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Análise | The Messenger tropeça, mas é tributo perfeito às eras 8 e 16 bits

Por| 03 de Setembro de 2018 às 14h14

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Devolver Digital
Devolver Digital

The Messenger, a primeira produção do estúdio independente Sabotage e distribuída pela Devolver Digital, é um side-scroller de ação que busca apelar ao coração dos jogadores mais velhos. Quem viveu a era do Nintendinho (NES) ou do Super Nintendo (Super NES) sabe do que estamos falando: progressão lateral, vários inimigos na tela, puzzles de movimento e posicionamento e chefões com ataques padronizados no final de cada fase.

E quem tem essa idade lembra com carinho de um dos jogos mais famosos da época: Ninja Gaiden (1988, no NES), uma fonte da qual The Messenger bebe muito. É uma produção que ousa pela sua simplicidade, especialmente quando a comparamos — nos aspectos visuais e de som, pelo menos — com outros lançamentos do mês de setembro, como Marvel’s Spider-Man ou Shadow of the Tomb Raider. Nesse âmbito, o jogo faz um ótimo trabalho, prezando pela jogabilidade divertida (ainda que, tal qual seus antecessores de 20 ou 30 anos trás, traga momentos enfurecedores). Tanto que os próprios criadores de Ninja Gaiden, que brincaram com uma versão quase finalizada de The Messenger durante o BitSummit, em maio deste ano

Mas The Messenger não é isento de cometer uns pecados próprios, e eles infelizmente são notáveis e constantes o suficiente para quebrar um pouco o ritmo da progressão do jogo. Ainda assim, os detalhes abaixo servem para mostrar: em um mundo cheio de títulos “AAA”, o game do Sabotage é um respiro de alívio que traz uma visão diferente do que estamos habituados, mas sem ficar devendo em nada no aspecto “diversão”. Vamos lá?

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Gameplay

Jogar The Messenger — seja pelo Switch ou pelo PC (a versão que testamos, via Steam) — envolve muitas ações, mas nada que não seja possível deduzir ou aprender com duas tentativas, se muito. Você corre da esquerda para a direita, dá golpes de espada para os dois lados (mas não para cima), pula buracos, escala paredes. Seus inimigos, em sua maioria, morrem com apenas um golpe e uma lojinha acessível por pontos específicos em todas as fases traz upgrades que você compra com “Cacos de Tempo”, a moeda do jogo. A cada fim de fase há um chefão, que ou se movimenta por toda a tela, ou tem o tamanho dela, que desfere ataques perigosos, que requerem atenção, mas seguem quase sempre o mesmo padrão.

A graça aqui reside na inteligência. À primeira vista, as fases parecem fáceis e sem nenhum grande desafio. Porém, por baixo dessa falsa impressão de segurança residem puzzles de precisão e prática de movimentos, marcação exata de tempo para, simultaneamente, desviar de projéteis inimigos enquanto busca-se uma plataforma do outro lado da tela.

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Errou? Morreu. Prepare-se para se frustrar bastante (a gente sabe que você vai morrer muitas vezes. Não minta). The Messenger não seria um tributo aos plataformas antigos se não trouxesse um teste hercúleo à sua paciência. Mas há uma pequena sensação de orgulho ao superar algo que vinha lhe dando dores de cabeça de tanta raiva.

O erro aqui, porém, é a forma como os desafios são dispostos: sem nenhum aviso ou motivo, há saltos nos picos de dificuldade onde, se na tela anterior você apenas saltou um buraco ou matou um inimigo, a seguinte trará projéteis disparados em todas as direções, com plataformas desintegráveis para você se apoiar e buracos que só podem ser saltados com pulos duplos à meia altura, atravessando paredes com espinhos no meio do caminho.

