Julian Assange é condenado a 50 semanas de prisão por violar condicional
Por Rafael Arbulu | 01 de Maio de 2019 às 11h29
O ex-jornalista e principal ativista do site WikiLeaks, Julian Assange, foi condenado a 50 semanas de prisão por violar os termos de sua fiança, quando fugiu para a embaixada do Equador em Londres a fim de se preservar das acusações de crimes sexuais que sofria na época. O caso, ocorrido em 2012, não deve ser a única sentença imposta a Assange, que também enfrenta acusações de conspiração internacional por sua participação no WikiLeaks, que se tornou notório ao vazar documentos sigilosos do governo norte-americano, relacionados a programas de espionagem e má conduta do Exército nos confrontos do Iraque e Afeganistão.
Na noite de ontem, 31 de abril, Assange apareceu na Corte de Southwort Crown de Londres para enfrentar essa acusação, de acordo com o jornal norte-americano Washington Post. Na sessão, o seu advogado, Mark Summers, alegou que a fuga se deu pelo medo de seu cliente ser extraditado aos Estados Unidos e potencialmente encarcerado na Baía de Guantánamo, uma estrutura prisional de segurança máxima que os EUA mantém em solo cubano, conhecida por ser ponto de prisão para terroristas.
A prisão de Guantánamo Bay é comumente referida como violadora dos direitos humanos, segundo a Anistia Internacional, que acusa a estrutura prisional dos EUA de promover torturas frequentes aos presos, além de deixá-los encarcerados indefinidamente. Os EUA nunca responderam a essas alegações e algumas campanhas presidenciais usam desse estigma para angariar votos, prometendo fechar a prisão. Até hoje, porém, ninguém fez isso.
“Assange ainda temia por ‘sequestro’ promovido pelos Estados Unidos”, continuou Summers, que também disse à corte que seu cliente “vivia dominado por um medo de rendição forçada", pouco importando "se seus medos eram ou não fundamentados”.
Uma carta escrita de próprio punho por Julian Assange foi lida em voz alta para os membros da corte. Nela, o ativista “se desculpava profundamente” pela busca de refúgio na embaixada equatoriana: “Eu me vi lutando contra circunstâncias terríveis. Eu fiz o que achei, na época, ser a melhor e única solução disponível”, dizia a carta.
Julian Assange foi preso em 11 de abril e, em retaliação, o WikiLeaks liberou na internet todos os documentos de sua base de dados até a data.
As acusações de crimes sexuais referem-se a uma viagem que Assange fez à Suíça, anos atrás. Segundo os autos, duas garotas de programa formalizaram acusação de estupro contra o ex-jornalista, que teria feito sexo com ambas sem preservativos: na Suíça, transar sem camisinha é considerado crime de estupro diante do não consentimento de qualquer parte envolvida na relação. A acusação foi descontinuada pelo país em 2017, mas depois da prisão de Assange, em abril deste ano, eles consideram reabrir a investigação.
Disso, vinha o principal medo do ativista: embora a Suíça tenha abolido a prática da pena de morte em 1942 (sua última execução foi durante a Segunda Guerra Mundial), o país escandinavo possui acordo de extradição com os Estados Unidos, onde a pena capital ainda é vigente e pode ser aplicada em caso de estupro, dependendo das conclusões jurídicas. Devido ao seu envolvimento com o WikiLeaks e o vazamento de documentos oficiais americanos, Assange temia que ambas as acusações poderiam ser usadas como motivo para que ele tivesse a sua morte sancionada no país.
Julian Assange viveu durante sete anos dentro da embaixada do Equador em Londres onde, embora proibido de sair sob o risco de ser capturado de imediato, recebia visitas ocasionais. Sua salvaguarda acabou com a mudança do governo do Equador: o ex-presidente Rafael Correa, simpático a Assange, deixou o cargo, que acabou assumido por Lenín Moreno, que ordenou a saída do ativista da embaixada.
Pouco depois de sua prisão, o governo dos Estados Unidos declarou ter indiciado Assange por conspiração internacional e terrorismo, alegando sua participação em conjunto com a ex-soldado do exército americano, Chelsea Manning, no vazamento de documentos militares secretos.
A equipe de defesa de Assange disse que vai combater a extradição aos EUA.
Fonte: Washington Post