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Vivemos rodeados de Fake News

Por| 27 de Novembro de 2019 às 07h20

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Outro dia falava com estudantes universitários interessados em aprender mais sobre o setor das telecomunicações na América Latina. O grupo era ameno e me dava a impressão de ser muito unido. Eram 3 mulheres jovens e dois homens mais ou menos da mesma idade.

Uma das perguntas que me chamou a atenção foi em qual década esperávamos que acabaria a pobreza na América Latina, já que eles estavam ouvindo de representantes da indústria, vendedores e muitos funcionários públicos que a adoção de novas tecnologias estava acelerando. Isto, somado ao discurso de numerosos especialistas do setor privado e do governo, acaba impactando diretamente no crescimento econômico do país.

Eu fiquei com a impressão de que eles entendem e acreditam que todas as mudanças impactantes apontadas pelos meios de comunicação, como é o caso da transformação digital levaria questão de meses ou anos, ao invés de numerosas décadas, como é o caso. Outro assunto impactante é enquanto liam algumas das principais vozes da região sobre o setor TIC, lhes parecia curioso que todas as previsões eram de crescimento e positivas. Estas citações eram igualmente válidas para México, Venezuela, Haiti ou Chile.

Por sua vez, um deles me pediu para contar um pouco mais sobre o que era o espectro radioelétrico e o porquê de sua importância. Parecia que, cada vez que alguém lhes falava que a 5G será disruptiva, desconsideravam-se as condições que uma localidade precisa ter para receber uma nova tecnologia, de modo que ela se desenvolva e possa ter um desempenho dentro das expectativas.

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Minhas recomendações foram várias, entre elas pesquisar mais a fundo as fontes originais. É impossível analisar um setor baseado somente em algumas notícias, é imperativo que o saber complementar, encontrado majoritariamente em livros, é necessário para obtenção de boas análises – sempre com um envolvimento holístico para não ser acusado de não ver o filme completo.

Como anedota lhes contei que há pouco mais de dez anos, quando analisava mercados e trabalhava como consultor, realizei uma análise única para vários mercados. Nesta época, a grande maioria dos governos não publicava informação estatística porquê a empresa revisada tinha a liberdade de dizer em cada mercado quantos usuários possuia. Minuciosamente, ao coletar todos os anúncios de executivos dos distintos mercados locais, percebi que divulgavam o número de usuários. Uma vez que conclui a análise, busquei na SEC dos Estados Unidos os relatórios oficiais da bolsa financeira desse país.

O resultado foi interessante: enquanto a compilação de usuários declarada pelos representantes da empresa em cada mercado me dava quase cerca de 50 milhões de usuários, o relatório das autoridades federais da EEUU admitia a existência de menos de 10 milhões. Ficaram perplexos, não podiam crer no que diziam.

Como entender o que acontece? O mais importante é estudar e estar atento. Conhecer não apenas a tecnologia, mas economia, finanças, direito e política. Muita política para saber quando a vergonha local entre funcionários de governo mata um plano de desenvolvimento TIC que beneficiaria milhares de pessoas. Também lhes disse que tenham cuidado com quem sai pela vida dando flores até a sombra de um espelho, pois quem elogia a todos é impossível manter um discurso coerente e responder uma mesma pergunta de forma conveniente e que fique bem.

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Uma das meninas reage e me diz: mas o setor está cheio de charlatães? Eu disse que não, são apenas os que mais fazem barulho, porque geralmente têm um bolso cheio para deturpar. Não é mais necessário provar que algo é verdadeiro ou falso, com a semeadura da dúvida é suficiente.

“Vivemos rodeados de Fake News”, conclui a outra jovem. Sim, por isso é tão importante estudar, pesquisar e estar bem informado.

*Esta coluna é escrita em caráter pessoal.