Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Análise | Guacamelee! 2 é um grande e bom DLC do primeiro

Por| 31 de Agosto de 2018 às 14h22

Link copiado!

DrinkBox Studios
DrinkBox Studios

Guacamelee! 2 é um game que prega para convertidos. Essa é a base do que é preciso saber para se divertir (ou não) com esse título. O jogo foi criado pelo mesmo estúdio do primeiro, mas não carrega essencialmente a mesma equipe, sendo que nos créditos finais há uma menção a isso: “Obrigado ao time do primeiro jogo”.

Contudo, nem por isso ele é assim tão diferente do que originou a franquia. Em Guacamelee! 2 é preciso seguir a saga do “luchador” Juan, agora decrépito, fora de forma e tendo que lidar com a paternidade e a incômoda monotonia da paz.

Guacamelee! 2, então, continua sendo um jogo de exploração em 2D, chamado pelos desenvolvedores de metroidvania, muito embora a exploração fique em segundo plano. O jogo pede que você acesse lugares escondidos e volta a ambientes que só podem ser acessados com novas habilidades. Contudo, tais “locais secretos” e novos caminhos estão sempre escancarados para o jogador, de forma que explorar o mapa não é o maior desafio do game, assim como no primeiro não era.

Casado com a mulher que salvou no primeiro título e com dois filhos, Juan agora vive tranquilo em sua pacata casa, junto à gigantesca e frutífera plantação de agave. Grande parte dos elementos da cultura mexicana (apesar do estúdio ser canadense) se mantém aqui: os esqueletos do Dia de Los Muertos, as piñatas e toda sorte de elementos de uma cultura muito latina. Falemos mais dela adiante.

Continua após a publicidade

Apesar desse clima de depressão pós-heroísmo de Juan, a narrativa se finda logo nos primeiros minutos de jogo, quando uma nova ameaça aparece e Juan é novamente escalado para salvar o Mexiverso. Então, ele recupera sua máscara de luchador e volta a ser o esbelto super-herói do primeiro título. Daqui para frente, Guacamelee! 2 poderia ser um DLC gigante do primeiro, o que não é essencialmente ruim.

A narrativa desta continuação é de que, embora Juan tenha salvado o mundo, os outros universos paralelos sucumbiram ao vilão Carlos Calaca. Contudo, um outro Salvador também conseguiu destruir Calaca no seu universo paralelo e, por conta de sua máscara maligna, está sedento por poder. A ideia do Salvador, então, é ir atrás da Guacamole Sagrada para se tornar o luchador supremo. A questão é que tanto poder fará com que todos os universos paralelos sumam em conjunto, acabando com o mundo.

Embora a história seja rasa, ainda vale um reconhecimento por aqui. O primeiro game se baseava em um conceito de “donzela em perigo”, mote defasado que foi retirado da trama nesta continuação. Com a trama voltada ao vilão inconsequente, a série se mostra mais madura no texto.

Continua após a publicidade

O que há de novo?

Mas Guacamelee! 2 é igualzinho ao primeiro? Calma, também não é assim, pois há pequenas novidades aqui. Primeiro que muitos dos assets foram melhorados, com introdução de reflexos e atualizações da arte que já era bonita. Vale ressaltar, contudo, que muito do que os desenvolvedores tinham de Guacamelee! foi aproveitado para esta continuação: desde casas, personagens e ambientes até planos de fundo.

A principal adição está nas poucas novas habilidades de Juan. Agora, quando está transformado em galinha (como acontecia no primeiro), o jogador também tem a liberdade para bater e dar grande parte dos golpes que Juan profere em sua forma normal.

Se antes a transformação em galinha era apenas um subterfúgio do jogo para criar atalhos e fazer com que o personagem pudesse passar por locais apertados (uma clara referência a morphing ball de Metroid), aqui o Juan-galinha tem toda uma narrativa paralela e muito divertida, além de golpes especiais.  

