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Fundador da Initiative Q explica por que “dá dinheiro” em troca do seu e-mail

Por| 08 de Novembro de 2018 às 12h25

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Você provavelmente já se deparou nas redes sociais com convites de amigos para um projeto chamado Initiative Q, o qual promete “dinheiro de graça” em troca do seu nome e e-mail.

A ideia, na verdade, tem como objetivo revolucionar a forma como as pessoas fazem pagamentos. Contudo, para isso, segundo Saar Wilf, fundador da Initiative Q, é preciso primeiro que as pessoas confiem na proposta.

Wilf foi diretor do PayPal e é um velho conhecido da indústria por seus investimentos em startups, o que levanta ainda mais curiosidade do porquê este grupo estar dando dinheiro por aí.

Ele explica: “Eu preciso que as pessoas acreditem nisso, que tenham confiança nisso. Eu preciso que as pessoas, quando o sistema estiver no ar, instalem o app no smartphone, e depois usem o nosso sistema de pagamentos”. Em suma, o que o Wilf oferece, atualmente, é só uma promessa.

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O sistema funciona da seguinte maneira: um usuário recebe um convite (ou clica em um link de um número limitado de convites) de um colega. Dentro da plataforma, fornece apenas seu nome e e-mail, e também recebe um link, igual ao que o levou ali, para convidar outras pessoas.

Com isso, a plataforma passa a reservar uma certa quantidade de moedas digitais, chamada de Q, com a promessa de que, quando o projeto estiver no ar, você possa usá-las para pagar coisas. “Nós não estamos pagando o usuário, mas distribuindo uma nova moeda”, explica o fundador.

Assim, quanto mais você divulga a ideia e convence outras pessoas a entrar no projeto, mais Qs serão reservados a você. Parece pirâmide? Sim. Contudo, embora pareça, há uma defesa que isenta o projeto do sistema conhecido por marketing por pirâmide: ele não pede um investimento inicial em dinheiro. “Em nenhum momento nós pedimos dinheiro do usuário”, defende Wilf.

Então, para que usuário e e-mail? Wilf diz que precisa de alguma forma de comunicação com a pessoa que se interessou pelo projeto, para avisar sobre avanços.

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A ideia, portanto, do Initiative Q é fazer com que pessoas mostrem interesse pela ideia antes mesmo de ela sair do papel, para que, então, os idealizadores possam realizar o que prometem.

O que há de concreto?

Como defende o jornalista Stan Schroeder, do Mashable, a Initiative Q não existe de fato, mas é apenas um grande projeto atual de marketing. Wilf concorda e diz que esta é exatamente a ideia. “O problema é que, quando você constrói uma nova rede, você não tem ninguém, e ninguém quer ser o primeiro comprador, quando não tem ninguém vendendo. Da mesma forma, ninguém quer ser o primeiro vendedor, se não tem ninguém comprando”, explica.

Assim, primeiro, o grupo pretende levantar uma base de pessoas interessadas e, então, tirar o projeto do papel. Quando isso deve acontecer? Wilf reconhece que pode ser nunca, caso não atinja o número necessário, o qual ele não divulga.

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No último dia 30, a empresa divulgou que, ao todo, já são mais de 2 milhões de registros em 180 países. No ritmo em que o projeto segue, ele acredita que os usuários podem passar a fazer pagamentos já em um intervalo entre 1 a 2 anos. O projeto é se tornar um grande sistema bem difundido em pelo menos 10 anos.

Caso o projeto dê certo, a ideia é criar um sistema que utiliza tecnologias mais atuais para tornar as transações mais seguras, rápidas e com menos taxas. Para isso, o grupo lista uma série de ferramentas que podem ser implementadas em um sistema de pagamento com o uso de inteligência artificial e algoritmos para analisar comportamento de usuários e prevenir fraudes, por exemplo. Ainda, propõe transações digitais por QR code no smartphone ou mesmo pelo método RFID, um adesivo que pode ser colado ao dispositivo e substituir o código virtual caso o smartphone esteja sem bateria.

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Em suma, a Initiative Q ainda é uma ideia em busca de adeptos oferecendo em troca uma moeda que pode nunca vir a existir ou, se existir, pode nunca vir a ser aceita.

Nós conversamos com Wilf para saber mais detalhes sobre o projeto. Confira o papo:

Canaltech (CT): O que é a Initiative Q?

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Saar Wilf (SW): Essa é uma nova abordagem para uma rede de pagamentos, de forma a consertar os nossos sistema de pagamentos, que é bem antigo, que foi desenhado dezenas de anos atrás, e é bastante ineficaz, não é seguro, não é fácil de usar. É também muito caro, no qual todos nós que fazemos um pagamento ou recebemos precisamos pagar um custo alto. É um grande problema, e muito difícil de resolver.

É difícil de resolver porque isso exige reconstruir todos o sistema do zero, baseado nas mais recentes e atualizadas tecnologias. O problema é que, quando você constrói uma nova rede, você não tem ninguém, e ninguém quer ser o primeiro comprador, quando não tem ninguém vendendo. Da mesma forma, ninguém quer ser o primeiro vendedor, se não tem ninguém comprando. Por isso é tão difícil inovar em sistemas de pagamento, é tão difícil criar uma nova rede de pagamentos, com essas novas tecnologias.

