Por que tantos profissionais de tecnologia foram demitidos nos últimos 5 anos
Por Claudio Yuge |

Nos últimos cinco anos, o mercado de tecnologia viveu um ciclo de extremos: da euforia da transformação digital acelerada pela pandemia à ressaca de cortes em massa, reestruturações e mudança de prioridades. O saldo? Centenas de milhares de profissionais desligados em um setor que até pouco tempo parecia imune a crises.
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Mas afinal, o que explica tantas demissões em um setor ainda em expansão global? O Canaltech analisou relatórios de consultorias, pesquisas de RH, levantamentos de investimentos e trackers de layoffs para entender as principais causas desse fenômeno.
Corte em massa e exigência de lucro
O primeiro fator é quase consensual entre especialistas: as empresas contrataram demais. Entre 2020 e 2021, a digitalização forçada pelo isolamento social inflou equipes de produtos digitais, nuvem e e-commerce. Startups e big techs ampliaram headcounts em ritmo acelerado, apostando em crescimento infinito.
Com o retorno da normalidade e a pressão por resultados, essa base inflada virou alvo fácil. Desde 2022, quando os juros subiram e o capital de risco minguou, iniciou-se um ajuste profundo. Demissões em massa, até hoje, são explicadas como “correções” dessa sobrecontratação.
A segunda onda veio das condições macroeconômicas. Inflação global, alta de juros nos EUA e queda nas rodadas de investimento empurraram o setor para uma nova lógica: sair do “crescimento a qualquer custo” para “rentabilidade agora”.
Startups que dependiam de rodadas constantes para sobreviver viram valuations despencarem e foram obrigadas a cortar custos. Gigantes, como Amazon, Google e Meta, também fizeram downsizing para preservar margens e sinalizar disciplina financeira a investidores.
Burnout e cultura tóxica
Nem todos os desligamentos foram impostos. Muitos profissionais pediram para sair, especialmente no auge da chamada Great Resignation em 2021 e 2022.
Pesquisas mostram que burnout, pressão excessiva e falta de suporte pesaram nas escolhas. Desenvolvedores e engenheiros repensaram prioridades, buscando mais qualidade de vida e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Outro dado que aparece com força nos relatórios é que, para além do salário, a principal razão de abandono voluntário foi a má gestão. Ambientes tóxicos, líderes despreparados e falta de perspectiva de crescimento se tornaram gatilhos poderosos de turnover.
Segundo estudos de recursos humanos, boa parte da rotatividade no setor tech poderia ter sido evitada com práticas básicas de liderança, feedback contínuo e planos de carreira bem definidos.
A revolução da IA e remuneração
Mais recentemente, a automação e a popularização da inteligência artificial entraram na equação. Empresas que adotaram inteligência artificial em larga escala passaram a reestruturar times, eliminando funções redundantes e priorizando competências ligadas a machine learning e ciência de dados.
Embora o impacto direto ainda seja inicial, já existem casos documentados de cortes justificados pelo avanço da automação. A tendência, segundo consultorias, é que esse fator cresça nos próximos anos.
Por fim, o fator clássico: salário e benefícios. Ainda que menos determinante do que cultura e gestão, a competição por profissionais qualificados segue acirrada. Muitas trocas de emprego aconteceram porque outras empresas ofereceram mais flexibilidade — sobretudo o trabalho remoto — e pacotes de remuneração mais atraentes.
O que aprendemos com cinco anos de instabilidade
De 2020 a 2025, o setor de tecnologia passou por um ciclo de maturidade forçada. As contratações desenfreadas mostraram que crescimento sem estratégia cobra um preço alto. A macroeconomia provou que até gigantes da inovação estão sujeitos às marés globais.
E, talvez mais importante: ficou claro que pessoas não são apenas “recursos”. Gestão ruim, burnout e falta de perspectivas corroem a base do setor mais rápido do que qualquer crise financeira.
No horizonte, a inteligência artificial promete eficiência, mas também pressiona profissionais a se atualizarem constantemente. Para empresas e trabalhadores, a lição é clara: inovação precisa andar de mãos dadas com responsabilidade e sustentabilidade — ou as demissões seguirão fazendo parte do script.
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