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South Park: A Fenda que Abunda Força – maior, melhor e sem cortes [Análise]

Por| 10 de Novembro de 2017 às 11h49

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South Park: A Fenda que Abunda Força – maior, melhor e sem cortes [Análise]
South Park: A Fenda que Abunda Força – maior, melhor e sem cortes [Análise]

O trabalho de fazer uma sequência pode parecer fácil, afinal de contas o trabalho é feito em cima de bases já estabelecidas e com uma perspectiva de boa vontade da parte dos fãs. Por outro lado, realizar apenas “mais do mesmo” não é suficiente, principalmente em um mercado de jogos tão competitivo e cheio de ofertas como o nosso. Os jogadores sempre querem mais e melhor. Ao mesmo tempo, evoluir demais uma fórmula pode acabar alienando os fãs do original, fazendo com que o tiro saia pela culatra.

Quando se faz a conta e passamos a régua, entretanto, South Park: A Fenda que Abunda Força é um exemplo quase didático de como uma empresa – neste caso, a Ubisoft – pode levar uma fórmula adiante e até mudar sua temática, atraindo novos fãs e abraçando novamente os antigos com novidades e recursos inéditos. É uma evolução das mais saudáveis, no melhor sentido da palavra e, assim como seu antecessor, sem dúvida, um dos melhores RPGs do ano.

O game nos coloca de volta na tresloucada cidade, em eventos que parecem imediatamente posteriores aos do game anterior. A jogatina medieval aparece como um vislumbre familiar, que serve para introduzir as novas mecânicas para os veteranos e acomodar os jogadores de primeira viagem. Mas, logo as apostas aumentam, as ameaças crescem e, acima de tudo, a acidez surge de maneira incrivelmente divertida.

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No controle do Novato, o novo garoto da rua, nos envolvemos com o desígnio do Guaxinim e Amigos, um grupo de super-heróis liderado por Eric Cartman, que dá nome à equipe. Ao lado de outros personagens, nos unimos a uma investigação sobre gatinhos desaparecidos em South Park, de olho na recompensa oferecida pelos donos para... criar uma franquia cinematográfica.

O personagem boca-suja já tem tudo traçado: filmes de origem, séries da Netflix, longas diretamente para o vídeo e até jogos de videogame, bem como crossovers e produções que colocam os heróis para brigar. O objetivo é ser a Marvel desse mundo, já que, como o próprio Cartman diz, buscar o caminho seguido pela DC Comics não vai levar a nada. É uma das primeiras de muitas sátiras não apenas à cultura pop, mas ao estilo de vida online, discussões políticas e culto às celebridades.

Jogar South Park: A Fenda que Abunda Força é como controlar um episódio do próprio desenho animado, com duração média de 14 horas. Tudo aquilo que fez da produção um sucesso está aqui, afinal de contas temos Matt Stone e Trey Parker, os criadores da série, no comando mais uma vez, trabalhando ativamente ao lado da Ubisoft para trazer o máximo de fidelidade possível.

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O humor aqui é inteligente, boca-suja, às vezes meio bobo, mas incrivelmente atual. Piadas contra e a favor a postura dos chamados “justiceiros sociais”, comentários sobre a fixação com ideologia de gênero, presença de famosos como Morgan Freeman e o Peixe Gay (uma alusão ao rapper Kanye West), e, principalmente, a presença onipresente de flatulências e outras nojeiras como o fator que une a todos.

A Fenda que Abunda Força ainda faz pensar sobre a nossa própria infância, quando lixo, brinquedos e qualquer item doméstico poderia virar uma arma ou fantasia. Afinal de contas, apesar de tudo isso, ainda estamos falando de um mundo de crianças incrivelmente criativas, que aqui vivem em um mundo completamente maluco por conta da máquina de sátiras de South Park, que funciona a todo vapor neste título.

Peidos, classes e um pouco de estratégia

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A maior evolução de South Park: A Fenda que Abunda Força encontra-se em sua jogabilidade. O título ainda mantém o bom e velho sistema de combate em turnos, uma herança dos RPGs japoneses e um estilo que não aparece mais com tanta frequência assim, mas adiciona uma mecânica de movimentação que adiciona um quê de estratégia ao pacote.

