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Por que tantos profissionais de tecnologia foram demitidos nos últimos 5 anos

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senivpetro/Freepik
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Nos últimos cinco anos, o mercado de tecnologia viveu um ciclo de extremos: da euforia da transformação digital acelerada pela pandemia à ressaca de cortes em massa, reestruturações e mudança de prioridades. O saldo? Centenas de milhares de profissionais desligados em um setor que até pouco tempo parecia imune a crises.

Mas afinal, o que explica tantas demissões em um setor ainda em expansão global? O Canaltech analisou relatórios de consultorias, pesquisas de RH, levantamentos de investimentos e trackers de layoffs para entender as principais causas desse fenômeno.

Corte em massa e exigência de lucro

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O primeiro fator é quase consensual entre especialistas: as empresas contrataram demais. Entre 2020 e 2021, a digitalização forçada pelo isolamento social inflou equipes de produtos digitais, nuvem e e-commerce. Startups e big techs ampliaram headcounts em ritmo acelerado, apostando em crescimento infinito.

Com o retorno da normalidade e a pressão por resultados, essa base inflada virou alvo fácil. Desde 2022, quando os juros subiram e o capital de risco minguou, iniciou-se um ajuste profundo. Demissões em massa, até hoje, são explicadas como “correções” dessa sobrecontratação.

A segunda onda veio das condições macroeconômicas. Inflação global, alta de juros nos EUA e queda nas rodadas de investimento empurraram o setor para uma nova lógica: sair do “crescimento a qualquer custo” para “rentabilidade agora”.

Startups que dependiam de rodadas constantes para sobreviver viram valuations despencarem e foram obrigadas a cortar custos. Gigantes, como Amazon, Google e Meta, também fizeram downsizing para preservar margens e sinalizar disciplina financeira a investidores.

Burnout e cultura tóxica

Nem todos os desligamentos foram impostos. Muitos profissionais pediram para sair, especialmente no auge da chamada Great Resignation em 2021 e 2022.

Pesquisas mostram que burnout, pressão excessiva e falta de suporte pesaram nas escolhas. Desenvolvedores e engenheiros repensaram prioridades, buscando mais qualidade de vida e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Outro dado que aparece com força nos relatórios é que, para além do salário, a principal razão de abandono voluntário foi a má gestão. Ambientes tóxicos, líderes despreparados e falta de perspectiva de crescimento se tornaram gatilhos poderosos de turnover.

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Segundo estudos de recursos humanos, boa parte da rotatividade no setor tech poderia ter sido evitada com práticas básicas de liderança, feedback contínuo e planos de carreira bem definidos.

A revolução da IA e remuneração

Mais recentemente, a automação e a popularização da inteligência artificial entraram na equação. Empresas que adotaram inteligência artificial em larga escala passaram a reestruturar times, eliminando funções redundantes e priorizando competências ligadas a machine learning e ciência de dados.

Embora o impacto direto ainda seja inicial, já existem casos documentados de cortes justificados pelo avanço da automação. A tendência, segundo consultorias, é que esse fator cresça nos próximos anos.

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Por fim, o fator clássico: salário e benefícios. Ainda que menos determinante do que cultura e gestão, a competição por profissionais qualificados segue acirrada. Muitas trocas de emprego aconteceram porque outras empresas ofereceram mais flexibilidade — sobretudo o trabalho remoto — e pacotes de remuneração mais atraentes.

O que aprendemos com cinco anos de instabilidade

De 2020 a 2025, o setor de tecnologia passou por um ciclo de maturidade forçada. As contratações desenfreadas mostraram que crescimento sem estratégia cobra um preço alto. A macroeconomia provou que até gigantes da inovação estão sujeitos às marés globais.

E, talvez mais importante: ficou claro que pessoas não são apenas “recursos”. Gestão ruim, burnout e falta de perspectivas corroem a base do setor mais rápido do que qualquer crise financeira.

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No horizonte, a inteligência artificial promete eficiência, mas também pressiona profissionais a se atualizarem constantemente. Para empresas e trabalhadores, a lição é clara: inovação precisa andar de mãos dadas com responsabilidade e sustentabilidade — ou as demissões seguirão fazendo parte do script.

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