Review F1 2021 | As pistas não são fáceis, mas pertencem a todos
Por Felipe Demartini • Editado por Bruna Penilhas |
2021 está sendo um grande ano para os fãs da velocidade, nas pistas reais e também virtuais. No circo da Fórmula 1, temos a perspectiva da quebra de uma supremacia de anos, com um novo campeão e rostos jovens surgindo como grandes promessas em diversas frentes. Já nos games, estamos diante de um título que, mais do que apenas uma continuidade de uma franquia, representa, talvez, a mudança mais importante para sua desenvolvedora.
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F1 2021 chega como o primeiro game da Codemasters sob nova direção. A desenvolvedora renomada no gênero de corrida agora é parte da Electronic Arts.Mas, pelo menos aqui, ainda há mais da produtora do que da distribuidora. O novo título mantém suas raízes quase intactas e mostra, mais uma vez, que não é preciso mexer no time que está ganhando, com o foco maior estando na customização e na acessibilidade, muito mais do que em uma desnecessária invenção da roda.
É a sina dos jogos anuais, diriam alguns, que podem parecer sempre iguais, apenas com atualizações de carros e pilotos para quem não os acompanha, mas com mudanças perceptíveis e sensíveis para quem é fã. F1 2021 é, mais uma vez, o maior jogo de sua franquia, e essa, acima de outras, é uma tradição que a Codemasters vem mantendo viva ao longo dos últimos anos.
A principal adição do novo título é a peculiar campanha principal, Modo de Frenagem (ou Braking Point, em inglês). Tomando lições da série da Netflix, que mostrou uma Fórmula 1 além das pistas e das disputas roda a roda, temos aqui uma trama que se desenvolve tanto nas corridas quanto fora delas, apesar de o impacto do seriado do streaming ser absolutamente maior.
Não é a primeira vez que a franquia de games ganha um modo carreira desse tipo. Sem dúvida, esse é o mais elaborado, ainda que aposte em clichês e em um enredo quase básico, muito adequado a um filme da Sessão da Tarde. Há ainda uma tentativa de simplificar disputas e centralizar o escopo de uma temporada completa em etapas mais curtas e momentos decisivos, servindo muito bem como uma porta de entrada para aqueles que consideravam a progressão pela franquia lenta e pouco envolvente.
A trama se passa ao longo de três anos e coloca o jogador para controlar Aiden Jackson, que chega como uma promessa da Fórmula 2 e passa a integrar uma das escuderias da categoria principal, ainda em 2020. Após uma escolha entre nomes como Williams, Racing Point, Alfa Romeo, AlphaTauri e Haas, ele acaba como companheiro de seu grande ídolo, Casper Akkerman, que se prova menos um mentor e mais um desafiante, um estereótipo de veterano sem a menor paciência para quem está começando. Devon Butler, o infame rival do protótipo de modo campanha visto em F1 2019, também está de volta, aparecendo como um sujeito ainda mais detestável, na posição de plantador da sementinha do mal.
Talvez por razões que envolvam licenciamento, a trama acaba sendo focada muito mais nos personagens fictícios do que no que seria mais interessante, como ver a interação de Jackson com nomes como Lewis Hamilton, Daniel Ricciardo ou Kimi Räikkönen, entre tantos outros. Esse, inclusive, é um dos aspectos mais interessantes de Dirigir Para Viver, a grande inspiração de Ponto de Frenagem, e também um dos que acabam sendo deixados mais decepcionantemente de lado em prol de uma história pouco interessante.
Há ainda uma quebra de imersão quando apenas alguns eventos das pistas se refletem em cutscenes. Jackson, por exemplo, se vê logo de início cometendo um erro, mesmo que o jogador tenha uma célebre performance na corrida — algo bem fácil de se realizar, principalmente nas dificuldades mais baixas e com uma inteligência artificial (IA) que parece facilitar muito as coisas —, ainda assim será taxado como o cocô do cavalo do bandido junto a seus pares. Não importa se você bateu Lewis Hamilton com uma Williams. O que interessa mesmo para a história foi ter quebrado a asa dianteira de Akkerman.
É uma crítica complicada, afinal de contas, não estamos falando de um game narrativo, onde tudo o que acontece importa. Apesar de apresentar uma trama, Ponto de Frenagem não deixa de lado o fato de que F1 2021 é, no final das contas, um game de corrida e é a velocidade que importa. Apenas não neste modo campanha, que como dito, parece servir muito mais como uma introdução para atrair jogadores novatos ou uma tentativa de adicionar tempero novo a uma iguaria que, como muitos sabem, não estava necessariamente precisando disso.
