Análise | Mônica e Guarda dos Coelhos é ótimo e divertido, mas peca na história
Por Wagner Wakka | 21 de Dezembro de 2018 às 13h33
Quando Mônica e Guarda dos Coelhos foi apresentado na Brasil Game Show deste ano, estava exposto ali, no estande da Microsoft, o melhor que ele pode oferecer. A quem ainda não sabe, este título dos personagens icônicos de Maurício de Sousa é uma reimaginação de No Heroes Here, game de “tower defense” criado pelo estúdio brasileiro Mad Mimic.
Os desenvolvedores toparam brincar com a proposta já antiga da Maurício de Sousa Produções de pegar jogos já “consagrados” e dar traços de Turma da Mônica. Isso aconteceu no Mega Drive e se repetiu desta vez na atual geração.
Com isso, Mônica, sendo muito maior que No Heroes Here, tem a missão de elevar o que o game propôs em mecânicas de forma tão magistral. Infelizmente, não é o que acontece aqui.
Apesar de Mônica e Guarda dos Coelhos ser um game bom, com algumas novas mecânicas para esta versão, derrapa naquilo que a Maurício de Sousa Produções faz de melhor: contar histórias.
(Não) Brilha estrelinha
A narrativa de Mônica e a Guarda dos Coelhos derrapa, e muito, na sua execução. Isso porque foi preciso encaixar a Turma dentro do contexto do jogo. A proposta inicial em No Heroes Here era que pessoas comuns precisavam colaborar entre si para defender o castelo de invasores. Por isso a ideia de não haver heróis, como já sugere o nome em inglês.
Tal mote contudo, se perde na versão Mônica. Então, como contornar isso? O roteiro é que uma estrela cadente caiu na Terra e, por sorte, encontrou a “lendária Mônica” (?), que a ajudaria a buscar as relíquias do Sansão (?), cujo poder permitiria que a estrela voltasse para a sua casa (?).
Assim, quando os personagens da turma entram nestes castelos onde estão as relíquias, invasores chegam para tentar roubar o poder. Assim se desenrola a trama.
O jogador mais positivo pode pensar: “calma lá, este é um jogo para crianças, não precisa ter uma narrativa mais complexa”. Sim, este é um pensamento respeitável. Contudo, pintar No Heroes Here com a beleza de Mônica era a única função da Maurício de Sousa Produções, já que todo resto em jogabilidade estava bem desenvolvido pela Mad Mimic.
Em suma, a única obrigação da editora era fazer aquilo que faz de melhor: contar uma boa história. Veja bem, estamos falando da publicadora de quadrinhos de maior sucesso do Brasil e uma das maiores do mundo. Dessa forma, o que é contado em Mônica e a Guarda dos Coelhos é muito aquém do que a empresa de Maurício de Sousa faz com seus quadrinhos e até o que se parece propor para outras mídias, como o cinema.
A história, mesmo que para crianças pequenas, é bem fraca e parece que não teve o esmero que a companhia tem com suas propriedades intelectuais.
É bom de jogar?
Dito isso, vale ressaltar mais uma vez: Mônica e a Guarda dos Coelhos é um jogo excelente e divertido. Contudo, este mérito é todo da Mad Mimic.
A desenvolvedora traz para esta versão toda a maestria que já tinha entregue em No Heroes Here. Diferente da narrativa, entretanto, a jogabilidade avança neste game.
No jogo da Mônica, há algumas novas mecânicas que o tornam ainda mais desafiador e divertido.
Para defender o castelo da invasão do mal, há três opções de munição, aqui transformada em relíquias do coelho Sansão. A azul é a que causa danos efetivos nos inimigos. A amarela, paralisa os ataques e movimentações por alguns segundos. A roxa cria uma gosma no chão que impede a movimentação.
O jogo, contudo, peca um pouco em empregar todas essas mecânicas logo na primeira fase. O que acontece é que, no início, somente o Sansão azul é necessário para vencer as fases com excelência. Logo, as outras duas opções sobram na jogatina.
Tais variações passam a ser mais necessárias lá para frente, quando o título põe mais inimigos e cria mais empecilhos para andar pelo castelo.
Junto disso, cada fase também conta com três metas a serem cumpridas, caso você queira fazer 100% do jogo. Entre elas está, por exemplo, não tomar nenhum dano no castelo ou impedir que os inimigos encostem na porta.
