Retrocesso imensurável | IA ameaça o aprendizado da escrita, critica autor
Por João Melo • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

O uso da inteligência artificial (IA) voltado à escrita — seja para a correção de textos ou até mesmo para a criação de histórias — está cada vez mais presente no dia a dia da população. Contudo, na avaliação do escritor Sérgio Rodrigues, a perda da prática da escrita manual pode resultar em um retrocesso imensurável para a sociedade.
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O jornalista e romancista é autor do livro Escrever é humano: como dar vida à sua escrita em tempo de robôs, no qual defende a necessidade de atenção e estímulo à prática da escrita.
De acordo com Rodrigues, os robôs não conseguem se igualar às características humanas, embora exista o perigoso aprimoramento constante das tecnologias generativas disponíveis na internet.
“Eu entendo que [escrever com criatividade] é tudo o que o robô não sabe fazer. O que o robô sabe fazer é uma imitação incrível, impressionante, da linguagem humana, mas sem nenhuma das dimensões que estão por trás da escrita criativa verdadeira. Não há perspectiva de as tecnologias terem acesso a isso tão cedo, pelo menos enquanto não tiverem consciência de si”, afirma o escritor.
O romancista ressalta ainda que, em breve, pode ser muito difícil distinguir o que é escrito pela IA do que é criado por humanos.
Risco de desaprender a escrever
Segundo Sérgio Rodrigues, o uso desenfreado das ferramentas de inteligência artificial voltadas à escrita pode fazer com que as pessoas desaprendam a escrever ao longo do tempo.
“É um risco. Você pode terceirizar tudo, todos os textos — da lista de compras ao e-mail. No momento em que você terceiriza e não usa mais essa habilidade, você esquece. A gente é assim”, afirma o romancista.
Ele também chama atenção para os cuidados que devem ser tomados nas escolas, visto que alunos já têm a possibilidade de entregar trabalhos feitos inteiramente por inteligência artificial.
“Se a escola não criar um ambiente em que isso seja severamente controlado, a própria habilidade da escrita não vai ser desenvolvida por aquelas crianças. A gente está diante de uma mudança muito grande de parâmetros gerais em relação à escrita. E é preciso cultivar isso pelo prazer de escrever”, destaca o escritor.
Uma solução sugerida por Rodrigues é que as escolas ofereçam espaços onde não seja possível utilizar ferramentas de IA, a fim de estimular o pensamento crítico e a escrita dos alunos.
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Fonte: Agência Brasil