Amazon desiste de construir nova sede em Nova York após pressão política
Por Renato Mota | 14 de Fevereiro de 2019 às 16h59
A Amazon, oficialmente, desistiu de construir seu segundo quartel-general em Nova York, depois de muita controvérsia entre duas alas do Partido Democrata na região — representadas de um lado pelo governador Andrew Cuomo e pelo prefeito Bill de Blasio, e do outro pelo ex-prefeito Michael Bloomberg, pelo senador Michael Gianaris e pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez.
“Depois de muita reflexão e deliberação, decidimos não avançar com nossos planos de construir uma sede para a Amazon em Long Island City, Queens”, afirmou a empresa, num comunicado oficial, justificando que “o compromisso de construir uma nova sede requer relações positivas e colaborativas com funcionários eleitos que nos apoiarão em longo prazo”.
Quando a Amazon anunciou que estava interessada em construir uma nova sede, para além da original em Seattle, dezenas de cidades pelos Estados Unidos ficaram em polvorosa, cada uma com uma oferta mais tentadora para receber o empreendimento. Afinal de contas, além da construção em si, a instalação de uma sede da empresa poderia gerar 25 mil de empregos com altos salários (média de US$ 150 mil anuais) e bilhões de dólares em impostos num longo prazo.
Entre promessas de incentivos fiscais e melhorias de infraestrutura, a decisão ficou entre o Queens, em Nova York, e Crystal City, em Arlington, no estado da Virgínia. Nova York venceu e todos ficaram felizes, até que os detalhes do acordo foram divulgados, e o estado teria concordado em aceitar isenções fiscais no valor de US$ 3 bilhões.
“Não temos um tostão para fazer o metrô não atrasar mais, ou para construir moradias acessíveis e escolas suficientes para nossos filhos neste mesmo bairro. Ainda assim, estamos abrindo mão de todo esse dinheiro para Jeff Bezos, que claramente não precisa disso”, disse Michael Gianaris na CNN. O senador e outros políticos da região começaram então a fazer uma forte oposição contra essa isenção fiscal para a Amazon.
“Enquanto as pesquisas mostram que 70% dos nova-iorquinos apoiam nossos planos e investimentos, vários políticos estaduais e locais deixaram claro que se opõem à nossa presença e não trabalharão conosco para construir o tipo de relacionamento necessário para avançar o projeto que nós e muitos outros imaginamos em Long Island City”, afirmou a empresa no comunicado divulgado nesta quinta-feira (14).
Além da parte financeira, os opositores do acordo também reclamavam da forma como ele foi negociado, sem um debate mais aberto com a população. “A Amazon se atreve a determinar se nosso governo pode ou não conversar conosco sobre esses acordos em andamento. Eles fizeram o Estado assinar em sigilo. E será horrível quando o acordo se tornar conhecido”, disse Gianaris.
A Amazon, em seu comunicado, agradeceu ainda os esforços do governador e do prefeito de Nova York. “O governador Cuomo e o prefeito de Blasio trabalharam incansavelmente em nome dos nova-iorquinos para incentivar o investimento local e a criação de empregos, e não podemos agradecer o suficiente por todos os seus esforços. O firme compromisso e dedicação que esses líderes demonstraram às comunidades que representam nos inspiraram desde o início e é uma das grandes razões pelas quais nossa decisão foi tão difícil”.
A nova sede passará, então, ao segundo colocado na pesquisa: Crystal City. “Não pretendemos reabrir a pesquisa do HQ2 neste momento. Continuaremos conforme o planejado em Nashville, e continuaremos a contratar e crescer em nossos 17 escritórios corporativos e centros de tecnologia nos EUA e no Canadá”, afirma a nota da empresa.