Nubank comenta demissões polêmicas e sindicato pede suspensão dos desligamentos
Por Claudio Yuge | •

O Nubank anunciou na semana passada uma nova fase de seu expediente, com retorno do trabalho presencial de forma híbrida, após cinco anos operando com equipes distribuídas e encontros trimestrais. Muitos funcionários ficaram descontentes, e, segundo a empresa, a demissão de 12 colaboradores aconteceu após uma reunião tensa em que teriam ocorrido "violações graves do código de conduta por parte de um grupo muito pequeno de indivíduos". O assunto escalou rapidamente para um embate entre a direção da fintrech e profissionais que protestam contra a postura da empresa e pedem a intervenção do Sindicato dos Bancários nesta segunda-feira (10).
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O CEO e fundador, David Vélez, enviou um e-mail interno para a equipe confirmando as demissões em tom de principal resposta oficial sobre o assunto. "Foi uma decisão difícil, mas nós impusemos um limite do que é desrespeito e agressão,” escreveu Vélez, de acordo com fontes ligadas aos bastidores da fintech.
O Nubank, por meio do seu Comitê de Conduta, analisou os casos individualmente e determinou a rescisão dos contratos dos 12 funcionários por justa causa. Em contato com o Canaltech no final da tarde desta segunda-feira (10), a fintech deu uma posição sobre o ocorrido. "O Nubank reafirma que trabalha para preservar canais e rituais abertos para o livre debate entre seus funcionários, mas não tolera desrespeito e violações de conduta. O Nubank não comenta casos individuais de desligamento."
De acordo com fontes de bastidoresda fintech, em suas comunicações internas, Vélez defendeu a transição gradual para o híbrido (dois dias presenciais a partir de julho de 2026, três dias em 2027) citando os "custos invisíveis" do trabalho 100% remoto, como a redução da produtividade coletiva, o caráter transacional das videochamadas e a dificuldade em manter a inovação em projetos ambiciosos totalmente remotos.
O comunicado sugere que, na nova fase, o modelo flexível de trabalho que ajudou o Nubank a prosperar e a crescer para 122 milhões de clientes teria atingido seu limite em termos de excelência operacional e engajamento cultural.
A assessoria de imprensa, em contato com o Canaltech, comunicou que a transição para o híbrido é uma evolução estratégica para o crescimento do Nubank, visando otimizar a cultura, a inovação e a excelência operacional. Já sobre a nova fase, a empresa diz que não se trata de o modelo remoto ter atingido seu limite, mas sim de buscar o melhor dos dois mundos para as ambições futuras da empresa. "Além disso, a companhia está oferecendo um período de transição de oito meses, auxílio-realocação e exceções para mitigar o impacto da mudança."
Sindicato cobra explicações e pede suspensão das demissões
Do lado dos trabalhadores, a reação foi imediata e organizada, por meio de três principais exigências:
- Suspensão cobrada: o Sindicato dos Bancários de São Paulo emitiu uma nota à Imprensa questionando as demissões e exigindo a suspensão imediata das dispensas;
- Aumento da escuta: o sindicato ampliou seu canal de relatos e informou que convocará uma reunião virtual para ouvir a categoria, especialmente aqueles que se sentiram pegos de surpresa pela decisão ou que moram longe dos escritórios;
- Cobrança por garantias: a entidade reforça que a transição deve ser feita com diálogo e que levará as demandas dos trabalhadores para a mesa de negociação, priorizando empregos, direitos e saúde.
A obrigatoriedade do presencial coincide com uma expansão física significativa da fintech. O Nubank está reformando escritórios e abrindo novas unidades e "hubs de talentos" em cidades estratégicas nas Américas e Europa, como Campinas, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Washington, Miami e Palo Alto.
No entanto, o requisito de morar a menos de 50 quilômetros de um escritório oficial para a maioria dos cargos reforçou a crítica de que a política é enviesada, prejudicando funcionários talentosos que foram contratados remotamente em outras regiões do Brasil (e do mundo) e que agora se veem diante da escolha de realocação (com auxílio oferecido pela empresa) ou desligamento.
A polêmica continua, enquanto o setor acompanha os próximos capítulos.
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