IA não é estratégia e velhas regras não funcionam mais, diz Aaron Ross
Por Guilherme Haas |

Aaron Ross, autor do best-seller "Receita Previsível", livro que se tornou um manual para a criação de "máquinas de vendas" em startups do Vale do Silício, declarou que as velhas regras não funcionam mais. Durante sua palestra no CRM Zummit, em Florianópolis, ele afirmou que a solução para a atual crise de resultados que afeta as empresas não virá da Inteligência Artificial, mas de um resgate de qualidades fundamentalmente humanas: relacionamentos, criatividade e intuição.
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O Canaltech acompanha o evento presencialmente a convite da Zoho Brasil.
Desafios atuais nas empresas
Ross iniciou sua fala reconhecendo um cenário de instabilidade global, onde as antigas práticas de marketing e vendas já não entregam os mesmos resultados. "As taxas de resposta caíram, clientes não aparecem para reuniões e os playbooks não funcionam como antes", disse, citando a instabilidade de talentos e os desafios de saúde mental como agravantes.
Segundo o autor, o problema fundamental não está na execução de tarefas, que ele define como a "ponta do iceberg" onde todos fixam sua atenção. O verdadeiro desafio está em duas camadas mais profundas e geralmente ignoradas: o atrito interno e o ruído mental.
O atrito interno, segundo ele, é a dificuldade crescente das equipes em trabalharem juntas, potencializada por diferenças geracionais, políticas e pelo modelo de trabalho remoto. Já o ruído mental é a raiz dos problemas, alimentado por uma cultura de "comparar e se desesperar" nas redes sociais e pela "síndrome do objeto brilhante", que leva a uma mudança constante de prioridades.
O papel da IA: amplificador, não salvador
Para o público de tecnologia, o ponto mais relevante da palestra foi sua visão sóbria sobre a inteligência artificial. Aaron Ross foi enfático ao afirmar que a IA não é a solução mágica que muitos esperam.
"A IA não está aqui para salvar o dia. IA não é uma estratégia", declarou. Ele comparou a ferramenta a um ingrediente de um bolo. "Você quer o bolo. A IA são os ovos. Você não consegue fazer o bolo sem ovos, mas não adianta comer apenas os ovos".
Para Ross, a principal função da IA será a de amplificadora. "Se você tem uma empresa problemática, a IA vai amplificar seus problemas. Se você sabe o que está fazendo, ela pode amplificar seu crescimento", explicou. Ele prevê que, assim como a internet, a IA se tornará onipresente e, por isso, deixará de ser um diferencial competitivo.
Quando todos tiverem superpoderes, ninguém terá superpoderes de fato", metaforizou Ross.
O futuro é humano
Diante de um cenário onde a tecnologia será uma commodity, Ross argumenta que o verdadeiro diferencial para os próximos anos virá de três pilares que a IA não consegue replicar com a mesma profundidade; são eles:
- Relacionamentos: a capacidade de criar conexões genuínas com clientes e entre as equipes.
- Criatividade: a habilidade de gerar ideias e soluções originais.
- Intuição: definida por ele como a "capacidade de tomar decisões apesar do que os dados estão dizendo". Para Ross, a IA é ótima para analisar o passado, mas a intuição humana é o que permite navegar no futuro.
A mensagem final foi um apelo para que líderes parem de se fixar em "qual é o novo template de e-mail" e comecem a questionar o que está bloqueando a execução em um nível humano e cultural.
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