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IA impulsiona "PIB" de US$ 10 trilhões do crime, diz ex-Microsoft Brasil

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Pedro Malamam / Pug’n’play
Pedro Malamam / Pug’n’play

A adoção massiva da inteligência artificial generativa, que colocou ferramentas como o ChatGPT nas mãos de mais de 1,5 bilhão de pessoas nos últimos meses, criou um paradoxo para o mercado: enquanto 92% das empresas já utilizam a tecnologia, a grande maioria de seus líderes de risco não se sente preparada para as ameaças que ela traz. O alerta foi feito por Tania Cosentino, ex-presidente da Microsoft Brasil e atual conselheira de empresas, durante sua palestra no CRM Zummit, em Florianópolis.

O Canaltech acompanha o evento presencialmente a convite da Zoho Brasil.

IA nas empresas e nas mãos dos criminosos

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Segundo a executiva, o entusiasmo com a IA gerou uma "feira de ciências" nas corporações, mas apenas 5% dos projetos estão conseguindo gerar resultados em escala.

Para ela, o motivo é a falta de uma base sólida. "Não recomendo que um projeto de IA seja colocado em prática sem três coisas: uma arquitetura de dados bem-feita, uma boa governança e uma fundação de cibersegurança".

O principal perigo, segundo Cosentino, é que a mesma tecnologia que empodera as empresas também turbina os criminosos. "A IA dá ao hacker velocidade, escala e sofisticação. Estamos vendo ataques de vishing, onde a voz de um executivo é clonada para pedir uma transferência, com vídeos e áudios facilmente copiáveis. Não podemos mais crer no que vemos e ouvimos".

Para dimensionar a gravidade do cenário, Tania Cosentino apresentou dados alarmantes. O crime cibernético já movimenta US$ 10 trilhões por ano, crescendo a uma taxa de 15% a 20% anualmente. "Se fosse um país, seria o terceiro maior PIB mundial, mais que o dobro do PIB da Alemanha. Estamos falando de um crime super organizado, que rende muito dinheiro e não tem ética".

Nessa guerra, a IA atua dos dois lados. Na defesa, permite o monitoramento de operações 24/7, identifica padrões suspeitos e filtra falsos positivos, reduzindo o burnout dos profissionais de segurança. No ataque, ela automatiza a busca por vulnerabilidades e torna a engenharia social mais eficaz.

Cosentino destacou a situação do Brasil, que figura entre os principais alvos de ataques de ransomware (sequestro de dados). O motivo, segundo ela, é cultural e perigoso:

"O Brasil paga o resgate. E isso é muito ruim, pois estamos alimentando o crime organizado", disse a executiva.
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Além do prejuízo financeiro e da paralisação do negócio — que pode levar até 100 dias para se recuperar —, as empresas enfrentam multas da LGPD e um dano reputacional que pode ser irreversível.

Em entrevista exclusiva ao Canaltech, Tania Cosentino reforçou que a solução não está apenas na tecnologia, mas na colaboração. "Segurança cibernética é um esporte de equipe. Não basta ter a melhor plataforma de segurança, você precisa que as pessoas estejam engajadas e bem treinadas, e de uma boa governança para orquestrar pessoas e ferramentas".

Cultura de segurança cibernética 

A executiva traçou um paralelo entre a segurança cibernética de hoje e a segurança física nas fábricas dos anos 70, quando era comum ver operários se arriscando em prensas sem proteção. A mudança, segundo ela, não veio apenas com novas regras, mas com a criação de uma cultura de segurança, liderada pelo topo da organização.

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"É exatamente isso que temos que fazer no mundo da segurança cibernética. Precisamos que cada colaborador, não importa a área, entenda os riscos", defendeu. Ela apresentou o conceito de "Secure by Design" (seguro por padrão), onde a segurança deve ser pensada desde a concepção de qualquer novo produto, campanha ou agente de IA.

Cosentino concluiu afirmando que a confiança é o novo capital no mundo digital:

"O cliente nos dá dados sensíveis e precisamos tratar isso bem. Se fizermos isso, a relação só tende a crescer. Não adianta achar que segurança é um tema de tecnologia. É um tema de negócio, um dos maiores riscos da nossa atualidade".

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