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Prévia | Fallout 76 é a muvuca virtual mais solitária da história

Por| 06 de Novembro de 2018 às 08h58

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Prévia | Fallout 76 é a muvuca virtual mais solitária da história

Os jogos da franquia Fallout, da Bethesda, raramente fogem à receita: um ambiente desértico massivo, cheio de itens para caçar, pontos de exploração a serem descobertos, comida e água contaminados por radiação, remédios para a tal radiação… Algum lugar nesse meio aí, tem um enredo. Com Fallout 76 B.E.T.A., não é diferente. Ou é? Honestamente, não dá para dizer.

Fallout 76 B.E.T.A. coloca você em uma réplica bastante similar à cidade de West Virginia, nos EUA: ao invés do largo campo desértico combinado com picos montanhosos de outros jogos da série, você percorre densas florestas e um universo completo de cidades fantasma, sem qualquer personagem interativo controlado pelo computador, ao mesmo tempo em que é jogado em um mundo épico com pouca orientações e um monte de jogadores que aparentemente enxergaram muita graça em colocar como apelidos “NegãoDaP****A_BMZ86” (evidentemente, não precisamos retratar explicitamente o apelido aqui, mas você já sabe do que se trata).

O beta de Fallout 76 traz todos os elementos citados acima, em sua maioria, aplicados à mesma maneira, ou em graus ainda mais intensos. Mas, por alguma razão, não parece ser o mesmo tipo de Fallout. Você assume o papel de um personagem genérico, alocando pontos básicos de habilidade em diversas categorias que alteram a mecânica de gameplay, como inteligência, força bruta e sorte, para citar alguns exemplos. Aos poucos, você vai se aclimatando com os movimentos e controles, que repetem padrões já esperados dos jogos de tiro em primeira pessoa e começa a brincar com os novos recursos, específicos deste jogo.

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E por muitos casos são essas novidades que dão uma quebrada na fórmula, trazendo uma experiência meio ambígua: por um lado essas mudanças são bem-vindas por nos darem a oportunidade de testar o universo de Fallout com ferramentas inerentes ao mundo dos MMOs; por outro, são um estorvo, pois significam que as regras dos MMOs se impõem sobre a sua jogabilidade.

Muvuca no deserto

Fallout 76 B.E.T.A. se passa cerca de 20 anos após o desastre nuclear que dizimou a Terra. Você, como membro do “Vault 76” onde seu personagem residia por, presumidamente, toda a vida até este momento, tem como função principal explorar a Virgínia Ocidental no pós-guerra para coletar recursos e criar a fundação de uma nova sociedade em um mundo bastante expansivo.

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Você inicia o jogo dentro do seu Vault, onde uma série de minitutoriais lhe ensinam as mecânicas básicas de gameplay ao mesmo tempo que pistas de áudio narram a história até aqui: você acorda em pleno “Reclamation Day” (Dia de Reconquista, em uma tradução livre), o dia em que membros da sua comunidade saem dela para explorar o mundo destruído afora. Passa a ideia de que você está, bem, sozinho, haja vista que a Terra foi destruída. Eis que você sai para o lado de fora do Vault e…

...“NegãoDaP****A_BMZ86” está bem à sua frente. Junto de outros 10 ou 15 jogadores conectados, todos se direcionando para o mesmo ponto de encontro, estrada abaixo. A interação entre os jogadores é mínima: formar grupos de combate ou estabelecer uma relação de comércio e troca de itens, apenas. Não há NPC algum, salvo por alguns robôs com interação mínima e serviços de compra e venda, e qualquer outro ser vivo controlado pela IA do jogo é um oponente (inclua aí clássicos da série, como os Super Mutantes).

Sim, sabemos: o jogo nos dá a opção de ignorar todo mundo e seguir a campanha em modo solo (aliás, fica a dica: o microfone, por padrão, fica ativado desde a criação do personagem, então se você não quiser ouvir conversas paralelas, ou que ouçam a sua, vá até as opções e desative-o). Evidentemente que essa impressão muda com algumas horas de jogo, com todos se espalhando para realizar quests variadas, mas isso é um contraste gritante com outra coisa estranha em Fallout 76 B.E.T.A.: a Virgina Ocidental do jogo é uma coleção de cidades-fantasma. Várias fundações sobreviveram ao cataclisma nuclear, mas, quando se fala em presença de seres vivos, se muito, há uma vaca de duas cabeças. Uma. Na cidade toda. Ou inimigos, os quais você acaba matando, efetivamente deixando a cidade-fantasma ainda mais despovoada.

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Busca incessante por itens sem valor

A exploração realmente é o ponto-chave de Fallout 76 B.E.T.A.: por mais que você tenha os indicadores das missões que deve cumprir, é perfeitamente possível explorar tudo aleatoriamente (como nós fizemos) e ir descobrindo inimigos, recursos e outros jogadores conectados. E isso funciona bem… Até você precisar colocar os recursos em uso. Pelo cânone de Fallout, toda água coletada é suja e contaminada por radiação, sendo necessário esquentá-la e filtrá-la. Para isso, você se vale de “panelões à lenha” espalhados em diversos pontos do mundo do jogo, mas um dos recursos mais odiados de qualquer MMO se faz presente aqui — fila para uso. Sim. Fila. Seja um panelão ou uma mesa de trabalhos químicos ou construção de armas e armaduras, se o objeto está em uso, você que aguarde.

