Sinal na Via Láctea pode ser a 1ª detecção de matéria escura na história
Por João Melo |

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Tóquio pode ter encontrado a primeira evidência direta de matéria escura, uma das substâncias mais misteriosas do universo. Os resultados da pesquisa foram publicados no dia 25 de novembro, no periódico científico Journal of Cosmology and Astroparticle Physics (iopscience.iop.org).
A pesquisa foi liderada pelo astrofísico Tomonori Totani, professor do Departamento de Astronomia da instituição de ensino japonesa. Ele e seus colegas analisaram dados do Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi, da NASA, e identificaram um padrão de energia com origem no centro da Via Láctea que coincide com teorias sobre a substância.
“Se isto estiver correto, até onde sei, marcaria a primeira vez que a humanidade 'viu' a matéria escura. E verifica-se que a matéria escura é uma nova partícula não incluída no atual modelo padrão da física de partículas. Isto significa um desenvolvimento importante na astronomia e na física”, destacou Totani em comunicado.
Sinais de uma colisão invisível
De acordo com o cientista, a equipe detectou raios gama com uma energia muito específica de 20 gigaeletrovolts — uma quantidade extremamente grande de energia — vindo do centro da nossa galáxia.
Esses raios formavam um “halo”, uma espécie de esfera invisível que envolve o disco da Via Láctea e onde a matéria escura estaria concentrada.
“O componente de emissão de raios gama corresponde muito bem à forma esperada do halo de matéria escura”, pontuou o astrofísico.
A principal hipótese elaborada pelos pesquisadores é de que a matéria escura possivelmente detectada seja feita de partículas WIMPs. Essas partículas hipotéticas são conhecidas por terem uma interação fraca, mas que mesmo assim liberam luz com as colisões e se aniquilam.
As análises apontam ainda que o brilho captado tem a intensidade prevista para esse processo de aniquilação de partículas. Por isso, os pesquisadores afirmam que é como se o Fermi tivesse captado um “flash” gerado por uma colisão invisível.
Mistério espacial de quase um século
O mistério em torno da matéria escura começou no início da década de 1930, quando o astrônomo suíço Fritz Zwicky observou que galáxias estavam se movendo mais rápido do que a sua massa deveria permitir.
Diante disso, ele sugeriu a presença de uma estrutura invisível — matéria escura — que gera uma gravidade extra e mantém as galáxias unidas, evitando que elas se despedacem.
Desde então, cientistas conseguiram concluir a existência da matéria escura apenas pelos seus efeitos gravitacionais no universo, visto que ela não emite luz.
Totani acredita que os estudos da sua equipe relacionados às medições de raios gama realmente fizeram essa detecção, mas afirma que os resultados da pesquisa ainda precisam ser verificados por meio de análises independentes conduzidas por outros cientistas.
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Fonte: Universidade de Tóquio