seu hiato com grandes franquias, foi recentemente escolhido para escrever um nova série do 007 na Dynamite Comics.
Ennis teve grande sucesso com a DC e a Marvel ao longo dos anos, e falando sobre a mentalidade que os criadores devem trazer para trabalhar nas grandes empresas, ele sugeriu um ponto de vista pragmático: "eles usam você, então você também pode usá-los". E foi exatamente isso que ele fez, ao emprestar personagens conhecidos para popularizar seu estilo provocativo no limite do obsceno.
“Assuma o que você cria, tanto quanto possível”, disse Ennis à multidão na Lucca Comics & Games. "Certifique-se de manter a propriedade do maior número possível de personagens que você criou", enfatizando a importância do trabalho de propriedade do criador.
“Se você vir algo que pode ser criativamente gratificante, use a DC e a Marvel para avançar em sua carreira”, completou o autor, que não se importa mais em admitir que houve uma relação cínica e simbiótica entre as majors e seu momento de ascensão — e, adequada ou não, essa opinião mostra que o Ennis rebelde e impulsivo da juventude está de volta.