Estudante do Maranhão cria bioplástico feito com planta da Amazônia
Por Gustavo Minari | Editado por Douglas Ciriaco | 29 de Março de 2022 às 13h37
Uma estudante de Imperatriz, no Maranhão, criou um bioplástico a partir da casca de uma planta conhecida como buriti, espécie nativa da Amazônia e também encontrada no cerrado maranhense. O material é biodegradável e se decompõe em apenas 15 dias na água — ou em até 20 dias no solo — podendo ser usado como adubo.
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Com esse projeto, Ana Beatriz de Castro Silva, de 17 anos, ficou em segundo lugar na 20.ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE), e agora vai representar o Brasil na disputa pelo prêmio Genius Olimpyad, que acontece em junho deste ano em Nova York, nos EUA.
"É a maior feira do Brasil, então para você conseguir um pódio é muito difícil e saber que consegui ficar em segundo lugar é incrível, é um sentimento maravilhoso. Ganhar uma credencial para uma feira internacional, onde vão ter pessoas de diversos países, é inexplicável e a expectativa é a melhor de representar mais uma vez o meu pais e o meu estado", comemora Ana Beatriz.
Buriti
O buriti é uma espécie de palmeira originária da Amazônia, mas também aparece com frequência nos estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Minas Gerais e Mato Grosso. A planta possui um fruto rico em cálcio, ferro e proteínas vegetais e o seu óleo, composto por caroteno, é utilizado pela indústria cosmética e alimentícia para amaciar, colorir e aromatizar diversos produtos.
Com a palmeira, a estudante desenvolveu três materiais diferentes: a casca deu origem a um produto mais resistente, que pode ser usado como revestimento de pisos ou papel de parede; com o caroço é possível criar um polímero semelhante ao acrílico; e com a polpa é produzido um biofilme mais fino e flexível, que pode ser empregado na fabricação de sacolas.
“Eu já conhecia o buriti como artesanato e alimento, mas desconhecia sua composição química. Percebi que ao lixar o talo que solta muito pó, seria possível obter celulose. Então, comecei estudando o talo e depois o fruto, e então descobri vários compostos químicos como a lignina, que serve para produzir o bioplástico”, explica a estudante.
Projeto antigo
Ana Beatriz começou a se interessar pelas propriedades do buriti enquanto cursava o terceiro ano do ensino médio, em 2018. Como o laboratório da escola não possuía todos os equipamentos necessários para aprofundar a pesquisa, ela foi convidada por um professor — que também trabalhava na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) — para usar o laboratório de biologia da instituição.
Depois de conseguir fabricar os bioacrílicos feitos à base do buriti, ela começou a testar a resistência química, as propriedades mecânicas, a opacidade e a capacidade de degradação dos produtos na natureza. Os resultados mostraram que o materiais podem ser usados para substituir o plástico comum com a vantagem de serem biodegradáveis e mais baratos para produzir.
“É muito importante que a gente conheça todas as estruturas do que nós estamos estudando, para saber onde e como aplicar todos os conceitos. Quando eu comecei, eu tive uma única certeza: a pesquisa não acaba nunca e em todo o momento é preciso buscar algo novo, que possa mudar a vida das pessoas”, encerra Ana Beatriz.
Fonte: Correio MA