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Análise | Hitman 2 aposta na criatividade, mas o enredo acaba pagando o preço

Por| 19 de Novembro de 2018 às 11h27

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Análise | Hitman 2 aposta na criatividade, mas o enredo acaba pagando o preço
Análise | Hitman 2 aposta na criatividade, mas o enredo acaba pagando o preço
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A história do desenvolvimento de Hitman 2 é conturbada, mas também representa uma grande superação. Diante dos resultados insatisfatórios do primeiro jogo, fruto, em boa parte, da equivocada decisão de publicar o título em um formato episódico, a Square Enix decidiu interromper qualquer trabalho com a franquia para, depois, vendê-la para a desenvolvedora IO Interactive, que trabalhava há anos com ela.

A produtora buscou novas parcerias para distribuição, mas, trabalhando sem o jugo de uma grande corporação por trás, parecia livre para brilhar. E liberdade é justamente a palavra de ordem de Hitman 2, um game que expande a já complexa jogabilidade do antecessor ao mesmo tempo em que tenta atrair mais jogadores para essa nova fase da franquia, mesmo deixando a desejar quando o assunto é a misteriosa e intrigante história do Agente 47.

Falar no novo game como uma continuação, inclusive, soa um pouco esquisito. Ele se parece mais com uma segunda temporada de Hitman, expandindo a partir das bases sólidas firmadas no primeiro game e, até mesmo, entregando as fases do anterior remasterizadas e com suporte às novas possibilidades de jogabilidade. A recomendação para os novos jogadores, inclusive, é começar por elas antes de embarcar nas novas aventuras do assassino mais letal dos games.

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Por mais que a história seja citada como o principal motivo para isso, entretanto, ela não é exatamente o foco do título. As belas cutscenes do anterior, por exemplo, são substituídas por imagens que lembram os quadrinhos. Entre as fases, temos animações que, na verdade, são quadros estáticos com diálogos narrados para contar a história que se passa longe das cenas de assassinato e furtividade.

A busca do Agente 47 por seu passado e dissidentes de sua organização sombria continua, mas na medida em que ele se aproxima do mistério por trás de suas origens e do tal “cliente misterioso” que está nos bastidores de tudo, o jogador acaba mais interessado no próximo estágio do que naquilo que está sendo narrado. Em um jogo tão bonito, colorido e cheio de possibilidades, a falta de cutscenes interessantes soa como uma interrupção e uma quebra de clima.

O mesmo pode ser dito do enredo em si, anticlimático e tedioso, ao mesmo tempo em que faz de tudo para remeter a uma grande história de espionagem. Mesmo grandes revelações e confrontos esperados pelos fãs desde o primeiro Hitman soam, aqui, como algo trivial e corriqueiro, com os conflitos sendo resolvidos de maneira plana e sem grandes eventos, podendo frustrar aqueles que esperavam mais desse recomeço da saga do Agente 47.

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Quem joga o título, entretanto, percebe claramente qual é o foco da IO Interactive, e ele recai totalmente sobre a jogabilidade. Talvez devido aos problemas ao longo do desenvolvimento e uma vontade de trabalhar ainda mais naquilo que já havia tornado o primeiro Hitman interessante, a desenvolvedora aposta nas mais variadas maneiras de matar, inclusive algumas bizarras e completamente humorísticas, para levar o jogador a explorar os cenários enormes e cheios de possibilidades.

Se o rol de métodos letais do Agente 47 sempre foi grande, espere só para ver o que ele pode fazer desta vez. A quantidade de armas, itens e caminhos pelas fases é gigantesca, com os cenários vastos e cheios de elementos contendo centenas de NPCs, ameaças e elementos para serem aproveitados. Nada parece jogado, bastando apenas que o jogador mova as peças da maneira correta para ser bem-sucedido em suas tarefas.

A variação de ambientes também chama a atenção. No cenário de Miami, amplamente divulgado antes do lançamento e casa de uma corrida de automóveis, temos também um laboratório de robótica e toda uma área subterrânea, com carros e aparatos de segurança. Na Índia, passamos não apenas pelos cenários da gravação de um filme de Bollywood como podemos efetivamente entrar na casa das pessoas, presenciando festas, encontros familiares e sustos com a invasão por um estranho.

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Todos os elementos também parecem dançar em um balé perfeitamente coreografado no qual a morte é o objetivo final. Um veneno em cima da mesa, o disfarce de flamingo ou um copo em cima da mesa se apresentam como oportunidades de assassinato durante todo o tempo, enquanto o jogador deve estudar rotinas dos alvos e guardas, entender como funciona o ambiente e, no final, cumprir sua missão da maneira que preferir.

É possível, por exemplo, atacar diretamente e resolver as coisas na base da bala, apesar de essa não ser, nem de longe, a melhor opção. O grande incentivo de Hitman 2 é em prol da ação nas sombras, utilizando disfarces e elementos que não levantem suspeitas, por mais que, em alguns casos, tudo termine com uma explosão ou um belo assassinato na frente dos olhos do mundo. Todo mundo viu o que aconteceu, mas ninguém reparou quando tudo estava sendo preparado.

