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Como as novas regras de exportação tecnológica da China acertam as big techs

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Donald Trump

A guerra tecnológica que o governo Trump vem impondo à China fez com que o país asiático começasse a reagir. E uma das medidas vem na forma de atualizações na lista de exportação de tecnologias que é controlada pelo governo chinês. E as últimas mudanças podem afetar uma ampla gama de indústrias e ainda fazer com que gigantes globais de TI tenham de separar suas operações chinesas do resto do mundo.

A nova lista de tecnologias sob controle de exportação, anunciada em 28 de agosto, traz uma surpresa indigesta para os EUA. Isso porque ela determina que os algoritmos de recomendação, como os usados pelo TikTok, controlado pela ByteDance, agora fazem da relação e são considerados "exportações parcialmente restritas".

Em outras palavras, para que as operações norte-americanas do TikTok sejam vendidas, como determina a ordem executiva de Trump, agora é preciso uma autorização do governo chinês. Logo, isso deve atrasar o processo de venda para além dos 90 dias dados pelo presidente americano para que o processo se concretize.

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A medida foi inicialmente vista como uma maneira fazer com que Pequim tenha a última palavra na venda do TikTok. No entanto, consultores de empresas chinesas e estrangeiras dizem que as consequências potenciais vão muito mais longe. Isso porque a nova lista de “exportações parcialmente restritas” inclui tecnologias de drones e cibersegurança, software de reconhecimento de voz e software de digitalização de manuscritos.

Novas regras

As empresas que buscam exportar as tecnologias chinesas citadas acima agora devem passar, primeiro, por avaliações e obter as aprovações do Ministério do Comércio e do Ministério da Ciência e Tecnologia da China. "As regras foram uma surpresa para muitos no mercado e há muita tensão no espaço de tecnologia no momento”, disse Alex Roberts, um consultor jurídico do escritório de advocacia Linklaters em Xangai, à agência de notícias Reuters.

As revisões promovidas pelo governo chinês também podem afetar um grupo de empresas multinacionais que conduzem pesquisa e desenvolvimento na China, acrescenta Nicolas Bahmanyar, consultor sênior de segurança cibernética do escritório de advocacia LEAF em Pequim. “É muito provável que uma empresa com centros de Pesquisa & Desenvolvimento na China tenha de enfrentar uma escolha - manter seu centro de P&D no país, mas apenas focado no mercado local, ou deixar a China para que possam usar a tecnologia que desenvolveram em qualquer lugar do mundo”, disse ele.

Depois da atualização da lista de exportações de tecnologias chinesas, o ministério do Comércio daquele país foi rápido em responder às especulações de que as novas regras visavam principalmente a TikTok. As autoridades afirmaram que os updates não tinham como alvo nenhuma empresa.


No entanto, advogados especializados que analisaram as mudanças de perto dizem que seu amplo escopo significa que as novas regras podem atingir uma ampla gama de empresas em diferentes setores de negócios. Isso inclui possíveis mudanças estratégicas de empresas como a Microsoft, a fabricante de drones SZ DJI, a plataforma de streaming de vídeo Zoom e até mesmo a gigante chinesa Tencent, que exporta jogos em todo o mundo e tem um rápido crescimento de seus negócios no setor de serviços em nuvem também no exterior.

Uma fonte da Tencent, que tem uma série de subsidiárias e investimentos em empresas fora da China, afirmou a Reuters que a empresa estava aguardando um esclarecimento sobre o que as regras significariam para o compartilhamento de tecnologia com essas unidades.

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“Em geral, isso impactará os negócios internacionais das empresas chinesas, principalmente envolvendo aquelas que fornecem serviços internacionais”, disse Raymond Wang, sócio-gerente do escritório de advocacia Anli Partners em Pequim. A Zoom, por exemplo, emprega cerca de 500 pessoas na China, como engenheiros trabalhando no desenvolvimento de produtos. Já a Microsoft abriga a Microsoft Research Asia em Pequim, que tem sido a origem de vários avanços em Inteligência Artificial.

“Em geral, fica claro, pela reação do mercado, que várias empresas com operações na China continental devem pensar muito [sobre o impacto das novas regras em seus negócios]”, disse Roberts, da Linklaters.