Agora, além de escolher os ataques a serem desferidos, o jogador também pode trabalhar com o posicionamento dos personagens no cenário. Isso abriu espaço para diferentes tipos de movimentos, como ataques de área, que podem ser esquivados, golpes que podem atingir diversos oponentes em uma fileira e até efeitos de ambiente, com inimigos e heróis sendo lançados sobre objetos do cenário.

Na maioria do tempo, o próprio Novato estará lutando ao lado de três outros heróis e é aqui, também, que o pensamento estratégico se faz presente. Nem todos os tipos de personagens são eficazes no combate a qualquer tipo de inimigo, principalmente quando falamos dos chefões. É preciso conhecer, mesmo que não profundamente, o que cada um faz para criar uma sinergia entre poderes, ataques e movimentação – e o mesmo vale para o próprio protagonista, que pode possuir golpes de diferentes classes, que também precisam conversar entre si.

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Isso, entretanto, só é verdade até certo ponto, pois rapidamente o jogador percebe que South Park: A Fenda que Abunda Força é um jogo bastante fácil. A dificuldade é genialmente atrelada ao tom da pele do personagem principal – quanto mais escura, maiores os desafios a serem enfrentados. Entretanto, esse aspecto acaba se resumindo basicamente à quantidade de itens e dinheiro encontrados pelo cenário, bem como a um sensível modificador no nível de dano causado pelos inimigos.

Na maior parte do tempo, se souber o que está fazendo minimamente, o jogador passará até mesmo pelos combates mais difíceis sem grandes problemas. A criação de artefatos, itens que aumentam a força e evolução do Novato podem se tornar mais lentas quanto maior a dificuldade, mas tais aspectos acabam soando mais como inconveniências do que como desafio.

Em termos de desbloqueios, A Fenda que Abunda Força também traz opções incrivelmente amplas. Durante nossos testes e mesmo depois de mais de sete horas com o game, ainda estávamos desbloqueando ataques e aprendendo novos recursos, como os peidos capazes de parar o tempo ou anular o turno dos oponentes, ou as habilidades especiais de certos heróis que permitem acessar áreas isoladas do cenário. O novo game de South Park não para nunca, nem se torna repetitivo em momento algum.

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Tanto que chega a ser difícil até mesmo encontrar uma distinção entre as missões secundárias e principais devido à maneira interessantíssima como são amarradas ao enredo. Em alguns casos, sua presença é óbvia, como no caso do objetivo colecionável relacionado à coleta de desenhos Yaoi. Em outros, você vai jurar estar avançando na história, e efetivamente estará, mas de maneiras periféricas.

É importante citar, entretanto, que é bem possível ficar perdido nesse mundo. Alguns dos objetivos terciários, se é que podemos chamá-los assim, não aparecem no mapa, assim como portas trancadas ou itens de interesse que só podem ser abertos mais posteriormente no game. Eles liberam itens especiais e, muitas vezes, necessários para seguir em frente, mas dependem apenas da memória do jogador – ou de uma pesquisa na internet – para que possam ser concluídos.

South Park: A Fenda que Abunda Força é daqueles títulos que agradam a praticamente todos. Quem gosta da série de TV, mas não tem intimidade com os jogos, pode sentir certa dificuldade, mas logo aprenderá a se virar. Os fãs da RPG têm aqui mais um prato cheio, assim como quem gosta de ação, pois os elementos estratégicos e de evolução de personagem acabam não sendo tão importantes assim. Quem gosta de tudo um pouco, então, irá se sentir feliz da vida.

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Trata-se de um título que não apenas faz jus ao ótimo game anterior, The Stick of Truth, mas também um daqueles que depõe contra a ideia de que adaptações de obras do cinema ou TV nos games não funcionam. A verdade é que isso só acontece quando não se toma o devido cuidado – quando o carinho com o material e, principalmente, a vontade de ser relevante existem, temos verdadeiras pérolas, como é o caso de South Park: A Fenda que Abunda Força.