Evidentemente, você tem um limite de coisas a serem carregadas e é possível guardar material em excesso em qualquer lugar (ponto positivo para o jogo aqui: qualquer lugar é ponto de armazenamento, você só precisa lembrar onde fica), além de poder quebrar itens de lixo em busca de componentes para a construção de novos itens. Uma dica, porém: não é muito recomendável vender os itens em excesso.

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Isso porque a prática cambial do jogo é monstruosamente desequilibrada contra o jogador: se você, digamos, compra uma escopeta de um vendedor, ela pode custar, por exemplo, 50 CAPS (a moeda da franquia Fallout). Contudo, se você tem a mesma escopeta e quiser vendê-la, o preço é de 2 CAPS. Isso porque falamos de itens prontos, uma vez que os planos que destravam itens mais avançados custam pelo menos 150 CAPS cada, e dinheiro não vem fácil em Fallout 76 B.E.T.A.

Finalmente, caso você morra por qualquer razão, deixará para trás uma sacola com todos os itens que coletou até ali. Imediatamente, o jogo cria um novo prompt de side quest, sugerindo que você vá recuperar a sacola. Francamente? Não vale a pena o esforço. Primeiro porque o inimigo que lhe derrotou estará perto dela; segundo porque você consegue coletar itens similares de novo pela exploração (em menos tempo, aliás); e terceiro porque algum jogador próximo da área pode muito bem roubar sua sacola, efetivamente levando você a uma falha de quest.

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E sobre as missões em si, você tem tanta coisa a fazer, que não há uma sensação de trabalho completo. É natural que um MMO seja perene, constantemente atualizado e sempre novos conteúdos sejam inseridos para manter a sua longevidade, mas as quests em Fallout 76 B.E.T.A. não são apenas numerosas, mas longas. E esquecíveis a ponto de você resolver algumas que sequer havia percebido ter iniciado em primeiro lugar. Ah, e os eventos de localização — aqueles, que estão afixados em uma parte do mapa — são automáticos: chegou na área, está participando, queira ou não.

Quedas técnicas foram um problema

Por estarmos falando de um jogo em beta, é natural que problemas aconteçam no caminho. Não há problema nenhum em, dentro de uma crítica nestas condições, deixá-los passar de um crivo mais chato: fizemos isso com Thronebreaker, se você lembra. Porém, se os erros de Thronebreaker se limitavam a caracteres esquisitos nas descrições de cartas, Fallout 76 B.E.T.A. por duas ocasiões desconectou sem motivo aparente, levando-nos de volta ao menu principal. Até agora, continuamos sem compreender o motivo, mas tudo bem, reiniciamos e o salvamento automático nos colocou exatamente onde estávamos.

Ou seja, uns vinte passos à frente, encontramos alguns inimigos armados. Em combate, é onde a jogabilidade realmente nos falhou: veteranos da série Fallout reconhecerão um macete dos jogos anteriores — o sistema V.A.T.S. (ou “Vault-tec Assisted Targeting System”) de mira automática, constantemente usado para, entre outras coisas, determinar o posicionamento inimigo.

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Aqui, isso é nulo: o V.A.T.S. normalmente implica, nos outros jogos, uma desaceleração completa da partida, a fim de tornar a ação de tiro em primeira pessoa em algo mais parecido com um RPG de turnos. Em Fallout 76 B.E.T.A. o sistema vai mudando a sua posição em tempo real para manter um único inimigo em mira (ou seja, inútil contra grupos), sem desacelerar nada, e a mira automática é mais um panorama próximo do que algo certeiro (errei tiros que apontavam 90% de precisão). É um recurso sempre lembrado na série Fallout que foi praticamente inutilizado aqui.

Isso sem mencionar os bugs: como dissemos, jogos em beta apresentam problemas, é normal. O que não é normal é que estes problemas tenham um impacto direto na experiência do jogador: na maioria dos combates contra grupos, o jogo desacelerava seu desempenho de forma brutal, fazendo com que oponentes à sua frente de repente mudassem para o seu lado, sem qualquer impedimento de ação deles — lhe causando dano que não deveria ocorrer se as coisas fluíssem naturalmente. Seria compreensível se isso fosse feito em uma versão de PC (as configurações de hardware poderiam ser insuficientes, por exemplo), mas a nossa versão testada foi a do PlayStation 4: uma aplicação fechada especificamente para aquele hardware. Não tem como deixar passar.

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É melhor esperar um patch

Fallout 76 B.E.T.A. não é um jogo ruim. A alma da franquia está nele, diversos elementos reconhecíveis estão presentes. O problema é que, como um MMO, este jogo se sai muito bem como um título solo. Não há incentivos de interação, campanhas recompensadas pelas atividades em grupo ou personagens com volume de interação suficiente para melhor grau de imersão. É tudo muito brando e sem gosto, tal qual uma refeição sem tempero em um restaurante fino.

Isso, e os glitches e bugs que causam uma impedância desnecessária na jogabilidade, tornam a experiência deste beta sofrível. Estamos dando quase por certo que venha um patch Day One assim que o jogo for lançado, a fim de corrigir e equilibrar todos os problemas. Até lá, o beta é aproveitável por umas duas ou três horas — nem de longe suficientes para curtir Fallout como a franquia merece ser curtida.