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Análise | Ninjin: Clash of Carrots mistura bom beat n’ up com simplicidade

Por| 04 de Outubro de 2018 às 14h36

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Wagner Wakka/Canaltech
Wagner Wakka/Canaltech

Ninjin: Clash of Carrots é um game surpreendente em vários aspectos. Criado pela empresa indie de São Paulo, Pocket Trap, o jogo é uma mistura de runner lateral com beat n’ up. A quem não está familiarizado com nenhuns dos termos, isso significa que você corre infinitamente pela tela da esquerda para direita e interage com tudo que aparece na sua frente de uma só maneira: descendo a porrada.

O caráter surpreendente é que, por mais simples que a premissa seja, o estúdio conseguiu dar ares de complexidade e níveis interessantes de dificuldade à gameplay. Pequenas nuances que vamos pegando somente com o controle na mão e horas de jogo.

Para além disso, outra surpresa é o nível de polimento e conteúdo para um título criado por uma equipe pequena. Atualmente, o time conta com apenas quatro integrantes fixos e mais outros freelancers esporádicos. O estúdio começou em 2013 exatamente para a criação de Ninjin, uma ideia que surgiu de Game Jam.

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A primeira versão do game saiu para iOS. Trazia já a ideia básica de runner e pancadaria, mas ainda não tinha o acabamento e outras opções lançadas nesta versão final. “Este é daqueles projetos que são difíceis de terminar, mas não queríamos que fosse um desenvolvimento infinito também”, explica Henrique Alonso em entrevista ao podcast Mothership do Overloadr.

O game chegou em setembro para os consoles da nova geração e PC após um conturbado conjunto de mudanças de ideias. “Ficamos um bom tempo desenvolvendo uma outra proposta de jogo, algo 3D. Mas não tava rolando. Aí tivemos que tomar a decisão difícil de voltar atrás”, explica Alonso.

A escolha parece ter sido acertada. O cenário 2D e a estética que lembra desenhos minimalistas do Cartoon Network caem bem em um jogo frenético e cheio de informações na tela. Talvez um visual 3D na mesma proposta fizesse Ninjin atravessar a linha tênue de poluição visual em cujo limite fica tão bem.

Nuances

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O objetivo de Ninjin é bastante simples. O jogador escolhe acessórios e armas (uma principal e outra de distância) e precisa enfrentar hordas de inimigos em cada fase. Tais conjuntos são bem definidos e sinalizados por uma barra na parte inferior da tela, indicando quantas hordas ainda faltam para terminar aquele nível. Isso ajuda na estratégia de economia de vida e saber se você pode ou não ser mais ousado nos combos.

Entretanto, se Ninjin surpreende pelos detalhes, quais são eles? O primeiro é o fato de o jogador nunca conseguir dar golpes normais para trás (isto é da direita para a esquerda). O seu personagem, sempre correndo, não inverte o golpe com a arma principal, assim como a maior parte dos inimigos. Ou seja, é preciso sempre estar atrás (do lado esquerdo na tela) deles para dar o golpe.

Por outro lado, seu personagem também tem um dash que pode ser usado como golpe na direção oposta. Mas aqui é preciso ter cuidado: cada dash consome uma quantia de sua barra de estamina.

Ainda, o jogador tem a opção de lançar projéteis, como facas e shurikens, usando o analógico da direita. Ou seja, também pode atingir inimigos atrás do seu personagem com o custo de estamina.

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Outra função de dashs e projéteis é segurar o combo lá em cima. A cada horda de inimigos, é possível tentar fazer um combo descendo a porrada o máximo de vezes sem tomar dano. O que pode parecer meramente estético, ganha uma nota de gameplay quando o jogo devolve isso em quantia de vida, caso o número de golpes seguidos seja alto.

Como é preciso bater rápido para não perder a sequência de combo, tanto dash quanto projéteis funcionam para este tipo de estratégia. E como gastam estamina, o jogador precisa usá-los com certa inteligência.

Tudo isso, atrelado a um sistema de ranqueamento no final de cada fase, dá um toque muito complexo a um game de premissa simples. A parte boa é que a maioria das decisões tomadas neste jogo são pensadas para melhorar jogabilidade e recompensar a dificuldade por vezes bastante alta.

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Itens, muitos itens

Outro toque que aumenta (e muito) as possibilidades de Ninjin é quantidade de variações de armas a se escolher. Os itens se dividem em termos de alcance (longo, curto, médio), classe (espada, lança, martelo e outros), número de poder (referente ao dano) e porcentagem de acerto crítico. Ainda, algumas armas têm características especiais, como congelar ou colocar fogo nos inimigos.

O destaque aqui vai para o fato de que a mudança de armas realmente faz com que sua gameplay se transforme. Você pode escolher uma arma mais pesada e com dano, por exemplo, só que ela será mais lenta e difícil de encaixar combos.

Para os projéteis, vale a mesma coisa. Se você pegar um muito grande e pesado, consequentemente ele dará mais dano, mas vai gastar mais estamina para ser usado.

