Análise | Novo Captain Tsubasa mistura luta, futebol e diversão com maestria
Por Wagner Wakka | 11 de Setembro de 2020 às 12h45
Quem viveu a infância na década de 1990 no Brasil, provavelmente conhece um nome famoso do futebol: Oliver Tsubasa. Não que ele fosse um grande jogador da época, mas se tratava do protagonista de um desenho que ganhou espaço na televisão brasileira. Super Campeões era o nome do anime que misturava drama ao futebol com todos os exageros que uma criança possa gostar de ver na TV.
Super Campeões é o nome que o original Captain Tsubasa ganhou por aqui. O anime contava a trajetória de Oliver como um prodígio do futebol dando seus primeiros passos no gramado nas competições estudantis do Japão.
O grande mote do anime era o exagero: Tsubasa dava chutes que faziam o goleiro entrar com bola e tudo para as redes. Hyuuga, um dos seus rivais (e depois amigo), quebra uma árvore dando boladas no tronco. Outros gêmeos servem de trampolim entre si para cabecear a bola para o gol. Tudo dentro da normalidade em Super Campeões.
Este tipo de peripécia é o que alimentava o imaginário da criançada de 1980 que sonhava em ser um Romário ou Bebeto. Contudo, para além de fazer o gol, era possível colocar mais asas nesta bola e fugir dos limites do campo.
É com esta mentalidade que Captain Tsubasa: Rise of the New Champion chega para PC e para a geração atual de consoles. Ele ainda empresta alguns elementos de games de futebol, como FIFA e PES, mas a proposta aqui não é ser um simulador do esporte.
É possível dizer que CaptainTsubasa está para FIFA ou PES, como Mario Kart está para Gran Turismo, por exemplo. A essência do esporte até está ali, com mecânicas que lembram um jogo de verdade. Contudo, é recheado de elementos que extrapolam e muito às regras originais. Claro, essa é a parte importante de tudo.
O que este novo game propõe é dar mais ação à série que já conta com uma longa sequência de games. Entretanto, Captain Tsubasa sempre se baseou em um gênero de turnos.
Nos games mais antigos, quando um atacante estava com a bola, por exemplo, e era atravessado por um defensor, o jogador precisava fazer uma escolha de opções, como um xadrez. Para isso, o jogo congelava em uma tela, como se fosse um turno, que permitia a análise da jogada.
Mas futebol não é assim, a jogada não para de confronto em confronto. Por isso, em Rise of the New Champion, ele ganha contornos mais próximos a FIFA ou PES, mas com elementos que lembram quase um jogo de luta.
Desta forma, já de cara é preciso dizer: embora tenha o envelope de futebol, não vá para este game esperando um título do esporte. Com a mente aberta para o que ele pode oferecer, será um divertido episódio do anime jogável.
Mecânicas
Em sua base, Captain Tsubasa ainda é sobre futebol. Assim, regras básicas se confirmam aqui e ainda ganha quem fizer mais gols nos dois tempos. Cada time conta com seus 11 jogadores, tal qual o esporte real.
O game também empresta muitas mecânicas de FIFA e PES atuais, como passes de bola no pé ou em lançamento, cruzamentos na área, carrinhos ou entradas mais leves, e o clássico “botão de correr”.
Contudo, ainda adiciona um game de pedra-papel-tesoura em cada disputa de bola. Todos os jogadores contam com uma barra chamada de “garra”. Ela define não só se o esportista pode correr mais, bem como se tem disponibilidade suficiente para dar um drible ou tirar a bola do adversário.
Se um zagueiro com pouca garra tenta tirar a bola do atacante com a barrinha cheia, provavelmente vai levar um drible. Pelo contrário, o defensor vai tirar a bola sem problemas.
Outro ponto que conta bem nas decisões de disputas é o tempo. Se o atacante apertar o botão de drible antes do adversário usar a defesa, suas chances de passar são maiores e vice-versa.
Para fazer o gol, também não é tão simples como em um FIFA e PES. O goleiro também tem sua própria barra de guarra. Os atacantes podem dar chutes simples, ou um especial quando o jogador segura o botão de chute até o especial encher.
A questão é que, quando o especial está se enchendo, o atacante fica mais vulnerável com a defesa. Assim, não é fácil conseguir dar um belo chute para fazer a bola entrar.
A barra de garra do goleiro vai se reduzindo na medida em que faz defesas. Assim, é preciso tentar várias vezes para torná-lo mais vulnerável até que, sem guarda, não consiga fazer a defesa.
Todas as mecânicas podem ser confusas, mas se mostram bem mais simples que todo conjunto de botões necessários para ser um bom jogador de FIFA ou PES. Lá pela segunda ou terceira partida, já é possível entender o que o game quer propor.
Aliás, estamos falando de um jogo de Super Campeões, que conta com jogadores super-habilidosos. Logo, é bastante recomendável que você vá para cima o máximo possível, dando um drible atrás do outro, sem medo de ser feliz.