O game também premia o jogador, de vez em quando, com uma bela sorte e coloca na mistura uma bela dose de oportunismo. Em algumas fases de Hitman 2, estávamos seguindo um dos caminhos possíveis indicados pelo game quando nosso alvo simplesmente apareceu nas proximidades acompanhado de poucos guardas enquanto seguia de um lugar para outro. A calma na hora de tomar uma atitude ainda foi fundamental, mas soou interessante resolvermos o objetivo da missão de forma espontânea, sem que grandes elaborações fossem necessárias.

Passo a passo, a caminho do funeral

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Em cada uma das fases existem pelo menos meia dúzia de cenários construídos para causar mortes da maneira mais espetacular ou intrincada possível. E, como apontaram os próprios desenvolvedores, durante a etapa de divulgação de Hitman 2, o total de possibilidades de assassinato se aproxima da casa das centenas, indo desde as já citadas oportunidades que surgem de repente, passando pelos planos mirabolantes e, também, envolvendo novas combinações de ambos que nem mesmo estavam nos planos da produção, mas são plenamente possíveis no game.

São muitas opções e, com isso, a abordagem pode ser um pouco intimidadora. Para resolver uma reclamação antiga da crítica e dos jogadores, quanto à falta de piedade da franquia Hitman, a IO Interactive incluiu neste game uma nova abordagem, que utiliza indicadores e textos breves para dizer ao jogador o que fazer a seguir.

Desde o início, e nas dificuldades mais baixas, o usuário tem acesso aos cenários pré-prontos para matar os alvos, podendo escolher um deles e ser guiado ao longo do caminho. É claro, a maneira como tudo será feito ainda depende de cada um, com o jogo indicando, por exemplo, que é preciso obter um disfarce ou encontrar um cartão de acesso. A furtividade na realização desses objetivos ainda fica a cargo de quem está no comando, não transformando o título em algo fácil demais.

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Essa indicação mais generalizada também permite observar os diferentes caminhos possíveis e não há punição alguma em interromper o progresso de um para seguir por outro. O que importa, no final das contas, é deixar corpo no chão, com bônus especiais sendo concedidos quando isso é feito sem detecções ou mortes de guardas ou inocentes. Fazer tudo sem ser detectado ou de maneiras criativas também garante pontos de experiência extras.

Os diferentes objetivos, também, fomentam o fator replay de Hitman 2. O game tem apenas seis fases e pode ser terminado, caso o jogador seja habilidoso, em cerca de três horas. Parece pouco, mas aqui estamos falando do cumprimento de cada objetivo uma única vez e não aproveitando o rol de possibilidades e a criatividade proporcionada pela IO Interactive na produção do título.

Se apenas a curiosidade de ver seu alvo falecer de diferentes formas não for suficiente, a produtora ainda incluiu objetivos especiais, extrasdivertidos e easter eggs, além de habilitar determinados itens de acordo com as atitudes tomadas ao longo das fases. Mais estágios virão por DLC e, como dito, os do primeiro game podem ser encarados novamente, por isso não se assuste com o baixo número, pois há muito conteúdo aqui.

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Alguém (ou, nesse caso, muito) tem que ceder

A parte gráfica é outra vítima da pegada dada pela IO Interactive a Hitman 2, além da história e da forma como ela é contada. Não que os visuais do game sejam ruins, pelo contrário, os cenários vastos e detalhados dão o tom a uma direção de arte interessante, cheia de NPCs diferentes e ambientes verossímeis.

A questão é que, ao contrário do que acontece com as mecânicas, há pouca evolução visual, algo que só fica mais evidenciado, novamente, pela escolha bizarra tomada em relação às cenas de corte. Hitman 2 é bonito, mas é belo como o primeiro, apresentando poucas novidades nesse sentido e, novamente, deixando a desejar àqueles que já adoravam a jogabilidade e, agora, terão apenas isso como algo efetivamente relevante nessa sequência.

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São aspectos que reforçam a ideia de que esta não é necessariamente uma sequência, mas sim uma segunda temporada do que já havia sido feito antes. Desta vez independente, a IO Interactive demonstra mais controle sobre a própria franquia e seu método de lançamento, se prepara para uma ampla gama de conteúdo pós-lançamento e, acima de tudo, quer muito mais para o futuro.

As marcas do desenvolvimento conturbado são visíveis, mas o Agente 47 está mais vivo do que nunca, enquanto suas vítimas precisam ficar bem espertas para não acordarem com a boca cheia de formiga. Essa ambição acaba sendo a maior marca do título, que faz melhor tudo aquilo que já tinha sido visto como um sucesso no antecessor, restando apenas seguir adiante e aparar algumas arestas que ainda existem por aí.

Hitman 2 está disponível para Xbox One, PlayStation 4 e Windows 10. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 em cópia digital gentilmente cedida pela Warner Bros. Games.