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A trivialidade dos conteúdos

Por| 29 de Setembro de 2016 às 17h43

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A trivialidade dos conteúdos
A trivialidade dos conteúdos

Vivemos em um mundo onde existem cada vez mais formas de acessar conteúdo. Isto não significa, necessariamente, que os conteúdos visitados, sejam audiovisuais ou impressos, diferem entre si. Podemos ler a mesma mensagem em diversos meios. Não importa se isso nos gera antipatia, aborrecimento ou diversão; pode-se consumir o mesmo item, simplesmente variando sua apresentação.

Claro que isto é somente parte da história. Graças à Internet podemos navegar livremente na rede para acessar conteúdos armazenados em diversas partes do mundo. Enquanto que o mundo da diversão vai gradualmente homogeneizando os gostos com produções voltadas para o público global, as principais plataformas de serviços que estão na internet (conhecidas como OTTs) estão cada vez mais pressionadas a desenvolver produções que parecem dar um pouco de “ambiente local” para um público global.

Talvez o melhor exemplo é a transformação que as OTTs de vídeo estão tendo nas produções audiovisuais, que hora são liberadas em múltiplos países e idiomas simultaneamente. Aqui o maior desafio é poder desenvolver campanhas de lealdade com os consumidores de séries e filmes nos diferentes mercados evitando controvérsias. Por exemplo, em um passado recente vimos exemplos como o de uma famosa plataforma de vídeos promocionais em forma de piada – isto tem sido visto nos mercados que falam espanhol – um serviço para atender em espanhol segundo acentuação e frases do protagonista de uma de suas mais famosas séries: um narcotraficante colombiano.

O que isto implica? Por um lado é simplificar e trivializar um dos períodos mais dolorosos da historia da Colômbia. Ensinar por meio de uma produção frases como “Plata o Plomo” é uma falta de respeito para os milhares de pessoas que foram ou continuam sendo vítimas do narcotráfico. Imagine uma produção similar para aprender espanhol falando como Sppedy Gonzales, escutando o “Ándale, ándale, arriba, arriba”?

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Claro que há quem minimize o impacto deste tipo de aplicativo, já que os vêem como algo piadista que diverte muitos fanáticos das séries de narcotráficos com o argumento de que deve-se levar a vida com mais humor e menos seriedade. Quando escuto isso penso em uma realidade onde o próximo grande lançamento de um produto de vídeo global irá chamar Grand Wizard (O Grande Mágico) e sua trama foca na vida um dos líderes da Ku Klux Klan. Imagina pessoas de todo o mundo aprendendo inglês com um aplicativo que destaca frases como nigger, wetback ou towel head?

Obviamente a produção de um programa com este perfil no mercado estadunidense impulsionaria numerosos protestos. A criação de um aplicativo celebrando frases racistas justificadamente causaria indignação de milhões de pessoas. O triste é quando se celebra a vida de um assassino, a reação não é mais de indignação para fomentar crenças de que quem tem que falar com sotaque de uma região específica da Colômbia fala como narcotraficante.

No entanto, não é todo negativo pensar na facilidade de acessar conteúdos. No caso da Colômbia, dão a oportunidade a todos os interessados a acessar o acordo de paz do governo desse país com as FARC. A primeira vez que na América Latina um acordo deste tipo está tão acessível para todos os colombianos e outros interessados.

A facilidade de acessar conteúdos não pode levar a contemplar produções nascidas da necessidade. Também é certo que não pode levar a educar sobre como alcançar a paz e impulsionar o desenvolvimento. Cada um que decida o que prefere ver.