Análise | Weedcraft Inc. vem para salvar

“É, você não está vendo / Que a boca tá assim de corujão / Tem dedo de seta adoidado / Todos eles afim de entregar os irmãos / Malandragem dá um tempo / Deixa essa pá de sujeira ir embora / É por isso que eu vou apertar / Mas não vou acender agora” DA SILVA, Bezerra - Malandragem Dá Um Tempo

Administrar uma plantação de maconha (e uma boca de fumo) definitivamente não é algo fácil. Saber escolher a melhor semente, equilibrar componentes do solo, temperatura e humidade para manter a qualidade do produto e ainda atender à expectativa dos consumidores (também em relação ao preço), ao mesmo tempo que disputa espaço com outros traficantes, lida com agentes da Lei e mudanças na legislação…

Tudo isso aprendi com Weedcraft Inc, desenvolvido pela Vile Monarch e distribuído pela Devolver Digital. O jogo, um simulador voltado para a administração de recursos, está sendo lançado globalmente nesta quinta-feira (11) exclusivamente na Steam.

A primeira vista, Weedcraft Inc pode parecer um jogo zoeiro sobre maconha, com algumas piadas e brincadeiras com o estereótipo de maconheiro. Mas não é. É um estudo sobre os aspectos financeiros, políticos e culturais do cultivo e venda de derivados de plantas do gênero Cannabis.

São dois modos história: um regular e um avançado. No primeiro, o jogador encarna um estudante de MBA em Administração do estado de Michigan que tem de trancar a faculdade depois do falecimento do pai. Em Detroit, ele encontra seu irmão com fama de “doidão” e descobre que, nos últimos anos de vida, seu pai fez uso de maconha medicinal – fornecida pelo tal irmão. A partir daí, os dois se juntam para abrir um negócio de cultivo e venda de marijuana.

Esse modo é o mais cadenciado e conduzido por tutoriais. Aliás, o jogo todo é bem episódico, com vinhetas marcando sua evolução de pequeno traficante a empreendedor no ramo da ganja. O começo é pequeno, num porão com três vasos e uma lâmpada, mas logo você estará brigando por bocas de fumo no mercado local e subornando policiais para não ver seus funcionários presos.

O modo avançado conta a história de um ex-presidiário californiano que ficou 15 anos em cana por tráfico só para sair e ver que o cigarrinho do artista agora é liberado. Esse modo de jogo tem bem menos condução da história e você é livre para tomar a maior parte das decisões.

“Enquanto uns choram, outros vem e os devoram / O meu pensamento não é como o seu / Tabaco ou maconha, o que te envergonha? / Eu não sou menos digno porque fumo maconha” D2, Marcelo; CRESPO, Rafael – Mantenha o Respeito

Tanto o modo avançado quanto o regular são conduzidos ainda por um sistema de moralidade, no qual suas decisões afetam os acontecimentos. Você pode ir pelo lado “bom”, onde boa parte do que faz ainda (especialmente no início) é ilegal, mas investe em pesquisa médica e trata seus aliados e concorrentes com lealdade. Ou ser um inescrupuloso, subornar policiais, chantagear seus adversários e não pagar os salários dos seus funcionários.

Funcionários esses que serão essenciais para a mudança de perspectiva do jogo. Nas primeiras rodadas você faz tudo: irriga e poda os pés de maconha, colhe e vende. Além disso, é importante para a qualidade da massa que você controle os níveis de Nitrogênio, Fósforo e Potássio no solo, além de temperatura e humidade. Na boca, você controla o preço do dólar baseado na qualidade e na expectativa do público-alvo (estereótipos como “doidão”, “atletas”, “mendigos”, e etc.). Esse é o microgerenciamento.

Quando o jogo te permite contratar funcionários, você pode passar para o macrogerenciamento. Seus parceiros podem cuidar dessa parte mais mecânica, enquanto você passa a ter outras preocupações, como as relações interpessoais (com aliados e concorrentes), pesquisas para desenvolver novas cepas de cannabis e as mudanças da legislação vigente na cidade/estado em que você está.

Esse é um aspecto importante, que reflete algumas das mudanças em que os próprios Estados Unidos estão passando – particularmente nas diferenças entre a legislação federal e a estadual.

“Eu não vim pra me curvar / Eu vim para conquistar / Fogo na Babilônia” ISRAEL, Shalon – Cabeça de Gelo

Mais uma vez: Weedcraft Inc não é um jogo fácil. Não se assuste se tiver de reiniciar a história algumas vezes depois de levar seu pequeno negócio à falência. Há muito a se aprender e detalhes fazem a diferença, então é bom não ter pressa no começo: acenda o cachimbo da paz e relaxe. Mas ele conta com uma mecânica bem desafiadora, que te leva a querer ter mais sucesso, fazer um produto melhor e destruir sua concorrência usando as mais variadas táticas.

A arte de Weedcraft Inc é muito bem feita. O design dos personages e das locações e objetos é um estilo cartunesco, mas maduro. Lembra GTA quando usava mais desenhos do que computação gráfica, nos primeiros anos. A trilha, embora repetitiva, está dentro do clima do jogo – uma coisa meio gangsta lounge, variando bem pouco a batida.

O ponto negativo vai para a tradução, que embora na maior parte do jogo é razoável, em alguns momentos pode ficar bizarra ou até atrapalhar. Exemplo: “Enter Grow Room”, que seria “entrar na sala de cultivo”, virou “inserir sala de cultivo”. Esse é o caso bizarro. Outro exemplo: para realizar algumas das ações, é preciso segurar o botão do mouse. Mas “hold to buy this perk”, na tela de upgrades, virou “aguarde para comprar esse benefício”. Nesse caso atrapalha, pois o jogador pode achar que o benefício ainda não está disponível para compra.

Weedcraft Inc está disponível para PC via Steam. No Canaltech, o jogo foi testado com uma cópia cedida gentilmente pela Devolver Digital.