Modos de jogo
Como um game de futebol, Captain Tsubasa conta com partidas entre dois times, com multiplayer local e online. Aqui, é se pode escolher entre os times estudantis da série e até algumas seleções.
Contudo, o jogo brilha mesmo nos seus modos campanha, com duas histórias. A primeira coloca o jogador na pele de Tsubasa, seguindo um dos arcos do anime. Ele está jogando pelo Nankatsu, time da sua escola, concorrendo ao tricampeonato.
Se você é uma pessoa que gosta de muita história entre as partidas, este é um prato cheio. O game mostra os dramas do time de Tsubasa e de adversários, como o do meio-campista Misugi que tem um problema no coração e pode jogar somente meia partida.
O game recobre os acontecimentos do anime, inclusive dentro dos jogos. Para isso, é preciso que o jogador ou tente recriar a cena do desenho, ou o faça aleatoriamente. O legal é que há muitas, mas muitas possibilidades, criando variações para uma mesma campanha.
Lembre-se que estamos falando de acontecimentos como uma bola que estoura ou bater na trave. Ou um chute de Tsubasa que leva goleiro para dentro do gol com tudo, fura a rede e ainda destrói um telão de informações do estádio. Ou ainda, o momento em que Misugi tem um ataque cardíaco no meio do campo e seus colegas seguem a jogada para honrar seu sacrifício e todo mundo acha totalmente normal.
Super Campeões é isso. É ver os mais repletos exageros e absurdos sem a mínima preocupação com a realidade, encarando como uma paródia do imaginário infantil sobre super-heróis do campo. Assim, é preciso ter mente aberta para este título.
Seu jogador
Outro modo de campanha permite criar seu próprio jogador e seguir pela copa infantil até conseguir chegar ao mundial juvenil. Esta versão é recomendada para quem já fechou a história de Tsubasa e está mais familiarizado com as mecânicas do game.
Aqui, é preciso criar seu próprio personagem e escolher seguir a história de três diferentes escolas, assim, podendo viver três arcos de narrativas distintos. Este modo tem uma inspiração em “become a legend”, de FIFA, no qual é possível melhorar as características do seu jogador, depois que ganha partidas e cresce nos campeonatos.
Este modo também exige que o jogador faça escolhas em diálogos, que podem resultar em aprender habilidades especiais dos outros personagens e criar laços de amizade entre eles. Ainda, é preciso fazer diferentes missões em cada partida, para receber mais pontos e evoluir mais rápido.
No meio disso, também há a três histórias distintas para conhecer que envolvem personagens como Hyuuga, Misugi e outros, dando ainda mais profundidade aos dramas do game. Esteja preparado para muitas animações e diálogos, já que antes de ser um jogo sobre futebol, ainda é um título de anime.
Mas é gostoso de jogar?
É preciso ter em mente que estamos falando de um game com menor orçamento e tempo de desenvolvimento que FIFA e PES, os quais são detalhadamente refinados ano a ano.
Desta forma, Captain Tsubasa é bem aquém como jogo de futebol, com passes difíceis de executar por vezes e movimentação bastante travada. Entretanto, a jogabilidade é suficientemente polida para servir de base para a diversão e as mecânicas que propõe.
Ou seja, é preciso um chute superpreciso sendo que o jogador coloca goleiro com bola e tudo para dentro da rede? Creio que não. Como tudo é exagerado, desde carrinho, a chute para o gol, o refinamento não é tão necessário.
As animações dos movimentos são excelentes, com muitas, mas muitas variações delas para não deixar as partidas monótonas.
Como há certo nível de estratégia também, mesmo com todos os exageros e habilidades especiais, ainda é preciso conhecimento para terminar o segundo tempo com mais gols que o adversário. Desta forma, não basta sair com Tsubasa, driblando todo mundo que a vitória vai acontecer.
Para quem?
Mesmo sem uma jogabilidade muito refinada, Captain Tsubasa cumpre muito bem o seu papel. A proposta parece ter sido colocar o mesmo sistema de turnos dos outros títulos da série, adicionando mais ação ao game.
Ou seja, o jogador ainda enfrenta um certo nível de movimentos de xadrez em cada encontro pelas partidas, mas não é preciso parar a ação toda vez que isso acontece. Assim, mantém ainda uma profundidade diferente dos games tradicionais de futebol, privilegiando o exagero, carisma e diversão.
Novamente, se você entrar em Captain Tsubasa: Rise of the New Champion esperando jogadas malucas e chutes especiais sem a mínima lógica, vai ter um jogo que entrega isso muito bem e com bom nível de desafio.
Desenvolvido pela Tamsoft e publicado pela Bandai Namco, Captain Tsubasa: Rise of the New Champion chegou em 27 de agosto para PlayStation 4, Switch e PC. No Canaltech, o jogo foi analisado no PC com cópia gentilmente cedida pela Bandai Namco.