Continua após a publicidade

Contudo, tais novidades aparecem em momentos muito, mas muito avançados da jogatina, lá para quando você já pegou todas as habilidades apresentadas no primeiro título.

Outra brincadeira interessante, mas que poderia ter sido melhor executada, é a com universos paralelos. Embora o primeiro título já tangenciasse a ideia, aqui, principalmente no começo da trama, há vários ambientes que Juan visita, de universos inspirados em Street Fighter, Limbo, Mario e outras muitas referências.

Mesmo assim, tal viagem não passa do primeiro ato do jogo, dando apenas um gostinho das possíveis viagens de Juan pelos universos que nunca voltam a acontecer durante a trama normal. O game cria a expectativa de que vamos passar por vários ambientes, mas entrega apenas um universo no qual acontece de fato toda a trama.

A impressão que fica é de que os desenvolvedores tinham uma boa ideia para criar novos mundos e referências, mas voltaram atrás no meio do caminho, pois deixaria o escopo ainda maior do que já é.

Continua após a publicidade

Vale lembrar que, em Guacamelee! 2, o jogador tem a habilidade de viajar entre dimensões de um mesmo ambiente apertando apenas um botão. Tal mecanismo está presente em quase todo o jogo, obrigado que as telas sejam desenhadas duas vezes (uma na dimensão dos vivos, outra na dos mortos).

O mesmo acontece com a música: quando o jogador aperta o botão de mudar de dimensão, a trilha se ajusta de forma mais alegre ou fúnebre, um detalhe que mostra o capricho com o desenvolvimento do jogo.

Dessa forma, ter de criar mais mundos seria um trabalho mais que dobrado para a equipe, o que pode ter feito com que eles repensassem essa proposta no meio do caminho.

Continua após a publicidade

Densidade

Apesar de tudo isso, é visível que os desenvolvedores souberam definir o escopo para Guacamelee! 2. O jogo tem lá perto de suas 8 horas para terminar a trama normal.

Durante esse tempo, é visível como tudo avança muito rápido: são vários e vários power-ups que podemos pegar pelo caminho. Isso quer dizer que o jogador não deve passar mais de 15 minutos de gameplay sem que algo novo seja mostrado. Até mesmo nos minutos finais, quase próximo ao chefão, algo inédito é apresentado.

Isso faz com que a jogabilidade se renove o tempo todo em Guacamelee! 2, criando um ambiente que não se torna pedante em momento nenhum. Aliás, como já citado, ele é um metroidvania que tem muito pouco do gênero e mais de plataforma.

Continua após a publicidade

O motivo é que Guacamelee! 2 é muito mais sobre habilidades motoras e como passar por um determinado cenário que exatamente tentar descobrir caminhos secretos. Não raro, pode ser que se fique empacado em uma área não por não saber passar dela, mas por não conseguir apertar os botões na hora certa.

Ainda, outra delícia deste título que o afasta do gênero metroidvania é que ele é bastante centrado no combate. O jogo estimula combos e oferece toda uma gama de movimentos para facilitar a porradaria. A parte inteligente aqui é que as mesmas habilidades usadas para passar os obstáculos nas telas são os golpes usados nos inimigos.

O ponto negativo, contudo, é a facilidade do modo normal (e até mesmo do difícil). Guacamelee! 2 não quer que o jogador tenha problemas em descer a mão em seus adversários.

Continua após a publicidade

Isso fica claro na árvore de habilidades. O jogador pode comprar novos atributos com dinheiro que consegue matando os inimigos e destruindo baús e barris pelas fases. Contudo, o game exige bem pouco para que você complete toda a pequena árvore.

Mais que isso, na fase final, oferece quase que uma tela bônus que fornece uma quantia absurda de dinheiro, caso você ainda não tenha fechado completamente esta árvore. Em suma, é ali que o jogo diz que ele QUER que você chegue no chefão final com todos os atributos no máximo.

Resultado: uma luta final fraca, com pouquíssimo desafio.

