Internet Archive arquiva trilionésima página e respira aliviado: "Sobrevivemos”
Por João Melo • Editado por Melissa Cruz Cossetti | •

Outubro ganhou um marco para a internet: foi o mês que o Internet Archive atingiu a marca de um trilhão de páginas da web arquivadas. “Sobrevivemos”, declarou Brewster Kahle, engenheiro de computação e fundador da iniciativa, que enfrentou processos movidos por gravadoras e editoras.
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O feito foi reconhecido até mesmo pela Câmara Municipal de São Francisco, nos Estados Unidos, que declarou oficialmente o dia 22 de outubro de 2025 como o Dia do Internet Archive na cidade.
Outro reconhecimento partiu do senador Alex Padilla, que designou, no dia 28 de outubro, o Internet Archive como uma biblioteca depositária federal. Em texto enviado ao Congresso (congress.gov), o parlamentar afirmou que o projeto representa “um marco extraordinário na democratização da informação pública”.
“É uma história de sucesso fantástica e fenomenal”, disse Brewster Kahle, fundador do projeto, durante o evento que celebrou o marco da trilionésima página arquivada.
Quase três décadas de atividades
Fundado no ano de 1996, o Internet Archive é uma organização sem fins lucrativos dedicada à construção de uma biblioteca digital de sites e outros arquivos eletrônicos.
O objetivo do projeto é oferecer acesso gratuito a pesquisadores, historiadores, acadêmicos e ao público em geral. É por meio da ferramenta chamada Wayback Machine que os usuários podem visualizar versões arquivadas de páginas da web.
Atualmente, para além de um trilhão de páginas arquivadas, o projeto conta com números impressionantes em sua plataforma:
- 49 milhões de livros e textos;
- 13 milhões de gravações de áudio;
- 10 milhões de vídeos;
- 5 milhões de imagens;
- 1 milhão de programas de software.
Ação movida por editoras
Apesar do sucesso, o Internet Archive enfrentou, nos últimos anos, duras batalhas judiciais que quase levaram o projeto à falência.
“Nós sobrevivemos. Mas isso destruiu a biblioteca”, afirmou Kahle em entrevista ao Ars Technica.
Uma das ações mais significativas começou em 2020, movida por quatro das maiores editoras do mundo: Hachette Book Group, HarperCollins Publishers, Penguin Random House e Wiley.
O processo teve como alvo o projeto Open Library, que oferece o empréstimo digital de livros. Inicialmente, cada usuário podia pegar apenas um exemplar eletrônico por vez, mas o limite foi suspenso durante a pandemia de Covid-19.
A disputa se arrastou até 2024, quando o último recurso do Internet Archive foi negado. O resultado foi a remoção de mais de 500 mil livros da coleção de empréstimo. Os valores financeiros do acordo não foram divulgados, e as editoras limitaram-se a informar que havia sido feito “um acordo confidencial sobre um pagamento monetário”.
Processo de grandes gravadoras
Outro grande processo enfrentado pela organização foi movido por gravadoras como UMG Recordings, Capitol Records e Sony Music Entertainment. As companhias contestaram o Great 78 Project, iniciativa voltada à preservação de gravações antigas em discos de goma-laca (antecessores dos discos de vinil).
As gravadoras pediam indenizações que somavam cerca de US$ 700 milhões, mas as partes chegaram a um acordo confidencial, que evitou a ruína financeira da organização.
Atualmente, o Internet Archive não enfrenta mais ações judiciais capazes de comprometer o arquivamento de seus conteúdos, o que traz uma sensação de alívio e estabilidade ao projeto.
Próximos passos do Internet Archive
Além das coleções já existentes, o Internet Archive trabalha em um projeto chamado Biblioteca da Democracia. A ideia é criar uma plataforma gratuita e aberta para reunir pesquisas e publicações governamentais de todo o mundo.
Links em artigos da Wikipédia direcionando diretamente para o projeto devem facilitar o acesso dos pesquisadores aos arquivos.
Há também um movimento para coletar materiais físicos, com o objetivo de preservar o conhecimento mesmo diante do avanço da digitalização — processo que coloca em xeque o futuro das bibliotecas tradicionais.
Apesar dos percalços causados por ações movidas por grandes empresas, o Internet Archive segue fiel à sua missão original: proporcionar acesso universal a todo o conhecimento humano.
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Fonte: Internet Archive (1, 2, 3); Ars Technica