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Análise | Observation usa perspectiva inusitada para levar tensão ao espaço

Por| 21 de Maio de 2019 às 11h00

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Análise | Observation usa perspectiva inusitada para levar tensão ao espaço
Análise | Observation usa perspectiva inusitada para levar tensão ao espaço

Enredos de gente perdida no espaço são bastante comuns na ficção científica, desde seus idos até os dias de hoje. São, também, ideias clichês e batidas, que dão a impressão de que, se você já viu uma, possivelmente assistiu a todas. Observation, entretanto, surpreende ainda nos seus minutos iniciais, mesmo que, nos trailers e divulgações, pudesse muito bem passar despercebido como um “Gravidade: O Jogo”.

Essa noção, entretanto, só permanecia para aqueles que não conheciam os nomes envolvidos. Estamos falando de um título distribuído pela Devolver Digital, uma empresa responsável por games que podem ser tudo, menos comuns, e desenvolvido pela No Code. O título anterior da companhia, Untold Stories, já ganhou notoriedade ao dar um jeito diferente para histórias de terror. Aqui, a produtora faz isso de novo, só que de maneira muito maior.

Observation é, definitivamente, o projeto mais ambicioso da empresa e isso, juntamente com a noção de que há algo mais ali além do usual, já nos dá a noção de que algo de muito grande está por vir. O problema é que nós, de protagonistas ativos e portadores dos nossos próprios destinos, somos apenas acompanhantes. Nossa missão, na verdade, é propiciar a sobrevivência da dra. Emma Fisher, presa em uma estação espacial internacional após uma aparente catástrofe.

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Nós somos S.A.M., uma inteligência artificial ao melhor estilo HAL 9000, algo que, ao mesmo tempo, é uma grande referência e outro indício de que há algo mais aqui. Apesar de termos certo controle sobre dispositivos eletrônicos e sistemas de vigilância, estamos limitados às avarias sofridas e também às indicações de Fisher. O problema é que ela não sabe o que aconteceu e mesmo nós, que deveríamos ter uma visão geral da situação pela posição de conexão à estação, sabemos ainda menos; para completar, estamos presos a câmeras e dispositivos eletrônicos jogados por aí.

Mas nem sempre seremos passivos. De vez em quando, Observation dá ao jogador uma visão um pouco mais aproximada e ativa com o uso das esferas. Os dispositivos, semelhantes a algo que veríamos em uma franquia como Portal, permitem que a gente caminhe pelo interior da estação como qualquer humano, atingindo áreas que as câmeras de segurança não enxergam ou avaliando as avarias pela parte externa da estrutura.

Tais dispositivos, entretanto, também representam um obstáculo na jogabilidade de Observation, já que se orientar no uso deles nem sempre é fácil. Estamos no espaço e, logicamente, os locais não têm “chão” nem teto, enquanto podemos nos movimentar dentro e fora da estação em 360 graus. Os mapas do game não ajudam muito e, logo no começo do game, a indicação é que a gente siga por fora da nave até “EAS-11”, para verificar danos causados por uma suposta explosão. Boa sorte tentando chegar até lá e, depois, retornar à origem em uma estrutura em que os módulos são todos iguais e nem sempre conectados em ordem.

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O jogador segue assim, no controle de uma máquina “desmemoriada” que é acessório de uma especialista que entende muito mais do que o próprio jogador, mas também não sabe o que aconteceu. Terminais, computadores e outros aparatos tecnológicos nos dão acesso a pequenos e grandes puzzles, que vão desde acertar simples combinações de botões até sistemas mais complexos, enquanto tentamos acompanhar Fisher pelos ambientes em busca de respostas e companheiros sobreviventes, ligando a energia em um reator ou avaliando o que restou de um segmento da nave.

A estação é enorme e, ao mesmo tempo em que isso dá uma dimensão da magnitude daquilo de que estamos diante, a progressão de Observation também é segmentada. Essa é uma das principais medidas tomadas pela No Code para não tornar o game uma experiência complexa demais, ao mesmo tempo em que não emburrece o palavreado tecnológico, com palavras difíceis sendo ditas pela cientista e um monte de código aparecendo na tela enquanto S.A.M. executa seus diagnósticos ou cumpre objetivos diretos.

E no meio disso, algo de estranho

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Você acaba de abrir uma nova seção da estação, mas então nota algo de estranho. Não você, S.A.M., você, jogador. Uma orientação esquisita apareceu na tela, algo que não deveria estar ali ou que parece realmente esquisito entre linhas de código frias e pálidas. Uma ordem comum para a máquina que controlamos, mas que dá o tom do mistério diante de nós.

Essa é mais uma das facetas que faz com que Observation seja um daqueles games que pega o jogador pelo pescoço. A posição que ocupamos como S.A.M. não é a de alguém operando um computador, mas sim a da própria máquina, presa a protocolos e sua programação. E aquilo que aparece na tela soa, para a inteligência artificial, perfeitamente normal, mesmo que, em outros momentos, seja possível levar adiante a noção de que nosso envolvimento com os incidentes espaciais é maior do que acreditamos.

E, novamente, vem o potencial que nos leva do começo ao fim do game, o tempo todo, em uma posição inusitada. Falar diretamente da trama aqui seria dar spoilers, e mesmo algumas indicações dadas nesta análise já podem soar como tal. A trama com ar episódico, mas entregue de maneira completa e com direito até mesmo a uma abertura que poderia muito bem passar na televisão, deve ser experimentada em sua plenitude, de forma direta e fresca, para um melhor aproveitamento.

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Adicionam e muito a essa empreitada o bom uso de filtros, distorções e interferências nas imagens para, muitas vezes, dar a impressão de que estamos vendo imagens reais, criadas a partir dos belos gráficos de um título com uma ótima performance visual, sem instabilidades nas taxas de quadros por segundo ou cortes na tela. Observation sempre é bonito, sempre é imersivo e, principalmente, sempre é instigante.

Cair nos clichês e nas formas passadas seria muito fácil e rápido para uma empresa que mostra, mais uma vez, não se contentar com o óbvio. Por mais que o terror de Gravidade seja incrível, e perfeitamente adequado em um game de terror, não é isso que temos aqui. Por mais que Perdido em Marte seja uma história incrível, no livro ou na tela, e que adoraríamos jogar, essa nunca é a proposta. Observation vai além e, com isso, se transforma em algo que se sustentaria em pé mesmo sem tantas referências e elementos.

Mas eles estão lá, usados de maneira interessantíssima em um dos títulos mais curiosos e envolventes desse primeiro semestre. A vida dentro da cabeça de S.A.M. não é fácil e guiar Fisher por esse labirinto de códigos, letras miúdas, mapas ilegíveis e orientação complicada é complexo; a recompensa para quem seguir adiante é não apenas a sobrevivência, mas também uma experiência bastante memorável.

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Observation foi testado no PlayStation 4, em cópia digital gentilmente cedida ao Canaltech pela Devolver Digital.