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Tempestade gigante em Netuno mudou de direção — e agora ela tem uma "colega"

Por| 16 de Dezembro de 2020 às 22h00

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NASA
NASA

O telescópio espacial Hubble flagrou um fenômeno com comportamento misterioso ocorrendo em Netuno: com o telescópio espacial, astrônomos observaram que há uma tempestade escura ocorrendo por lá. A tempestade é maior que o Oceano Atlântico, se formou no hemisfério norte do planeta e foi identificada inicialmente em 2018. O mais “estranho” é que observações feitas um ano depois mostraram que ela começou a seguir para o equador, onde deveria desaparecer — mas, em agosto de 2020, os astrônomos viram que ela mudou sua trajetória e estava seguindo para o norte do planeta. 

A tempestade de comportamento surpreendente não estava sozinha: no início de 2020, o Hubble observou também outra mancha escura. Essa era menor do que a outra, e apareceu temporariamente próxima da outra formação. É possível que seja um pedaço do vórtice gigante que se rompeu, foi para longe e acabou desaparecendo em outras observações: “estamos animados, porque esse fragmento escuro menor pode ser parte do processo de disrupção da mancha escura”, explica Michael H. Wong, da Universidade da Califórnia. Ele ressalta que esse processo nunca foi visto antes: “já vimos algumas outras manchas escuras desaparecendo, mas nunca vimos nada sofrer disrupção mesmo que já tenha sido previsto em simulações computacionais”.

A tempestade maior tem mais de 7 mil quilômetros de extensão, e é a quarta mancha escura observada em Netuno desde 1993; antes desta, duas outras foram descobertas pela sonda Voyager em seu sobrevoo pelo planeta em 1989, mas infelizmente desapareceram antes que o Hubble pudesse observá-las — vale ressaltar que, desde então, este é o único telescópio espacial com sensibilidade suficiente na luz visível para rastrear essas formações. Assim, as observações do telescópio também revelaram que a mudança de caminho do vórtice escuro ocorreu bem quando a “mancha escura jr.”, a formação pouco menor que sua "colega", apareceu. Essa estava próxima da mancha escura principal. 

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Entretanto, a sincronia da mancha menor também foi diferente do esperado: “quando eu vi pela primeira vez a mancha pequena, pensei que a maior estava sofrendo disrupção”, disse Wong. “Não pensei que outro vórtice estava se formando, porque a pequena está bem mais longe e em direção ao equador, nesta região instável. Mas não podemos provar que as duas estão relacionadas, então isso continua um grande mistério”, conclui. De fato, o enigma de como essas tempestades se formam ainda não tem solução. Mesmo assim, pode ser que haja avanços em breve, já que o último vórtice gigante e escuro é o que mais vem sendo estudado.

Formação e clima misteriosos

Os vórtices escuros são sistemas de alta pressão que podem se formar em latitudes médias, que podem posteriormente migrar em direção ao equador. Eles começam com maior estabilidade devido às forças de Coriolis, que fazem com que as tempestades do hemisfério norte girem em sentido horário, portanto, seguindo a rotação do planeta. Entretanto, conforme a tempestade segue para o equador, o efeito de Coriolis perde força e a tempestade também, e acaba se desintegrando. Nas simulações computacionais, as tempestades seguiram um caminho mais ou menos reto em direção ao equador, até que não há mais efeito Coriolis para mantê-las unidas — só que, ao contrário das simulações, a última tempestade gigante não migrou para essa “zona da morte” equatorial. 

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Outra característica misteriosa da mancha escura são nuvens brilhantes por perto, que já estavam presentes nas imagens que o Hubble fez quando o vórtice foi descoberto em 2018. Elas se formam quando o fluxo de ar sofre alguma perturbação e é desviado para a parte superior do vórtice, de modo que os gases são congelados em cristais de metano. Então, essas nuvens podem ter desaparecido bem quando o vórtice encerrou sua jornada para o sul, e a ausência delas pode ser uma pista sobre como essas manchas evoluem.

Amy Simon, do Goddard Space Flight Center, comenta que dificilmente os cientistas saberiam algo sobre essas formações escuras se não tivessem o Hubble. Sem o instrumento, eles poderiam pensar que a Grande Mancha Escura observada pela Voyager estava no mesmo lugar, assim como a Grande Mancha Vermelha de Júpiter. “Agora, podemos acompanhar a grande tempestade por anos e observar seu ciclo de vida completo”, finaliza.

Fonte: Hubble