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Na Coreia do Sul, mulheres protestam contra gravação secreta de imagens íntimas

Por| 15 de Agosto de 2018 às 11h29

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Korea Exposé
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As ruas de Seul, capital da Coreia do Sul, foram tomadas por mais de 70 mil mulheres em um grande protesto contra a proliferação do molka, um gênero de pornografia que consiste em gravar imagens íntimas de forma secreta e sem autorização. O movimento, cujo principal slogan era “meu corpo não é seu pornô”, foi promovido pela Marcha das Mulheres por Justiça e pede medidas mais drásticas do governo contra a obtenção e distribuição desse tipo de material.

A publicação de conteúdo pornográfico é proibida na Coreia do Sul, mas isso não impediu a disseminação do molka, um gênero que também é bastante popular em outros países da Ásia. Usando câmeras escondidas e outros aparatos, os criadores desse tipo de conteúdo realizam filmagens em banheiros públicos, vestiários, provadores e até no transporte público, com as imagens sendo gravadas sob a saia das mulheres. As imagens são compartilhadas em sites pornográficos, mensageiros e até em redes sociais como o Tumblr, por exemplo.

O problema assumiu tal proporção que muitas delas passaram a utilizar máscaras em locais públicos suscetíveis a esse tipo de captura, como forma de, pelo menos, proteger suas identidades caso sejam vítimas do molka. Essa proteção também virou negócio, com “kits anti-molka” sendo vendidos por a partir de US$ 10, cerca de R$ 40, e incluindo também adesivos, ferramentas para destruir câmeras e tubos de silicone para cobrir buracos nas paredes.

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As autoridades já tomaram algumas medidas contra a prática, mas, para as mulheres que foram as ruas, foi pouco. Uma lei vigente na Coreia do Sul, por exemplo, obriga as fabricantes a impedirem o silenciamento do som do obturador da câmera digital, emitido sempre que uma fotografia é tirada com o aparelho. Seria uma forma de inibir os responsáveis, não fosse, ao mesmo tempo, a proliferação de apps que burlam esse impedimento, ao mesmo tempo em que muitos dos criadores contumazes desse tipo de material não usam celulares para capturar as imagens.

Os dispositivos preferidos são as câmeras espiãs, pequenos aparelhos que podem ser acoplados ao tênis, chaveiro, carteira ou óculos. Nas piores hipóteses, eles também podem ser ocultados atrás de espelhos, em buracos nas paredes ou outros locais que tenham visão privilegiada sobre momentos de vulnerabilidade.

Além disso, equipes especiais de polícia são dedicadas a combaterem essa prática, realizando investigações sobre quem cria e compartilha tais conteúdos, bem como averiguando denúncias sobre locais públicos que possam ter câmeras ocultas. Ainda assim, para as mulheres da Coreia do Sul, é pouco, pois tais atitudes não estão sendo capazes de conter o problema.

As participantes do protesto estavam, em sua maioria, mascaradas, em uma atmosfera descrita como “intensa” e “poderosa” pelos jornais locais. Foi o maior protesto feminino já realizado na história do país, com até mesmo a imprensa atendendo aos pedidos de enviar somente mulheres para realizar a cobertura – nem todas as redes de TV puderam atender ao pedido, por só possuírem operadores de câmera homens, por exemplo. A polícia, também, não tinha contingente do gênero suficiente para garantir a segurança das manifestantes, duas situações que, também, foram citadas pelas organizadoras como problemas.

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O protesto foi pacífico, apesar da presença de grupos contrários à causa, formados majoritariamente por homens, que gritavam palavras de ordem e tentavam ofender as manifestantes durante os protestos. A Marcha das Mulheres pela Justiça também relatou ameaças recebidas antes e durante os protestos, com mensagens em redes sociais ameaçando usar ácido para atacar manifestantes ou divulgar fotos íntimas daquelas favoráveis à causa.

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A reação do governo veio menos de 24 horas depois da marcha, realizada em 4 de agosto. No dia seguinte, a administração federal ordenou a criação de novos times de monitoramento contra a prática, desta vez, voltados a estações e sistemas de transporte coletivo, como estações de trem, metrô e aeroportos, além de intensificar e garantir maior financiamento às equipes voltadas à realização desse trabalho em banheiros, vestiários e outros locais públicos.

A instalação permanente de câmeras será dificultada pela realização constante de batidas e vigilância, com os locais atendidos por essa iniciativa recebendo um selo de “seguro”. Além disso, o governo promete aumentar as penalizações para quem for flagrado criando conteúdo dessa categoria ou compartilhando imagens, com as mudanças ainda não tendo sido anunciadas.

Hoje, os acusados desse tipo de prática enfrentam multas de até US$ 9 mil, além de estarem sujeitos a penas de prisão que podem chegar a até cinco anos. De acordo com os dados do governo, 6,4 mil denúncias de molka foram registradas em 2017, mas, segundo as organizadoras da marcha, no ano anterior, apenas 3% dos indiciados efetivamente chegaram a sofrer as penas previstas em lei.

Fonte: The Next Web