Resposta a Trump

O endurecimento das regras de exportação de tecnologias chinesas vem como uma resposta de Pequim ao governo de Donald Trump, em guerra aberta contra a China quando o assunto é Tecnologia (e comércio).

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Além da TikTok, o presidente dos EUA também emitiu uma ordem que proibiria transações com o WeChat, controlado pela Tencent. No entanto, com o superapp de mensagens, o banimento pode se mostrar algo bem mais complicado para os EUA. O WeChat é uma espécie de faz-tudo da população chinesa em seu dia a dia, já que integra uma infinidade de serviços. E um smartphone na China que não traga esse superapp perde muito de sua utilidade no país. E isso, claro, impacta diretamente uma das principais empresas norte-americanas: a Apple.

Isso porque entre um iPhone sem o WeChat e um smartphone que traga o aplicativo, os chineses vão com a segunda opção. Ou seja, a Apple deixará de vender seus aparelhos no país asiático, bem como perderá receitas envolvendo a App Store. E hoje, a China é o terceiro maior mercado da Maçã, representando quase 20% do seu faturamento.

Tamanho pode ser o prejuízo que, para o analista Ming-Chi Kuo, especializado em Apple, um eventual banimento do WeChat na App Store chinesa poderia provocar uma queda de até 30% nas vendas globais do iPhone, além de 25% em outros dispositivos da marca.

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Para completar o cenário, um eventual banimento do WeChat também pode atingir outras empresas que têm negócios com a China. Companhias como Tesla, NikeAmazon, Ford, Starbucks, entre outras, também verão seu faturamento comprometido. Isso porque muitas delas usam os mini programs, sub-aplicações executadas dentro do ecossistema do WeChat, que funcionam como minilojas virtuais. E caso o WeChat seja banido do iPhone, eles deixarão de comercializar seus produtos e serviços em 228 milhões de aparelhos da Maçã que estão ativos em território chinês.

Logo, até que os usuários decidam trocar o iPhone por outro aparelho, são vendas que essas companhias deixam de fazer, até porque o dinheiro em espécie é algo praticamente extinto na China - e os cartões de crédito seguem pelo mesmo caminho.

E essa guerra não começou exatamente contra os apps como WeChat e TikTok, mas sim na corrida pela supremacia do 5G, onde outra empresa chinesa, a Huawei, vem liderando. Sob a acusação - nunca provada - de que a fabricante vem usando sua infraestrutura para enviar dados dos cidadãos dos EUA para o governo chinês, Trump baniu os equipamentos da Huawei do país - principalmente aqueles que formarão a rede 5G em seu território. De quebra, ele vem pressionando para que nações aliadas façam o mesmo - o Reino Unido, por exemplo, já aderiu ao movimento, bem como Portugal e Espanha.

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Para além do 5G, Trump também atacou a divisão de smartphones da Huawei, hoje a segunda maior fabricante do planeta, atrás apenas da Samsung - e à frente da Apple. Para atingi-la, o Departamento de Comércio norte-americano, criou em maio restrições com o objetivo de impedir que a fabricante chinesa obtenha semicondutores sem uma licença especial - e isso inclui chips feitos por empresas estrangeiras, mas que foram desenvolvidos ou produzidos com software ou qualquer outra tecnologia criada nos EUA.

Já no último dia 17 de agosto, o governo de Donald Trump apertou ainda mais as medidas restritivas anunciadas em maio. O Departamento Comércio norte-americano acrescentou 38 afiliadas da Huawei em 21 países à lista suja econômica do governo dos EUA, em resposta às supostas tentativas da fabricante de obter os chips disponíveis comercialmente se passando por terceiros. Com isso, já são 152 afiliadas desde que a gigante chinesa foi adicionada pela primeira vez à lista suja em maio de 2019.

As restrições existentes nos EUA já tiveram um forte impacto sobre a Huawei e seus fornecedores. No último dia 8 de agosto, o site chinês especializado em economia Caixin informou que a fabricante chinesa vai parar de fabricar seus chipsets Kirin já em setembro.

Fonte: Reuters