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Os itens ainda são o único modo de você realmente crescer dentro do jogo. Sem um sistema de level, ou árvore de habilidades, é na base dos itens que o personagem evolui e fica mais forte.

Isso é bem equilibrado pela disponibilidade de novos itens na loja do game. À medida que se vai avançando no jogo, poucas e pontuais armas caem pela fase ou surgem para compra, permitindo um novo avanço. Os preços (pagos em cenouras) são bem equilibrados e não obrigam o jogador a entrar várias vezes em uma mesma fase para levantar o montante e evoluir. Tudo é bem orgânico e compensador.

Toque de narrativa

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Em um beat n’ up com runner, a expectativa não é de uma história profunda, não é mesmo? Contudo, o enredo de Ninjin: Clash of Carrots tem seu charme. Ele conta a história de uma cidade que foi assaltada por um grande imperador (vale lembrar que ele tem toda uma estética japonesa, afinal ninjas). Os invasores levaram toda a remessa de cenouras que a cidade tinha, cabendo ao jogador literalmente correr atrás para recuperá-las.

O primeiro ponto forte é que este é um dos poucos títulos cuja narrativa é adaptada de acordo com o personagem que você escolheu. É possível jogar com Ninjin, o coelho que dá nome ao game; ou Akai, a também ninja feminina. Caso se utilize apenas um dos dois, ou os dois, o game traz algumas pequenas nuances de que reconhece qual personagem foi escolhido. Um toque simples, mas que mostra o zelo do estúdio com a sua própria trama.

O texto é muito divertido, com uma narrativa que não cansa, apesar da alta sequência de balões. O ponto negativo aqui é que algumas fases param literalmente para o papo entre chefões, inimigos e personagens principais, tirando um pouco o ritmo do game. Talvez se o texto fosse diluído entre as hordas, ou mesmo apresentando durante a pancadaria, o game traria mais fluidez.

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Mesmo assim, vale acompanhar a história e cair na ideia deste título.

Escalada da dificuldade

Se Ninjin tem muitas nuances para colocar o jogador em um bom nível de complexidade, também tem uma barreira de dificuldade que, por vezes, pode ser frustrante. Isso porque, já lá para o segundo mundo, o caldo começa a entornar e as coisas ficam mais e mais difíceis.

Os níveis altos, necessariamente, não entram como o principal problema, uma vez que o jogo tende a equilibrar dando mais cenouras ou disponibilizando itens mais fortes como recompensa.

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Entretanto, como o game tem um sistema de hordas, é bastante frustrante morrer lá na nona onda de inimigos e saber que você vai precisar matar todas as oito novamente. Talvez um sistema que punisse, mas permitisse ao jogador voltar ao menos já da metade para frente, traria uma qualidade maior de vida para o título.

Isso se agrava, sobretudo, nas fases finais. O jogo traz uma série de elementos que são difíceis e demorados de se vencer, sendo que cada fase pode comer de você uns bons 5 a 7 minutos. Ou seja, a morte ali no final de tudo pode ser um grande banho de água fria na diversão.

Versatilidade

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Um último fator de destaque aqui são as variações e possibilidades de endgame de Ninjin. A começar, ele encaixa perfeitamente para o Switch, permitindo que duas pessoas joguem ao mesmo tempo de forma confortável em cada joy-con.

Todo o título está disponível em multiplayer, sendo também de fácil conexão online nas fases.

Ainda, há um modo endless, que pode ser utilizada também para testar as habilidades e conseguir mais cenouras.

A brincadeira aqui é que o personagem está participando de um programa de televisão para se provar o melhor. Para isso, ele entra na arena somente com armas básicas, sem melhorias, especiais nem projéteis diferentes. A cada 3 hordas vencidas, pode escolher entre três itens aleatórios.

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Segundo Alonso, a ideia é que esta parte seja voltada para quem já está avançado no título. Por isso, não há descrição de nenhum dos itens apresentados e o jogador só tem 30 segundos para escolher entre os três.

Vale a pena?

Ninjin: Clash Of Carrots é um jogo que vale a pena. A quem gosta de um bom beat n’ up (ou variantes disso), este título é muito cuidadoso e competente no que faz, tomando conta de muitos detalhes. O jogo é profundo, complexo, mesmo sem parecer tanto assim, com poucos botões e fácil de pegar o jeito.

O ponto negativo talvez seja a escolha por hordas de inimigos, o que tira um pouco o ritmo do game, mas não chega a ser nada que incomode tanto.

A criatividade (até no nome) de armas, inimigos, fases, personagens, no texto e em outros itens faz compensar cair de cabeça neste título.

Recomendação: é um game que cabe muito bem no Switch, tanto na versão portátil quanto ligado na TV.

Vale lembrar que, como produção brasileira, o título está claramente traduzido para o português, com muitos regionalismos. Então, pode ficar tranquilo com a barreira da língua.

Ninjin: Clash of Carrots está disponível desde o dia 4 de setembro para PC, PlayStation 4, Xbox One e Switch. O game foi desenvolvido pela Pocket Trap e publicado em parceira com a Modus Games. No Canaltech, o game foi testado em versão para Switch gentilmente cedida pelos desenvolvedores.