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Objeto binário bastante incomum é descoberto no Cinturão de Kuiper

Por| 01 de Outubro de 2020 às 12h29

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Courtesy of Southwest Research Institute
Courtesy of Southwest Research Institute

Um novo estudo realizado por pesquisadores do instituto Southwest Research Institute (SwRI) revelou a descoberta de um objeto não muito comum: eles identificaram um objeto transnetuniano (TNO) binário na região do Cinturão de Kuiper. O que mais chama a atenção na descoberta é a distância entre os objetos, que é bem menor do que costuma ser neste tipo de corpo.

Os objetos transnetunianos são pequenos corpos congelados que orbitam o Sol com distância além da de Netuno. Já os TNOs binários ocorrem quando dois deles orbitam um ao outro, enquanto seguem orbitando o Sol. A pesquisa que identificou o par binário vem da iniciativa de ciência cidadã Research and Education Collaborative Occultation Network (RECON), que estuda o Sistema Solar exterior. Como o nome já indica, a equipe da RECON trabalha com ocultações estelares para identificar objetos no Cinturão de Kuiper, ou seja, eles analisam o momento em que um objeto passa à frente de uma estrela e a bloqueia completamente. Assim, é possível determinar o tamanho do objeto.

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Rodrigo Leiva, cientista do SwRi, explica que a descoberta tem características interessantes: os dois componentes do objeto estão muito próximos, tanto que existem apenas 350 quilômetros de distância entre eles. Geralmente, os TNOs binários são bem separados, e costumam ter mais de mil quilômetros entre si. Por estarem tão perto um do outro, é difícil detectar este tipo de TNO binário. O Cinturão de Kuiper tem algumas semelhanças ao cinturão de asteroides que fica entre Marte e Júpiter, mas é muito mais massivo e começa na órbita de Netuno a uma distância de cerca de 20 unidades astronômicas (au) do Sol, onde se estende a 50 au.

Os objetos presentes no Cinturão são restos do período inicial após a formação do Sistema Solar, e a maioria deles é congelada. Assim, a descoberta não é interessante somente pela proximidade entre os objetos do par, mas também porque a estrela da ocultação é um par binário: “nesse caso, a estrela oculta também acabou sendo um sistema binário. As estrelas binárias não são incomuns, e os objetos binários também não: o que é incomum é um TNO ocultando uma estrela binária", explica Marc Buie, co-autor do estudo.

Os astrônomos acreditavam que a maior parte dos TNOs surgiu inicialmente em pares binários, mas o fato de estes estarem tão próximos pode ter contribuído para o relacionamento binário de longa data deles. Os autores comentam que a natureza dupla dos objetos dá apoio à possibilidade de que a maioria deles se formou como binária, e que os binários mais próximos têm chances maiores de sobrevivência. Além disso, é possível que os TNOs menores sejam resquícios do início do Sistema Solar.

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Os pesquisadores da RECON tiveram papel importantíssimo para a descoberta: o projeto tem mais de 60 pontos de observação nos Estados Unidos e Canadá, que contêm equipamentos de observação e são operados por professores de escolas, treinados por cientistas. "Para mim, este projeto demonstra o melhor da ciência. Eles estão aprendendo enquanto fazem observações e ajudam a coletar dados. Se não fizessem isso, não saberíamos tanto sobre esses objetos”, comenta Buie.

Agora, Leiva e Buie querem continuar a procura por TNOs com intesse especial nos binários próximos, e querem saber mais sobre o quão comum e abundantes eles são. As descobertas irão ajudar a construir um modelo sobre como o Sistema Solar se formou. “Nosso objetivo é saber o quão comum são os TNOs binários próximos”, diz Buie. “Esse objeto é um em um milhão ou é como 90% deles? Isso vai impulsionar nosso conhecimento para construir modelos melhores de como o Sistema Solar se formou”.

O artigo com os resultados deste estudo foi publicado na revista The Planetary Journal.

Fonte: Universe Today, SwRI