Então, a Initiative Q é um modo de resolver esse problema, construindo uma rede que tem a sua própria moeda. Modelos econômicos nos mostraram que as moedas que têm uma ampla adoção e que são mais utilizadas para fazer transações são as que mais têm valor. Por exemplo, a Visa tenha sua própria moeda, que é utilizada exclusivamente em suas transações. Essa moeda vale alguns trilhões de dólares. Então, nós estamos criando um novo sistema de pagamentos que tem a nossa própria moeda e estamos distribuindo essa moeda de graça para qualquer um que participe com alguma ação para fomentar ou estimular a adoção e crescimento dessa rede. Qualquer um que se registrar ou espalhar esse essa nova ideia,, ou seja, qualquer um fizer qualquer ação para ajudar na adoção dessa nova moeda vai receber gratuitamente a nossa moeda.

CT: Não há nenhum financiamento por trás dessa iniciativa?

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SW: Eu estou financiando todo esse processo.

CT: Você está autofinanciado esse projeto, então?

SW: Sim.

CT: Você está usando o nome e o e-mail dessas pessoas especificamente para o quê?

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SW: Não é só os e-mails, eu preciso que as pessoas acreditem nisso, que tenham confiança nisso, eu preciso que as pessoas, quando o sistema estiver no ar, que elas instalem app no smartphone, o nosso app de pagamentos. Eu preciso que as empresas que vão vender alguma coisa estimulem os usuários a fazer pagamentos por essa plataforma. Então, não é só sobre os e-mails, mas ter pessoas que queiram que esses processos todos sejam um sucesso, e acreditem que ele possa ser um sucesso. Se você tem pessoas suficiente acreditando nisso, então, isso vai acontecer.

CT: E é por isso que você precisa dos nomes e dos e-mails?

SW: Esse foi o jeito que nós vimos de nos comunicarmos com essas pessoas. É o nosso jeito de dizer para elas que "ok, nós estamos agora indo para o próximo passo, agora você pode comprar de uma pessoa que está vendendo por esse nosso aplicativo". Não preciso especificamente dos nomes ou dos e-mails, mais apenas um modo de fazer com que as pessoas se envolvam e ter um jeito de me comunicar com elas, por isso que nós pedimos os e-mails.

CT: Eu creio que você já tinha lido um artigo da Mashable, o qual diz que, na verdade, o seu projeto ainda não existe e ainda mostra certo receio de que se trate de um sistema de pirâmide. Você chegou a ler esse artigo?

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SW: Bom, eu acredito que o artigo tenha sido bastante justo, na verdade. Eles levantam o medo, mas como eles mesmos apontam que não existe troca de dinheiro, não há um golpe, nem relacionamento direto com dinheiro. Basicamente, ele apenas levantam um medo de que o projeto não venha existir. O que eu acredito que é legítimo e honesto.

A única coisa que eu acredito que não está correto é que ele disse que um problema é nós não temos um sistema ainda. A verdade aqui é que essa é exatamente a ideia. Primeiro, a gente constrói uma base de usuários que querem que isso realmente exista, que querem que isso seja um sucesso, que acreditam nisso. Então, a gente cria esse sistema, a gente cria essa rede efetivamente. Ou seja, exatamente o oposto de tentativas que foram feitas no passado. Já houve centenas de tentativas de consertar esse nosso sistema monetário, para criar uma nova rede de pagamentos com novas tecnologias, mas todas elas falharam porque elas criaram todo o sistema antes, e depois falharam em trazer os usuários.

Então, a gente quer fazer exatamente o oposto. É exatamente sobre isso a Initiative Q,

CT: Atualmente, então, a única coisa que você está "vendendo" é a fé no projeto?

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SW: Sim, o que a gente está tentando construir é exatamente confiança. O que nós estamos realmente querendo fazer é criar todo um barulho de marketing, chegar ao maior número de pessoas possível, para que elas saibam que isso existe e para que elas queiram que isso se torne um sucesso. É só isso que nós precisamos.

CT: As pessoas que estão participando disso, que deram seus nomes e e-mails, agora elas precisam esperar que o projeto de fato saia do papel. Por quanto tempo essas pessoas precisam esperar?

SW: Bom, antes de mais nada, a resposta pode ser até "para sempre". É totalmente possível que isso nunca saia do papel, que nunca se torne um sucesso. Ou seja, que não tenhamos o pessoal suficiente querendo se juntar a nós ou mesmo apoiando isso. Mas atualmente estamos indo muito bem, estamos com a nossa base de dados crescendo muito rápido. Há milhões de usuários se juntando a nós. Se essa tendência se mantiver, nós acreditamos que podemos começar a fazer realmente transações com as moedas Q em cerca de um ano ou dois.

