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Análise | Desperados III é complicado onde deveria ser simples

Por| 15 de Junho de 2020 às 08h20

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(Imagem: Divulgação/THQ Nordic)
(Imagem: Divulgação/THQ Nordic)

A franquia Desperados não é lá muito conhecida pelos jogadores brasileiros, comumente aludida a um público mais hardcore dos videogames. Trata-se de uma série de jogos de progressão tática, cujo gênero hoje é mais visto em jogos como XCOM e similares. Os dois primeiros títulos foram lançados, respectivamente, em 2001 e 2006, ambos com boa recepção.

Mas somente em 2020 é que fomos contemplados com uma continuação direta, ou melhor, uma “prequência”, já que Desperados III volta no tempo e conta o início da carreira do caçador de recompensas do Velho Oeste John Cooper, como ele “herdou” a função de seu pai James, bem como os eventos que o levaram a conhecer seus parceiros Dr. McCoy, Kate O’Hara e Hector.

Originalmente disponível apenas nos PCs, a série Desperados faz a sua estreia nos consoles de mesa com o terceiro jogo, mas, sentimos informar, a empreitada não deve colher muitos bons frutos.

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O enredo de Desperados III é bem simples e chega a ser um clichê de tão batido: sem soltar spoilers aqui, tem a ver com vingança — algo que já fica estabelecido na transição entre a primeira missão (que acaba com um gancho a ser retomado mais à frente) e a segunda (cuja abertura já o coloca no papel do protagonista, em busca de um acerto de contas específico com um certo bandido).

Os detalhes narrativos não importam muito, mas servem como um pano de fundo satisfatório para a progressão do jogo, ainda que muito “basicão”. No diálogo é que há uma certa graça, com as conversas entre personagens tomando destaque pelo seu humor característico e distinção de personalidades de cada um deles — ainda que, lamentavelmente, essa seja uma camada bem superficial, já que não há como gerar um momento de simpatia com qualquer um dos protagonistas do jogo.

Isso porque, a exemplo do já citado XCOM, Desperados III se vale de uma câmera isométrica em perspectiva “olho de pássaro”. Entretanto, enquanto a produção da 2K Games sabia transicionar a sua visão, aproximando-a dos seus personagens em momentos chave da ação, Desperados III fica lá em cima. O tempo todo. Sem descer. Mesmo quando o zoom está no máximo, ainda está alto demais a ponto de tornar os personagens totalmente ignoráveis, salvo pelo diálogo.

A questão da câmera persiste também na observação do cenário: há pontos interessantes, visualmente falando, que se integram ao gameplay, como pegadas em lama sendo reproduzidas com um realismo ímpar, além de cenários que usam muito do poder do PlayStation 4 e Xbox One — um deleite visual —, mas por que diabos eu consigo ver uma pegada na lama tão fielmente reproduzida a ponto de admirá-la, e os personagens a quem controlo são tão… ”meh”?

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O jogo todo é baseado na premissa da furtividade, o que dá um tom bastante interessante a uma ambientação que, costumeiramente, se concentra mais no “bangue-bangue”. A parte tática de Desperados III é permeada por toda a partida, o que é uma qualidade evidente: você controla todos os personagens envolvidos em uma missão, ora alternadamente, ora simultaneamente, ajustando seu progresso de acordo. Andar em três ou quatro amigos é mais fácil na hora de levar todos a um ponto específico da fase, mas é na ação singular que eles se destacam, cada qual com sua habilidade: o Dr. McCoy é o atirador de longa distância, Hector é o combatente corpo a corpo com uma armadilha de urso como arma, Kate pode se disfarçar e caminhar livremente sem chamar a atenção de (alguns) inimigos, enquanto John Cooper é o mais arrojado, podendo atirar com duas pistolas ou furtivamente arremessar uma faca contra um oponente.

As habilidades específicas também possuem um equilíbrio bem otimizado, cortesia dos inimigos variados pelos mapas: há quem resista a distrações sem deixar seus postos, há quem aguente três ou quatro tiros antes de cair e há os oponentes comuns, que qualquer peteleco na orelha os põe na cova rasa. Uma percepção legal é o uso de alguns mecanismos de ambiente, incrementando as possibilidades de combate. O que você absolutamente NÃO QUER fazer é brigar com os caras na bala. Rapidinho, um inimigo que te viu se transforma em seis ou sete atirando contra você.

Mas qual é o problema?

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Pode me chamar de cruel, mas eu fiz questão de enaltecer as qualidades do jogo aqui simplesmente para te dar um balde de água fria porque, bem, foi o que aconteceu comigo várias vezes e eu não vou sofrer isso sozinho. Desperados III comete um pecado tão básico, mas tão básico, que ele acaba ofuscando tudo o que o jogo traz de bom. Como um estúdio de desenvolvimento de jogos, em pleno 2020, consegue errar com o salvamento automático de um jogo é algo que foge à compreensão, mas veja só, é isso que ocorre aqui.

Logo no início do jogo, fica claro que você terá de fazer salvamentos manuais. Até aí tudo bem — estamos remetendo aos primórdios do Memory Card do PlayStation e PlayStation 2, mas ok, é tolerável. P problema é que não há uma forma muito saudável de preservar o seu progresso a não ser salvá-lo de dois em dois minutos. Isso porque, ao contrário de literalmente qualquer outro jogo lançado nos últimos 10 anos, Desperados III não tem checkpoints, exceto aqueles criados por você.

Isso pode parecer uma bobagem, mas na verdade é algo que fará você pensar em abandonar o jogo antes de terminá-lo: em várias ocasiões, ocorreu de eu passar por uma fase e acabar morrendo no mapa seguinte. Como o jogo é programado para o “game over” se qualquer um dos personagens morrer, você pensa “Ok”, vou recomeçar a fase”. Mas se recarregar seu salvamento... você será jogado no mapa anterior, antes mesmo de terminá-lo.

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Desperados III até oferece um pop up de lembrete, que berra um tom verde destoante no meio da tela, contando o tempo desde a última vez que você salvou o seu progresso. Mas essa janelinha fica bem no meio mesmo, não apenas sendo cafona visualmente, mas atrapalhando a visão de elementos do mapa. Você pode retirá-la, mas aí dependerá da sua memória para salvar o jogo.

Em suma, você é forçado a escolher entre o horrível visual ou o horrível defeito de jogabilidade. Nas minhas partidas, cheguei ao ponto de:

  1. Salvar
  2. Matar um guarda
  3. Salvar de novo
  4. Matar outro guarda
  5. Mover um personagem para a moita
  6. Matar outro guarda
  7. Morrer. Voltar para o passo 3

EM.

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TODA.

FASE.

Conclusão

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Não há forma de suavizar a análise aqui: Desperados III é ruim. Não pelos motivos que você espera que ele seja ruim, mas por causa de um único ponto que mata toda a sorte de qualidades que o jogo traz, quando você passa por esse problemão. É claro, é possível que isso seja resolvido com um patch, mas aí você já conta com a boa vontade dos estúdios de desenvolvimento do jogo.

E bom... não sei você, mas pela minha experiência, isso anda meio em falta hoje em dia...

Desperados III está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia gentilmente cedida pela THQ Nordic.