Cultura

Continua após a publicidade

Importante dizer também o trabalho interessante que o DrinkBox Studios fez no aspecto cultural do jogo. Como uma empresa canadense, é preciso reconhecer o cuidado que eles têm em brincar com a cultura mexicana (e até latina).

Quem aponta isso é Jorge Albor, um jornalista mexicano em publicação para o Kotaku. Ele se questiona se fica ofendido ou exalta o trabalho dos desenvolvedores na série. Segundo o jornalista, é importante destacar que há piadas com os nomes (Juan Aguacate, versão da pronúncia mexicana para abacate, por exemplo), com locais e a cultura latina, o que enfraquece o nível cultural.

Por outro lado, ele também nota que este é um título que pode fazer com que jogadores se apaixonem pelo ambiente colorido e rico do Mexiverso. A simplicidade que o jogo trata a morte, típica da cultura mexicana, alinhada ao drama do amor acima de tudo, cria um universo bonito de se admirar.

Continua após a publicidade

Talvez, ainda, o estúdio erre a mão no conjunto de piadas. Guacamelee! 2 se comporta como o tio insistente do pavê que procura ser engraçado o tempo todo, reforçado por risadas aqui e ali nos poucos momentos em que ele realmente manda uma boa piada.

O jogo tem boas tiradas, como o universo de galinhas iluminatis. Junto disso, carrega um mundo muito criativo e gostoso de acompanhar, mas passa da linha com a quantidade de piadas e referências na cara do jogador.

Esse, aliás, foi um dos pontos mais criticados no primeiro título, que não só se mantém, como os próprios desenvolvedores fazem piada com quem os critica. Talvez uma humildade que tenha feito falta nesta continuação.

Refinamento

Continua após a publicidade

Por fim, apesar de todos os cuidados do estúdio, ainda parece que falta refinamento em alguns pontos da trama. O primeiro deles é o fato de que o jogador pode optar por jogar não somente com Juan, mas com outros personagens como a sua parceira Tostada. Contudo, caso você esteja jogando com ela, por exemplo, a narrativa continua considerando apenas Juan o grande herói, tirando um pouco da graça de mudar de personagem.

Outro detalhe que incomoda são alguns checkpoint. Existem dois perigos nos cenários que matam Juan com apenas um golpe: espinhos verdes e outras armadilhas em vermelho. O estúdio resolveu que, caso você caia nesses espinhos verdes, seu personagem renasce automaticamente, em um segundo, na última plataforma de onde partiu, sem que haja loading nem nada. Contudo, se cair nos vermelhos, o jogador volta ao último checkpoint, passando por um loading ingrato.

O problema é que há soluções diferentes (sendo uma bem pior) para uma mesma questão. Isso faz com que cair nos armadilhas vermelhas seja algo muito mais odiável que nas verdes, sem que haja nada na narrativa que justifique isso.

Assim, é natural que algumas salas bônus que só contêm armadilhas em vermelho se tornem pedantes e incômodas ao invés de desafiadoras por conta desse detalhe.

Não joguei o 1, e aí?

Caso você nunca tenha colocado as mãos em Guacamelee!, não se preocupe. A continuação começa contando a história do primeiro para situar os novos jogadores. Como a trama se liga de forma bem fraca ao primeiro game, você não deve perder muito da narrativa por cair direto aqui.

Ainda, pode ser que seja mais interessante correr direto para a continuação, uma vez que todas as habilidades e muitos dos personagens do primeiro também estão aqui.

Pra quem gosta de um bom jogo de ação, plataforma e alguma exploração em 2D, a série pode agradar bastante.

Este é título com gameplay rápida e que deve mostrar novas possibilidades do início ao fim, sendo que até o último momento o jogador vai receber algo novo.

Guacamelee! 2 foi lançado em 21 de agosto pelo DrinkBox Studios para PlayStation 4 e PC. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia digital cedida gentilmente pelos desenvolvedores.