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Inicialmente, será geograficamente limitado, nós vamos começar em apenas algumas cidades nas quais nós tivermos pessoas suficientes, que se prontificaram, que apoiaram a ideia, com entusiastas suficientes. Daí, vamos gradualmente expandindo para mais e mais lugares. Se tudo der certo, a gente espera que em 10 anos esse se torne o método número um de pagamentos em uma escala como a de Visa, MasterCard e American Express. Em resumo, nós queremos ser a rede de pagamentos líder no mundo.

CT: Eu não quero ser a pessoa pessimista aqui, mas vamos supor que esse projeto não saia do papel. Você vai continuar com o banco de dados, com nomes e e-mails. O que você pretende fazer com ele caso isso realmente não seja um sucesso como vocês esperam?

SW: Nós deixamos isso muito claro. Nós nunca vamos usar esses dados para nenhuma outra proposta, para nenhum outro objetivo, não vamos vender, não vamos colocar isso no mercado. Se nós não tivermos sucesso nesse projeto, vamos destruir totalmente esse banco de dados.

CT: Qual o próximo passo agora?

SW: A gente acredita que, em alguns meses, já possamos passar a ter o app inicial, o que vai ser mais um passo para adoção. Com ele, as pessoas vão poder checar as suas moedas Q. Vão poder entender sobre o projeto assim como entendem hoje pelo nosso site. A gente mantém agora o objetivo de registrar e trazer mais pessoas para plataforma.

CT: Por isso, dar dinheiro para elas?

SW: É natural que as pessoas achem insuspeito quando elas escutam expressões como "dinheiro de graça", isso é sempre muito suspeito. Mas esse é um projeto bastante único, porque o que nós estamos criando aqui é um novo jeito de lidar com dinheiro, e um novo modo de fazer pagamentos. Para isso, nós precisamos dar esse novo dinheiro de graça. É o único jeito que o nosso projeto pode ir para frente. Geralmente, quando as pessoas disserem "dinheiro de graça", seja realmente precavido, mas, nesse caso, saiba mais sobre o que está atrás disso, qual é a razão econômica por trás disso e você vai ver que faz sentido. Não há realmente razão para ficar com medo.

CT: Você vai pagar essas pessoas com criptomoedas?

SW: Não, ela não é uma criptomoeda. Ela é apenas uma moeda digital e o conceito aqui não é necessariamente usar o verbo pagar, mas distribuir.

CT: Qual a diferença entre os dois?

SW: Você vai receber as moedas Q na proporção em que o sistema for crescendo, for se desenvolvendo. Na medida em que for se tornando mais popular também. E conforme passarem a ter mais valor, a serem mais aceitas, você vai ter algumas para usar com empresas, com alguns vendedores que aceitem essa moeda. Ou seja, é um processo gradual.

CT: Então, quem receber algumas moedas pode vender por dólar, por real, se quiser? Esse é o projeto, ter Qs e trocar por dinheiro?

SW: Imagine que você tenha hoje 20.000 Qs. Atualmente, ele está apenas reservado. Você ainda não pode usar. Na medida em que o sistema for se desenvolvendo, então, gradualmente uma porção desses Qs vai poder ser usado como moeda. Basicamente, o que vai acontecer é que essas moedas serão majoritariamente usadas para se comprar. Isso, sem converter para, por exemplo, o real, que é a moeda do Brasil. Você vai simplesmente poder ir a um estabelecimento, uma padaria, comprar comida, e pagar direto com as suas moedas Q, com a sua carteira virtual.

Esse é o principal modo em que a gente espera que ele seja utilizado. Claro, ele sempre pode ser convertido em outras moedas, vez ou outra, mas a principal funcionalidade para essa moeda, para esse sistema, é facilitar a forma com que as pessoas compram coisas.

Claro é importante que não seja trocado por uma moeda que já existe, porque se isso acontecer, a gente não fez nada de novo. A ideia é que vocês posso utilizar o sistema para fazer pagamento, mais barato, mais seguro, mais fácil de utilizar para que pessoas façam pagamentos. Se você é um vendedor, você pode receber esse dinheiro mais rápido, pagando menos taxas por conta disso, essa é a nossa ideia.

CT: O objetivo aqui é mudar o método e não somente a moeda?

SW: Exatamente, a gente quer criar uma moeda mais fácil de ser usada, mais segura, mais fácil de ser transferida e mais barata também ser transferida.

CT: E como que vocês vão fazer isso?

SW: Nós já temos a tecnologias para isso. Os nossos smartphones têm sensores de digital, GPS, câmera e microfone e recursos de criptografia. Estes poderiam ser utilizados para implementar métodos altamente seguros de autenticação, por exemplo, de múltiplos fatores, o que dificultaria muito mais o roubo de identidade.

A ideia é também implementar algoritmos de comportamento digital oferecida por empresas parceiras nossas, implementar sistemas de QR code de carteiras digital ou o RFID no seu telefone caso ele fique sem bateria.

Ou seja se a gente conseguir oferecer uma moeda melhor, mais eficiente e mais segura. A gente acredita que as pessoas vão preferir utilizar o nosso método de pagamento em detrimento da moeda convencional.

Com informações do Mashable