Cientistas usam IA para criar vírus e abrem caminho para novas formas de vida
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Na última quinta-feira (2), em estudo publicado na revista Science, pesquisadores da Universidade Stanford utilizaram inteligência artificial (IA) para projetar vírus inéditos. Basicamente, eles desenvolveram bacteriófagos, vírus que atacam apenas bactérias. Esses organismos artificiais são diferentes de vírus conhecidos, ao ponto de serem considerados novas espécies. A descoberta abre caminho para o uso terapêutico de vírus na medicina, especialmente no combate a infecções resistentes a antibióticos.
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Os cientistas tomaram precauções rigorosas para evitar riscos biológicos. O modelo de IA foi treinado apenas com dados de vírus que infectam bactérias, excluindo qualquer informação sobre vírus que possam atingir plantas, animais ou humanos. Assim, as criações não representam uma ameaça direta à saúde pública.
Mesmo assim, especialistas alertam que o simples fato de a IA conseguir projetar estruturas virais inéditas marca um novo estágio na biologia sintética, e reforça a necessidade de regulamentações mais fortes para evitar o mau uso dessas tecnologias.
O problema do duplo uso
O avanço científico expõe o chamado “problema do duplo uso”, que ocorre quando uma tecnologia pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. Pesquisas legítimas em biologia sintética podem gerar descobertas médicas incríveis, mas também podem ser exploradas por pessoas mal-intencionadas para criar armas biológicas.
Recentemente, pesquisadores da Microsoft demonstraram que sistemas de IA podem driblar mecanismos de segurança que deveriam impedir a encomenda de moléculas tóxicas em empresas de biotecnologia. O estudo revelou falhas em programas de triagem genética, que comparam sequências de DNA a bancos de dados de substâncias perigosas. A IA, no entanto, é capaz de criar sequências inéditas que codificam funções tóxicas sem levantar alertas.
Diante das descobertas, a Microsoft e outras instituições correram para criar atualizações de segurança em sistemas de triagem de DNA. As correções reduziram significativamente o risco de que sequências perigosas passem despercebidas, embora cerca de 3% dos casos ainda escapem do controle.
Para garantir o uso ético e seguro da IA na biologia, empresas e governos estão desenvolvendo novas estratégias. Nos Estados Unidos, ordens executivas presidenciais determinam padrões mais rigorosos de avaliação de sistemas de IA. No Reino Unido, o AI Security Institute financia pesquisas voltadas à mitigação de riscos e à proteção contra usos indevidos dessas ferramentas.
Vale lembrar que, por enquanto, a IA não é capaz de criar organismos vivos de forma independente. Mas especialistas afirmam que esse cenário pode mudar em poucos anos. Por isso, cientistas, governos e empresas de tecnologia precisam trabalhar juntos para garantir que as inovações sirvam ao bem-estar humano, e não se tornem armas biológicas do futuro.
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Fonte: Live Science