Isso, aliado aos checkpoints distantes entre si, pode desanimar, já que, se você morrer, digamos, agora, terá que trilhar todo o caminho novamente, se arriscando a morrer mais uma vez, para repetir o caminho.... repetindo a operação ad inifinitum até pegar o jeitinho ou desistir. Particularmente, achamos isso uma bola fora dos estúdios Sabotage, visto que é uma dificuldade desnecessária, que empobrece uma experiência até então rica em diversão.

Visual

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Como todo tributo às eras 8 e 16 bits, The Messenger traz um visual pixelizado, perfeitamente reprodutivo aos anos mais primordiais dos jogos de plataforma das décadas de 1980 e 1990. Disso, não há o que reclamar, especialmente considerando que existe uma alternância entre 8 e 16 bits dentro do jogo: não podemos falar muito dela pois há uma ligação com o enredo do jogom, mas tem a ver com saltar 500 anos no futuro, justificando essa transição entre 8 bits e 16 bits. É tudo muito fluido, com diferenças belíssimas e notáveis, tanto nos gráficos como na trilha sonora, feita na medida certa para que você note a mudança, mas não se concentre apenas nela.

Mais interessante ainda é como o visual se atrela ao gameplay: The Messenger começa como um platformer simples e assim se mantém pelas primeiras horas do jogo. Depois, quando essa mudança de visual é introduzida na história, ele passa a seguir um ritmo conhecido como “metroidvania”, onde novas áreas — antes, trancadas — podem e devem ser acessadas em missões de coleta de itens, interações com personagens nos dois lados do espectro (8 bits e 16 bits). Tudo isso, durante a mesma progressão de tela, por meio de “fissuras temporais”.

Ao trocar uma pela outra, as características visuais se alteram de forma que a experiência de gameplay também é alterada. Definitivamente, um ponto positivo a favor dos desenvolvedores: é perceptível o empenho dado à essa mecânica, e o tributo é mais significante aqui.

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Roteiro

O maior problema de The Messenger reside justamente nesta parte. Toda a mecânica desenvolvida para a transição visual, todo o formato que o jogo usa para a progressão de seus desafios, são pilares que não se sustentam sem um bom enredo “amarrando” o pacote. E, nesse caso, o roteiro ficou devendo.

Isso porque The Messenger começa muito, muito bem em sua narrativa, brincando com os próprios clichês dos jogos da época e quebrando, por várias ocasiões, a quarta parede, interagindo diretamente com o jogador — tem até uma referência a um certo “João Gaiden” que, questionado pelo jogador quem ele seria, o personagem apenas responde “Ninguém, é só um crédito que eu precisava dar”. O destaque fica para o lojista que vende seus upgrades: ele tem histórias que trazem um moralismo deturpado, anedotas humorísticas que remetem aos jogos de antigamente e às superproduções milionárias de hoje, bem como brincadeiras com os desafios que o jogador está prestes a enfrentar.

No entanto, quando a mecânica de transição visual do jogo é introduzida, esse lado mais narrativo é deixado de lado sem grandes justificativas. O próprio lojista, em certos momentos, diz que se cansa do jogador perguntando por histórias e se limita a responder apenas o básico. A impressão que nos foi passada é a de que o pessoal do estúdio Sabotage estava contando com jogadores se dando por satisfeitos apenas com as mudanças visuais. Porém, essa mudança repentina na forma de contar a história é tão “jogada na cara” que é impossível deixá-la de lado.

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Conclusão

Apesar de todas as suas falhas serem notáveis, The Messenger se sai bem como um jogo divertidíssimo, com duração relativamente longa e capacidade de entreter até mesmo os mais exigentes jogadores. Ao contrário do que aparenta, ele não foi feito apenas para os mais velhos, e suas piadas de contexto foram perfeitamente traduzidas para o português brasileiro, aliviando a compreensão delas e trazendo momentos de respiro e sorrisos imaturos à experiência.

Definitivamente, vale a compra se você souber o que procura. Não espere dele uma produção de anos, cheia de dinheiro investido. Mas saiba que ele lhe divertirá tanto quanto.

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The Messenger foi analisado no PC com cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Devolver Digital.