A IA engole uma garrafa de água em toda conversa fiada — compare com outros usos
Por João Melo • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

Você sabia que sistemas de inteligência artificial (IA) consomem o equivalente a uma garrafa de 500 ml de água a cada conversa curta realizada com a versão GPT-3 do ChatGPT, da OpenAI? É quase a mesma quantidade usada para escrever um e-mail de 100 palavras.
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É o que aponta um estudo (arxiv.org) conduzido por Shaolei Ren, professor associado da Universidade da Califórnia em Riverside, e seus colegas. Essa quantidade de água inclui tanto a água utilizada para resfriar os servidores do data center quanto a água usada nas usinas de energia que geram eletricidade para operar esses espaços.
Fluxos de água por trás da IA
Cada consulta a ferramentas de IA envolve dois fluxos diferentes de água. O primeiro é o resfriamento local dos servidores, que geram grandes quantidades de calor.
Esse processo geralmente envolve torres de resfriamento evaporativo — grandes nebulizadores que borrifam água sobre tubulações quentes ou bacias abertas. A evaporação remove o calor, mas essa água é retirada do abastecimento, seja de rios, reservatórios ou aquíferos.
O segundo fluxo ocorre nas usinas de energia — como de carvão, hidrelétricas, solares e nucleares — que usam grandes volumes de água para criar ciclos de vapor e resfriamento. Usinas eólicas e painéis solares praticamente não consomem água após construídos, exceto para limpeza ocasional.
Influência do clima e da localização
Outros fatores também influenciam a quantidade de água usada por um data center, como a localização e o clima.
“Um data center na fria e úmida Irlanda pode frequentemente depender do ar externo ou de resfriadores e operar por meses com consumo mínimo de água. Em contraste, um data center no Arizona em julho pode depender fortemente do resfriamento evaporativo. O ar quente e seco torna esse método altamente eficaz, mas também consome grandes volumes de água, já que a evaporação é o mecanismo que remove o calor”, explica Leo S. Lo, reitor de Bibliotecas, assessor do reitor para Alfabetização em IA e professor de Educação da Universidade da Virgínia.
Um estudo da Universidade de Massachusetts Amherst (ieeexplore.ieee.org) comparou o consumo de água de um data center no inverno e no verão e revelou que o sistema usa apenas metade da água em períodos de temperaturas amenas em comparação a dias mais quentes.
Outras iniciativas, como a da Microsoft e da China, que mergulham data centers no oceano, têm o objetivo de economizar energia em relação às instalações em terra firme, mas ainda não são amplamente adotadas pelas empresas de tecnologia.
Consumo de água por prompt
Outro fator importante é o modelo de IA usado para fazer as consultas. Um estudo publicado em maio de 2025 apontou que algumas ferramentas menos eficientes podem consumir até 70 vezes mais energia e água do que sistemas ultraeficientes.
Uma forma de calcular a pegada hídrica da IA é usar a seguinte fórmula:
- Energia por prompt (watt-hora) × Fator água (mililitros por watt-hora) = Água por prompt (em mililitros).
Levando em conta uma consulta de tamanho médio ao GPT-5 (entre 150 e 200 palavras), o cálculo considera 19,3 watt-hora e 2 mililitros por watt-hora. Logo:
- 19,3 × 2 = 39 mililitros de água por resposta.
No caso do GPT-4o, o cálculo considera 1,75 watt-hora em um prompt médio e a mesma quantidade em mililitros:
- 1,75 × 2 = 3,5 mililitros de água por resposta.
Um relatório divulgado pelo Google dá conta de que um prompt médio enviado ao Gemini consome 0,24 watts-hora de eletricidade e cerca de 0,26 mililitros de água. Contudo, o relatório não informa a quantidade de palavras dessa consulta, o que não permite fazer um cálculo diretamente proporcional ao do ChatGPT.
Confira, a seguir, a comparação entre o uso de água destes dois modelos do ChatGPT com o volume utilizado em diferentes tarefas do dia a dia:
Uso da água | Quantidade consumida | Número de consultas de tamanho médio ao GPT-5 | Número de consultas de tamanho médio ao GPT-4o | Número de prompts medianos no Google Gemini |
Garrafa de água | 0,5 litros | 13 | 143 | 1,9 mil |
Descargha de vaso sanitário | 6 litros | 154 | 1,7 mil | 23 mil |
Banho de 10 minutos | 90 litros | 2,3 mil | 25,7 mil | 346 mil |
Gramado de 10 m² regado por 10 minutos | 100 litros | 2,5 mil | 28,5 mil | 385 mil |
Multiplicando o consumo de água da IA
Dados da OpenAI informam que suas ferramentas de IA recebem cerca de 2,5 bilhões de consultas diariamente. Levando em conta os prompts médios, estimativas disponíveis dão uma ideia do consumo de água dos diferentes modelos:
- Todos os prompts médios GPT-4o: cerca de 8,8 milhões de litros por dia;
- Todos os prompts médios GPT-5: cerca de 97,5 milhões de litros por dia;
- Todas as consultas de tamanho médio do Google Gemini: cerca de 650 mil litros por dia.
A efeito de comparação, cidadãos norte-americanos usam cerca de 34 bilhões de litros de água por dia apenas para irrigar gramados e jardins residenciais.
“A IA generativa consome bastante água, mas — pelo menos por enquanto — seus totais diários são pequenos em comparação com outros usos comuns, como gramados, chuveiros e lavanderia”, ressalta Leo S. Lo.
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Fonte: The Conversation