Ajuste fino
As reais novidades de F1 2021, e também as que devem interessar mais a quem procura um bom jogo de corrida, estão no restante dos modos. Enquanto Ponto de Frenagem é a Sessão da Tarde de uma quarta-feira morosa, as opções de carreira de piloto, por exemplo, são efetivamente as corridas de domingo, permitindo que o jogador tenha uma imersão em uma temporada completa da Fórmula 1 — ou mais curta, se preferir, com o maior nível de customização já visto na franquia.
Na campanha convencional, é possível ser apenas um corredor ocupando o assento na equipe que preferir e seguindo em cinco anos de carreira na Fórmula 1, fazer isso ao lado de um amigo com o retorno do multiplayer nesta opção, ou apostar no modo Minha Equipe. Aqui, somos colocados não apenas atrás do volante, mas também em posição de gerente, em uma modalidade que ganha brilho extra para quem adquirir a versão de luxo de F1 2021, que dá a chance de ter Ayrton Senna, Alain Prost, Nico Rosberg e outros figurões como companheiros de equipe.
Em todas, está presente mais uma adição da Codemasters a F1 2021: o sistema de atualização em tempo real das estatísticas de pilotos, que ainda não estava disponível durante a nossa jornada de análise. A ideia da produtora é que os eventos nas pistas modifiquem o comportamento da inteligência artificial na temporada virtual, mesmo no modo single-player, com campeões desmotivados tendo performance piorada ou uma promessa se provando cada vez mais rápido, trazendo novos desafios aos jogadores.
F1 2021 traz ainda mais foco na customização, que agora vai além das ajudas de direção, dificuldade da inteligência artificial e nível de simulação. Caso desejem ir direto aos pontos, os jogadores podem iniciar a temporada da corrida que quiserem, com resultados também importados do mundo real, ou desligar eventos como entrevistas com a imprensa, corridas com veículos históricos ou sessões de treino.
Acha que o desafio está baixo demais? Você pode alterar a velocidade de desenvolvimento de veículos dos rivais, além da própria dificuldade, enquanto as próprias sessões de treino podem ganhar elementos adicionais para aumentar o progresso da escuderia escolhida. Prefere partir para o modo online, mas busca uma experiência mais casual? Use os lobbies dedicados a diferentes níveis de habilidades e preferências que, antes do lançamento, a Codemasters prometeu moderar com mais cuidado neste ano, deixando trapaceiros e bagunceiros de fora.
Comemorações no pódio, animações pós-vitória e cenas do paddock, entretanto, continuam semelhantes às do ano passado, assim como os modelos dos pilotos que permaneceram na Fórmula 1 em 2021. A interface das corridas também continua a mesma, assim como os contatos com o engenheiro, que segue prestando poucas informações e informando quase nada sobre o andamento das corridas fora do próprio jogador e seu companheiro de time.
Como os carros altamente especializados da categoria, F1 2021 é um game de edições sutis que geram grande impacto sobre a experiência. Modo de Frenagem é, sem dúvida nenhuma, a maior novidade, mas não é a mais interessante, principalmente em uma cauda longa na qual o game entrega uma temporada com duas dezenas de corridas no modo single-player, além de uma infindável competição online com um foco cada vez maior no segmento de eSports.
Sozinho, o jogador segue percebendo suas habilidades, melhorando sem grandes abismos de dificuldade, com um desafio que pode ser incrementado lentamente. No multiplayer, sempre há a chance de encontrar um criador de conteúdo preferido, um atleta digital e, quem sabe, até mesmo um dos pilotos da categoria, com eventos apresentados pela própria Codemasters que tornam o circo digital mais instigante.
Em um momento de grandes mudanças, F1 2021 segue como um museu de grandes novidades, ainda se aproveitando das bases muito bem firmadas no início da geração passada para entregar uma experiência cada vez mais balanceada e customizada. É nisso que está o grande foco do novo game, que em primeira e segunda vista, acaba não sendo tão diferente de seu antecessor, ao mesmo tempo em que traz novidades pertinentes o suficiente para que os amantes da velocidade o olhem com olhos muito bons.
E para as horas de folga, Modo de Frenagem sempre estará lá, caso você esteja procurando algo diferente. Mas cá entre nós, ser companheiro de equipe de Ayrton Senna ou Lando Norris é muito mais legal do que ocupar o assento ao lado de Casper Akkerman, no papel de um protagonista que parece estar sempre triste. Vale a curiosidade do aperitivo, enquanto o prato principal vem depois e segue muito saboroso.
F1 2021 está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One, com otimizações gratuitas para PS5 e Xbox Series X|S. No Canaltech, o game foi analisado no PC, em cópia digital gentilmente cedida pela Electronic Arts.