Telescópio ganha 5.000 olhos robóticos para estudar energia escura
Por Daniele Cavalcante |
Um dos grandes mistérios do universo é a energia escura, uma força distribuída por todo espaço e que acelera a expansão do cosmos. Estima-se que ela represente cerca de 68% do universo, mas ninguém sabe o que é, como é formada ou de onde surgiu. Mas isso pode mudar em breve com o Dark Energy Spectroscopic Instrument (DESI).
Este novo instrumento foi projetado para estudar a energia escura através de nada menos que 5.000 novos "olhos" robóticos. Os cientistas e engenheiros deram esses milhares de olhos de fibra óptica ao Mayall Telescope, um telescópio de 4 metros no Observatório Nacional Kitt Peak, que está em operação desde 1973. Assim, ele ganhou um novo objetivo: explorar a energia escura mapeando a distância entre a Terra e milhões de galáxias e quasares.
Para montar o DESI, quase 500 pesquisadores de 75 instituições em 13 países diferentes se uniram em um projeto que levou uma década em planejamento, pesquisa, desenvolvimento, instalação e montagem. O instrumento já nos deu uma pequena amostra do que ele será capaz de fazer - a primeira imagem de luz de galáxias distantes.
Para realizar sua missão, o DESI aponta automaticamente para algumas galáxias pré-selecionados, captura sua luz e depois divide essa luz em faixas estreitas de cores para mapear com precisão a distância entre essas galáxias e a Terra. Em condições ideais, o DESI pode percorrer um novo conjunto de 5.000 galáxias de uma só vez, cada uma com um de seus 5.000 sensores - é daí que vem o poder do equipamento. Cada sensor pode se concentrar em um novo alvo em cerca de dois segundos. Ou seja, em apenas um minuto, o DESI pode alternar de um conjunto de 5.000 galáxias para outro semelhante.
Dos sensores, que têm a largura de um fio de cabelo humano, a luz dessas galáxias e quasares distantes viaja por uma rede de 241 km de cabos de fibra ótica até chegar a espectrógrafos. Estes, por sua vez, dividem a luz em milhares de comprimentos de onda, permitindo aos cientistas determinar a rapidez com que cada galáxia está se afastando de nós. No total, o DESI medirá e fará um mapa 3D de 35 milhões de galáxias e 2,4 milhões de quasares.
O diretor do DESI, Michael Levi, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley do Departamento de Energia (Laboratório Berkeley), disse que "a maior parte da matéria e energia do universo é escura e desconhecida, e experimentos da próxima geração como o DESI são nossa melhor aposta para desvendar esses mistérios”.
Ainda que já esteja montado, o DESI ainda levará anos para nos trazer todas as respostas que poderá nos proporcionar. "Esses grandes projetos levam anos para serem construídos, anos para operar e anos para entender", diz o professor Daniel Eisenstein, do Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian e co-porta-voz do DESI. É que o trabalho científico de entender os dados geralmente continua muito depois que as missões terminam - esses dados podem estar cheios de surpresas.
Fonte: Universe Today