Como funciona a escola que trocou professores por IA e tem só 2 horas de aula
Por João Melo • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

De manhã, duas horas de aulas de matérias básicas — como matemática e inglês — com acompanhamento personalizado da inteligência artificial (IA). À tarde, atividades voltadas às “habilidades para a vida”, orientadas por “guias” em vez de professores tradicionais. Esses são alguns detalhes do funcionamento da Alpha School, com unidades nos Estados Unidos.
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A instituição de ensino foi fundada pela Legacy of Education, empresa de educação, e conta com 18 unidades espalhadas por estados como Texas, Flórida, Arizona e Califórnia.
O site da escola informa que o valor anual é de US$ 40 mil (cerca de R$ 217,3 mil na cotação atual), o que equivale a aproximadamente US$ 3,3 mil por mês (em torno de R$ 18 mil). Esses valores já incluem materiais didáticos e experiências como workshops e viagens.
Com níveis que vão da pré-escola ao ensino médio, a progressão dentro da escola não ocorre pela idade dos alunos, mas de acordo com os avanços em cada disciplina e suas capacidades individuais.
Duas horas de aula por dia
Os estudantes têm aulas de conteúdos fundamentais — como matemática, inglês e ciências — entre 9h e 11h. Essa primeira parte do período escolar é voltada a um aprendizado acadêmico personalizado pela IA.
“Usando sistemas adaptativos com tecnologia de IA, adaptamos as aulas aos pontos fortes, fracos e interesses de cada aluno”, afirma a Alpha School, destacando que essa abordagem mais individualizada é a essência da transformação educacional proposta.
“Nossos aplicativos monitoram constantemente o desempenho de cada aluno, adaptando as aulas conforme necessário. Se um aluno está indo muito bem em matemática, mas tem dificuldades em leitura, a IA se ajusta, apresentando problemas mais complexos de matemática e oferecendo apoio extra em leitura”, ressalta a escola.
À tarde, o ensino é focado em “habilidades para a vida”, que a escola considera cruciais para o dia a dia dos estudantes. Resolução de problemas, pensamento crítico e inteligência emocional estão entre os pilares dessa segunda etapa do dia.
A Alpha afirma que o ensino dessas competências vai além das disciplinas acadêmicas, com o objetivo de preparar os alunos para o futuro, ampliando o potencial de cada um.
“Guias” no lugar de professores
Outro ponto que chama atenção na proposta da Alpha School é a substituição dos professores tradicionais pelos chamados “guias”.
Segundo a instituição, esses profissionais deixam de executar tarefas como elaborar planos de aula e atribuir notas, e passam a apoiar as necessidades emocionais e motivacionais de cada estudante.
Os guias são selecionados, segundo a escola, em “principais universidades do país”, priorizando candidatos com experiência em tecnologia e startups. A seleção é feita com base em três critérios:
- Capacidade de motivar e conhecer os alunos;
- Capacidade de planejar workshops envolventes de habilidades para a vida;
- Afinidade para compreender as necessidades do aluno em termos de suporte.
Como entrar na Alpha School?
Não é por simples matrícula. Os estudantes precisam preencher um formulário de candidatura e pagar uma taxa de US$ 100 (não reembolsável).
Em seguida, participam de uma apresentação da escola e agendam o chamado “Shadow Day”, momento em que terão contato com os aplicativos de IA e workshops oferecidos.
Depois, ocorre a avaliação do desempenho do candidato no dia de imersão, seguida por uma discussão com os familiares sobre os objetivos acadêmicos. Uma vez aceito, é necessário fazer um depósito de US$ 1 mil para assegurar a vaga — valor posteriormente abatido da anuidade.
Críticas ao sistema de ensino da Alpha
Especialistas críticos ao modelo de ensino da Alpha School argumentam que a digitalização da educação pode aumentar ainda mais o tempo de tela das crianças, dificultar sua socialização e até comprometer sua capacidade de pensamento crítico.
“Os alunos e o nosso país precisam se relacionar com outros seres humanos. Quando se tem uma escola estritamente voltada para a IA, isso viola esse preceito fundamental do esforço humano e da educação”, disse ao The New York Times Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores, um sindicato de docentes.
A Alpha também tenta implementar uma rede de escolas públicas autônomas chamada Unbound Academy. Contudo, a proposta enfrenta resistência de conselhos estaduais de educação em alguns estados dos EUA, que rejeitaram o programa.
“O modelo de ensino de inteligência artificial proposto por esta escola não foi testado e não demonstra como as ferramentas, métodos e provedores garantiriam o alinhamento aos padrões acadêmicos da Pensilvânia”, afirmou o Departamento de Educação do estado em sua decisão.
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Fonte: Alpha School; The New Yor Times