Para conseguir fazer essas metas, é preciso, sim, que o jogador pense com mais calma quais as munições pretende usar e busque uma boa estratégia. O ponto forte é que, mesmo que tais metas não sejam essencialmente tão difíceis de serem cumpridos, dão uma camada de diversão a mais para os castelos, criando momentos de tensão muito divertidos.
Outra adição bem-vinda em Mônica e a Guarda dos Coelhos é que ele tem mais obstáculos dentro do castelo. Por exemplo, em uma das fases uma barreira precisa ser desabilitada toda vez que jogadores forem pegar matéria-prima para produção das munições.
Tudo isso cria novas camadas e mostra muitos jeitos de se defender os castelos no jogo.
Parceria
Mônica e a Guarda dos Coelhos empresta de No Heroes Here a sua principal característica. Ele é feito para se jogar em várias pessoas. O game permite que até quatro jogadores se divirtam ao mesmo tempo nas fases.
Mais que isso, ainda é preciso que todas as pessoas se coordenem para conseguir os melhores resultados. Logo, é importante avisar: prepare-se para as eventuais brigas.
Para entender o caráter tão divertido de Mônica e a Guarda do Coelhos, foi preciso mais uma vez recorrer ao público-alvo deste jogo: os pequenos. Os “testes” do Canaltech aconteceram, em sua maior parte, com o controle na mão dos pequenos.
Vale ressaltar: o título é muito eficiente em explicar de forma clara para eles o que é preciso fazer. Sem nenhum acompanhamento de um “adulto responsável”, a dupla que brincava no game seguiu de vento em popa.
Com raras exceções em disputas sobre quem conseguiria escolher a Mônica (como essa menina é carismática, não é mesmo?), os pequenos estabelecem um bom diálogo e parceria ao entenderem que, sozinhos, não conseguem vencer os inimigos. Afinal, também não há heróis na versão de Turma da Mônica.
Como um game tipicamente competitivo, pode ser uma boa pedida para ensinar as crianças a dividirem os encargos e vitórias em um mundo que as instiga a serem cada vez mais competitivas. Ou seja, um convite para o oásis da parceria em um deserto de solidão que podem ser os jogos.
Mônica e a Guarda dos Coelhos funciona muito bem, tanto para cativar, quanto para apresentar as mecânicas. Com foco nos menores, a utilização de ícones e a exploração visual, deixando de lado longos tutoriais escritos, caem como uma luva para o entendimento e compreensão dos pequenos.
Tudo isso faz deste novo jogo uma excelente pedida para juntar a criançada e funciona muito bem até para aquela parceria pais e filhos na frente do console.
Turma da Mônica
Por fim, vale perceber que, sim, a adição da propriedade intelectual de Maurício de Sousa dá um novo gás para um game cujas mecânicas merecem destaque. No Heroes Here bebeu de jogos colaborativos como Lovers in a Dangerous Spacetime e trouxe para os consoles e PC boas novidades para o gênero.
Ainda, é incrível como os personagens da Turma são cativantes com os pequenos e tornam toda a brincadeira ainda mais divertida. A única ressalva fica mesmo por conta da fraca qualidade de texto e enredo, mesmo direcionado para crianças. Infelizmente, um potencial do que a Maurício de Sousa pode fazer e que não foi alcançado.
No fim, Mônica e a Guarda dos Coelhos é uma lembrança do quanto a Turma é uma franquia poderosa e de como é bom ver esses personagens sendo bem adaptados para os games.
Por outro lado, nos recorda, também, como a Maurício de Sousa renega a segundo plano a mídia e se mostra pouco empenhada a se oferecer para além do que a desenvolvedora entrega em termos de jogabilidade.
Enquanto a produtora continuar nesta toada dos games, em propor apenas adaptações, ainda podemos dizer que ela está longe de um jogo no nível que a Turma da Mônica tem nos quadrinhos. Não por incapacidade da indústria de jogos, mas por uma aparente falta de vontade da Maurício de Sousa Produções.
Mônica e a Guarda dos Coelhos foi lançado para PC, Mac, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch no dia 5 de dezembro. Ele foi desenvolvido pela Mad Mimic em parceria com a Maurício de Sousa Produções. A análise do Canaltech foi feita com uma cópia para PlayStation 4 cedida gentilmente pelos desenvolvedores.