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Análise | Em Celeste, dificuldade e diversão estão em perfeito equilíbrio

Por| 16 de Fevereiro de 2018 às 18h45

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Análise | Em Celeste, dificuldade e diversão estão em perfeito equilíbrio
Análise | Em Celeste, dificuldade e diversão estão em perfeito equilíbrio

Fale com qualquer jogador de videogame das antigas e, em algum momento, você com certeza o ouvirá dizer que, hoje, “não existem mais jogos como antigamente”. Saudosismo, preciosismo ou não, a verdade é que, atualmente, a dificuldade da maioria dos títulos está aquém do que era comum há 10 ou 15 anos. “Zerar” um game, naquela época, era raridade e aqueles que conseguiam eram vistos como os heróis da garotada.

Esse é um dos motivos pelos quais, hoje, títulos de dificuldade elevada chamam tanta atenção. Cuphead, Crash Bandicoot e o grande denominador comum, Dark Souls, chamam tanta atenção por, justamente, desafiarem os jogadores de uma maneira que eles não estão mais acostumados. Celeste se une a esse grupo por esse exato motivo, trazendo, ao mesmo tempo, uma personalidade marcante e temas profundos que não costumam ser tão comuns em jogos de plataforma.

O título repete a parceria de sucesso de Matt Thorson, o “Matt Makes Games”, com o estúdio brasileiro MiniBoss. Você pode não conhecer os nomes, mas provavelmente deve ter ouvido falar de sua obra, Towerfall, já visto como um dos títulos competitivos mais divertidos da história recente. Essa hipérbole se repete agora e Celeste representa um dos melhores jogos de plataforma a chegar ao mercado nos últimos anos, disponível para PC, PS4, Xbox One e Nintendo Switch.

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O jogador está no controle de Madeline, uma garota que tem como meta chegar até o topo de uma montanha nevada. Não sabemos exatamente os motivos que levaram ela a encarar tal empreitada, mas a atitude dos outros com relação a isso pode ser uma pista. Ao longo do jogo, vemos uma protagonista em busca de si mesma, procurando provar que os outros estão errados e, acima de tudo, tentando encontrar uma identidade própria.

Tipos estranhos, com o hipster barbudão, a idosa maluca que vive isolada nas montanhas e um dono de hotel que ficou insano pelo isolamento e perda de seu negócio se alternam a fases bonitas e extremamente desafiadoras, enquanto o jogador vai aprendendo a usar poderes e habilidades para vencer desafios, resolver puzzles simples e encontrar colecionáveis.

Celeste é um jogo simples, que utiliza poucos botões. Madeline pode se agarrar às paredes, saltar de uma para a outra e, no mais importante de tudo, utilizar um dash que aumenta o alcance de seus saltos e permite a movimentação em alta velocidade. É na utilização dessas ferramentas aparentemente simples que está um dos segredos que torna o jogo tão interessante.

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A cada fase, novas formas de seguir em frente vão sendo apresentadas. As estratégias usadas no estágio anterior podem não funcionar no seguinte, e, ao aprender um novo rol de habilidades, o jogador ainda assim não estará preparado para o que vem adiante. É assim que os produtores apresentam um título de plataforma relativamente longo, que leva cerca de seis horas para ser finalizado, mas sem cair na mesmice e na repetição em quase nenhum momento.

Sacadas de design ainda são utilizadas para manter a tela o mais limpa possível. Os indicadores estão presentes, mas aparecem de forma sutil, mas clara — o cabelo de Madeline muda de cor quando ela já gastou o dash, por exemplo, enquanto pequenas gotas de suor aparecem para indicar que ela não está aguentando mais se agarrar à parede. Contadores de mortes e colecionáveis aparecem apenas ao final de cada fase, não exercendo pressão nem distraindo o jogador.

Você sabe o que fez

Então, adicionamos a dificuldade à fórmula. Em Celeste, você vai morrer muito — centenas e centenas de vezes. Seja por um processo de tentativa e erro, enquanto entende os cenários, ou, na maioria das vezes, pela falta de precisão nos movimentos, a imagem de Madeline explodindo ao tocar em um inimigo ou caindo em um abismo será uma constante.

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E, em nenhum momento, o jogador se sentirá frustrado ou irritado com isso. A vontade de jogar o controle longe, reflexo comum em muitos títulos de desafio elevado, não dá as caras neste game, que apresenta um balanço muito bem construído entre dificuldade e justiça. Todas as mortes enfrentadas por Madeline são culpa, única e exclusivamente, sua.

Talvez você não tenha pressionado o botão de pulo no momento certo. Frequentemente, utilizará o dash na direção errada, levando a protagonista ao abismo ou fazendo com que ela exploda de cara na parede. Muitas vezes, também, precisará entender o padrão de ataque de um inimigo ou como funciona aquele novo objeto no cenário e, para isso, será preciso sacrificar Madeline uma ou mais vezes.

Não se surpreenda quando, na primeira hora de jogo, seu contador de mortes ultrapassar a marca de 100. Acostume-se e entenda: você não vai ficar melhor, pois da mesma forma que o jogador aprende a utilizar os poderes da personagem principal e lidar com as ameaças, ao passar de fase, tudo estará diferente.

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Celeste também apresenta uma progressão interessante, mais um aspecto que modifica as regras usuais dos jogos de plataforma. Se, normalmente, esses títulos começam devagar, se tornando mais complicados de acordo com o avanço, aqui não há a menor preocupação em fazer isso. Trechos incrivelmente insanos podem ser sucedidos por fases mais fáceis e, depois, por momentos contemplativos em que dá até para voltar pelos cenários buscando colecionáveis ou passagens secretas.

O único aspecto que acaba minando um pouco esse fluxo é a trilha sonora. Não entenda mal, ela é muito bem composta, como todo o restante do jogo, e ajuda a construir bem os momentos de tensão, ao mesmo tempo em que acalma o jogador quando ele não precisa correr. Entretanto, com tantas mortes, ela acaba se tornando repetitiva, justamente, por conta de seus temas fortes. Eles são ótimos, mas ouvi-los durante todo o tempo pode acabar cansando.

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Mesmo assim, a inconstância acaba permanecendo como a única regra por aqui. Não importa quantas vezes seja preciso morrer ou a dificuldade dos desafios à frente, há sempre a vontade de seguir, seja para descobrir o que está adiante em termos de jogabilidade ou entender mais sobre os motivos para que Madeline enfrente uma empreitada para a qual parece ter plena capacidade, mesmo que ela própria e quem está a seu redor duvide disso.

Por fim, unem-se à receita uma abordagem sensível e delicada sobre temas como saúde mental, isolamento e desesperança. Em meio à loucura das plataformas e inimigos implacáveis, ainda dá para parar um pouco e se importar com os personagens, entender os motivos que levaram à maluquice lúdica que eles apresentam e perceber que estamos, todos, diante de grandes desafios a serem enfrentados única e exclusivamente com as nossas habilidades.

Carisma e desafio aparecem embalados em um pacote de Pixel Art, um estilo que, apesar de batido, funciona muito bem aqui. Celeste pode ser curto para alguns e longo para outros, de acordo com a habilidade de cada um. Existem apenas dois aspectos que serão comuns a todos: a necessidade básica é ser preciso e o jogador não vai querer parar enquanto não chegar ao topo da montanha.

* Celeste foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital gentilmente cedida pela MiniBoss.