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O que aconteceria se a Terra pudesse se transformar em um buraco negro?

Por| 23 de Novembro de 2020 às 08h20

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Daniele Cavalcante/Gerd Altmann/Pixabay
Daniele Cavalcante/Gerd Altmann/Pixabay

Buracos negros são estranhos e sabemos que eles costumam surgir quando uma estrela entra em colapso. Mas isso poderia acontecer com qualquer outro objeto do universo — desde que outras forças além da gravidade, como a força eletromagnética e quânticas, sejam “desligadas”. O que aconteceria, então, se isso acontecesse com a Terra?

A gravidade é algo tão impressionante que, se atuasse sozinha, ou dominasse sobre as demais forças sobre a matéria, toda a massa entraria em colapso em um volume que seria pequeno demais para toda essa matéria, e se tornaria cada vez mais denso. Essa é a natureza do universo, mas felizmente outras forças estão em jogo, principalmente entre os átomos que compõem a matéria do nosso planeta, por exemplo.

Essas forças, em especial entre os elétrons de átomos vizinhos, são grandes o suficiente para resistir à força cumulativa da gravidade exercida por toda a massa da Terra. Você pode pensar no núcleo terrestre: uma bola de ferro sofrendo pressão de todas as imensas camadas superiores. O único motivo para tudo não colapsar e se condensar até se transformar em um buraco negro são as forças existentes entre os elétrons de um átomo e os elétrons de outro átomo. Em outras palavras, a força eletromagnética é maior que a gravidade.

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O mesmo não ocorre com as estrelas massivas. Quando elas encerram seus ciclos de fusão nuclear, a força eletromagnética não é suficiente para impedir o colapso da matéria em um ponto cada vez menor. Às vezes, surge uma estrela de nêutrons, que já é um objeto incrivelmente denso, ou seja, com muita massa dentro de um pequeno volume. Em outros casos, o colapso resulta em uma singularidade — o coração do buraco negro.

Voltemos então ao nosso exercício de imaginação e imaginemos que todas as forças não gravitacionais da matéria que compõe a Terra sejam desligadas. Não se preocupe, isso jamais poderá acontecer. Mas façamos de conta que algum truque mágico permitiu essa travessura cósmica. Podemos deduzir o que aconteceria com nosso planeta, começando com uma aceleração de todo o material sólido. Imagine só: entre as moléculas há muito espaço, mas agora nada mais pode manter as partículas separadas. Elas começam a se juntar. O chão cairia perfeitamente em direção ao centro da Terra.

Todos os objetos que conhecemos possuem muito espaço entre suas moléculas e partículas, mas, sem isso, eles seriam achatados e tudo cairia em direção ao núcleo terrestre. Ali, na região central, toda essa massa se acumularia. A densidade aumentaria continuamente ao longo do tempo e o volume encolheria à medida as coisas acelerassem em direção ao centro. Perceba: nada desapareceu. A massa e o peso do planeta continuariam os mesmos, mas ele já estaria muito menor.

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Levaria apenas entre 10 a 20 minutos até que matéria suficiente se reunisse em poucos milímetros do núcleo terrestre para formar um horizonte de eventos. Depois de 21 a 22 minutos, toda a massa da Terra teria colapsado em um buraco negro de apenas 1,75 cm de diâmetro. Você consegue imaginar o quão denso isso poderia ser? Imagine quando acontece com estrelas milhões ou bilhões de vezes maiores que o Sol.

A experiência visual seria curiosa. Se, durante esse processo olhássemos para baixo, veríamos um buraco negro distorcendo o espaço sob nossos pés, enquanto cairíamos em direção a ele. A luz ao redor ficaria curvada devido ao efeito de lentes gravitacionais, ou seja, a distorção da própria luz pela força da gravidade.

Já a experiência sensorial seria a mesma de sair do estado de corpo em repouso para uma aceleração gravitacional, ou seja, entraríamos em queda livre em direção ao centro da Terra. Não, não seria muito parecido com um salto de paraquedas — a experiência seria muito mais assustadora porque as leis da física começariam a funcionar de maneira diferente, de modo que nosso cérebro não assimilaria muito bem as coisas. Afinal, jamais passamos por algo assim.

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Não sentiríamos o vento passando, pois estaríamos tão acelerados rumo ao centro da Terra quanto o próprio ar. Não haveria forças de atrito. Cairíamos cada vez mais rápido com o passar do tempo. O “frio na barriga” seria constante. Enfim, bastante desagradável. Além disso, não teríamos a sensação da velocidade que estamos caindo.

A aceleração seria tanta que, ao atingir 64 km de distância do centro da Terra, estaríamos nos deslocando a 112 km/s, enquanto, ao chegar 1 km do centro, estaríamos a 895 km/s. Embora nesse ponto estejamos apenas a um milésimo de segundo do horizonte de eventos, nunca teríamos a experiência de como é chegar lá por causa da espaguetificação. Ou seja, nosso corpo seria esticado como um espaguete.

Isso acontece porque o ponto do nosso corpo mais próximo do núcleo será o mais atraído, enquanto o ponto mais distante dele será o menos atraído (este efeito é conhecido como força das marés). Com isso, nossos pés seriam muito mais puxados para o núcleo altamente denso do que nossa cabeça. Isso não dos partiria em vários pedaços — não por enquanto —, mas esticaria nosso corpo de modo bizarro, cada ponto recebendo uma força de atração diferente, em vários níveis. Tudo isso com uma força de cerca de 110 libras (49,9 kg).

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Bem, ao chegar a cerca de 25 km da singularidade, não sobreviveríamos. As forças das marés fariam com que as juntas começassem a se alongar tanto que não seria mais possível permanecerem intactas. Assim, as vértebras se soltariam e, pouco depois as juntas se separaria. Um pouco mais adiante,as próprias células seriam rasgadas e, por fim, os átomos e moléculas individuais se dividiriam antes de cruzar o horizonte de eventos. É por isso que jamais poderemos descobrir como é o horizonte de eventos — e menos ainda dentro da singularidade.

O lado bom? A dor e incômodo pela espaguetificação duraria apenas cerca de 21 minutos. Depois disso, nossos cadáveres seriam decompostos em átomos e tudo seria engolido para fazer parte da massa de um minúsculo, insignificante buraco negro no universo.

Fonte: Stars With A Bang