A camada de ozônio deve apresentar recuperação total até 2066 — mas há um porém
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Na última terça-feira (16), Dia Mundial do Ozônio e marco dos 40 anos da Convenção de Viena, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um boletim que trouxe boas notícias: a camada de ozônio da Terra está em processo de recuperação e pode voltar aos níveis da década de 1980 nas próximas décadas.
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O relatório mostra que o buraco sobre a Antártida em 2024 foi menor do que nos anos anteriores, sinalizando uma tendência positiva. No entanto, apesar do otimismo, especialistas alertam que ainda é preciso cautela e vigilância constante.
Convenção de Viena e Protocolo de Montreal
A recuperação da camada de ozônio não aconteceu por acaso. O avanço é resultado direto da cooperação internacional iniciada em 1985 com a Convenção de Viena e fortalecida em 1989 com o Protocolo de Montreal.
Esse acordo internacional determinou a eliminação gradual das substâncias que destroem o ozônio, como os clorofluorcarbonetos (CFCs), usados em sistemas de refrigeração, sprays aerossóis e espumas. Graças a essa ação conjunta, mais de 99% dessas substâncias nocivas já foram eliminadas do mercado global.
Como consequência, os cientistas projetam que a camada de ozônio deve se recuperar até 2040 no restante do mundo, até 2045 no Ártico e até 2066 na Antártida.
Benefícios diretos para a saúde e o meio ambiente
A restauração da camada de ozônio traz impactos concretos para a vida humana e para os ecossistemas. A proteção contra a radiação ultravioleta (UV) excessiva reduz riscos de câncer de pele, catarata e enfraquecimento do sistema imunológico.
Além disso, ecossistemas terrestres e aquáticos também se beneficiam, já que a radiação UV em excesso afeta plantas, fitoplâncton e toda a base da cadeia alimentar. Essa recuperação também se conecta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, incluindo saúde e bem-estar (ODS 3), ação climática (ODS 13), vida terrestre (ODS 15) e até mesmo segurança alimentar (ODS 2).
O “porém”: a necessidade de vigilância contínua
Apesar dos avanços históricos, os especialistas reforçam que o trabalho está longe de ser concluído. Como destacou Matt Tully, presidente do Grupo Consultivo Científico da OMM sobre Ozônio e Radiação UV:
Apesar do grande sucesso do Protocolo de Montreal nas décadas seguintes, este trabalho não está concluído, e ainda há uma necessidade essencial de que o mundo continue monitorando sistematicamente e cuidadosamente tanto o ozônio estratosférico quanto as substâncias que destroem a camada de ozônio e seus substitutos.
Isso significa que o monitoramento global precisa continuar. Sem ele, não seria possível garantir que os avanços obtidos não sejam revertidos.
Outro ponto crucial é a Emenda de Kigali, firmada em 2016 e já ratificada por 164 países. Ela prevê a redução gradual dos hidrofluorcarbonetos (HFCs), usados como substitutos dos antigos CFCs. Embora não destruam a camada de ozônio, os HFCs são gases de efeito estufa extremamente potentes. Sua eliminação pode evitar até 0,5°C de aquecimento global até o fim do século, um ganho fundamental na luta contra a crise climática.
O boletim da OMM mostra que a recuperação completa da camada de ozônio até 2066 é possível, mas depende de compromisso contínuo, responsabilidade global e, acima de tudo, da confiança na ciência.
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