Braço robótico em game, IA na educação e varejo: as lições do REC'n'Play 2025
Por Anaisa Catucci | •

O festival de tecnologia e inovação REC'n'Play 2025, que celebra os 25 anos do Porto Digital, trouxe para o Bairro do Recife debates e inovações envolvendo temas como o futuro da tecnologia e da educação.
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Com mais de 700 atividades gratuitas que vão até sábado (18), o evento colocou a Inteligência Artificial (IA) no centro das discussões, tanto na prática, com a apresentação de um "professor virtual", quanto na teoria, com as provocações do historiador Leandro Karnal, que marcou presença em uma das atividades de destaque da abertura.
Consolidado como um dos maiores eventos do setor no país, o REC'n'Play destacou logo em sua abertura na quarta-feira (16) a alta tecnologia aplicada e a inovação com foco em mercado e formação.
Na Arena da Inovação, o público pôde conferir o avanço da robótica, com equipamentos como um braço robótico que disputa jogos, e uma máquina desenvolvida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que utiliza IA e visão computacional para fazer uma "leitura" emoções humanas e até mesmo um professor com IA para fornecer suporte 24 horas por dia aos alunos por meio do WhatsApp.
O domínio da IA é humano, não da máquina
O ponto alto das reflexões sobre o futuro tecnológico coube ao historiador, professor e escritor Leandro Karnal, que lotou o auditório É do Povo, no Cais do Sertão. Em um ambiente que respira algoritmos, Karnal falou sobre ética e capacidade cognitiva.
"O futuro não será dominado pela IA, mas pelas pessoas que a dominam. E, nesse sentido, devemos compreender que o conhecimento não é neutro. Ele continua reproduzindo as próprias pessoas que o elaboram. Ou seja, eu não tenho medo de IA. Eu tenho medo das pessoas", disse.
A crítica se estendeu ao modelo de formação. Karnal defendeu que a criatividade é a grande habilidade do futuro, assim como a importância de um exercício de ética digital alinhada à analógica.
"Hoje, as escolas se baseiam numa formação muito normativa, focada na disciplina e na ordem. Então, é necessário um processo de transformação para que possamos ampliar nosso repertório", destacou.
IA, negócios e o varejo do futuro
O foco no mercado foi evidente na Arena de Negócios e na conferência TDC (The Developer's Conference), um evento de tecnologia e inovação focado em desenvolvimento de software, que ocorre dentro da programação do festival.
As discussões envolveram fundadores de startups, desenvolvedores e estudantes. Um dos debates, mediado por Silvio Meira, cofundador do Porto Digital, foi abordado como empreender é uma jornada de tentativas e erros, sendo fundamental discutir os tropeços para o amadurecimento do ecossistema.
Outro painel discutiu o protagonismo do ecossistema local, com o engenheiro-urbanista e consultor em estratégias de inovação Cláudio Marinho destacando que o sucesso de uma startup depende crucialmente do ecossistema no qual está inserida, como é o caso da empresa em que participou da fundação, a Porto Digital.
As empresas tradicionais também mostraram como a IA está redesenhando suas estratégias. Marcas centenárias como Magalu, Grupo Cornélio Brennand e Pitú, além do Shopping Difusora, compartilharam o uso de agentes inteligentes na construção de personas e companhias.
A The Developer's Conference (TDC), realizada dentro do festival, abordou trilhas com palestras sobre dados, cloud e inovação.
Inclusão e formação como eixos da transformação
Coincidindo com o Dia do Professor, painéis trouxeram professores renomados para debater a união entre ensino e tecnologia. Especialista em educação de matemática, Luciano Meira, e a professora Fernanda Bérgamo ressaltaram que as novas tecnologias são ferramentas formadoras e aliadas, mas que o professor é a "principal plataforma" para a construção do conhecimento. O festival ofereceu, inclusive, entrada prioritária para os educadores.
Em um debate sobre inclusão no novo Espaço Porto+, o ativista Ivan Baron e a presidente do movimento Mães da Resistência, Gi Carvalho, destacaram que a inovação só é completa quando é plural, e que a mudança social depende do afeto e da ação, reforçando que a inclusão deve ir além de gestos simbólicos.
Dando continuidade aos debates sobre educação, o Movimento LED, da TV Globo, promoveu um encontro com profissionais da área. Com mediação da jornalista Mônica Silveira, o bate-papo reuniu a mestra em cultura popular Imaculada Salustiano, o professor de geografia, mestre em educação e ex-BBB João Luiz Pedrosa, e a professora paraibana Patrícia Rosas, vencedora do Prêmio LED.
Neste painel, o professor de geografia João Luiz Pedrosa abordou o tema da internet como serviço básico e a desigualdade no acesso. Ele alertou que, embora a internet seja essencial para acessar serviços do governo (como auxílio e Bolsa Família), o acesso pleno não é democrático no Brasil, pois muitos têm apenas um acesso básico e limitado.
João destacou que a pandemia evidenciou essa desigualdade na educação e ressaltou que a questão não é só estar conectado, mas saber usar as plataformas, filtrar informações e dominar as ferramentas digitais. Por fim, defendeu a necessidade de políticas públicas e adaptação das escolas para essa realidade, considerando as diferenças regionais e a zona rural.
A professora paraibana Patrícia Rosas defendeu que a docência exige coragem para enfrentar desafios e resistências. Ela argumentou que amor e vocação não são suficientes e que o professor precisa de uma formação sólida e constante (pós-graduação, especialização). Além disso, ela defendeu que professores incompetentes prejudicam o aprendizado dos alunos, e que o mundo "não tolera amadorismo na educação", enfatizando a necessidade de qualidade na educação.
Já a mestra em cultura popular, Imaculada Salustiano, falou sobre a importância da cultura popular e tecnologia, salientando que a cultura se mantém viva graças a pessoas dedicadas e que a internet é uma ferramenta importante para isso.
No entanto, ela levantou os desafios do acesso, mostrando que muitos mestres da cultura popular, especialmente no interior e zonas rurais, não têm acesso à internet e às novas tecnologias. Imaculada alertou para o perigo das representações erradas ou superficiais da cultura popular na internet e a importância da autenticidade cultural, e incentivou a valorização dos mestres locais e o aprendizado direto com eles para realmente conhecer e preservar a cultura.
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