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O heliocentrismo foi comprovado há séculos, mas ainda há quem o questione

Por| 11 de Janeiro de 2019 às 08h00

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O heliocentrismo foi comprovado há séculos, mas ainda há quem o questione
O heliocentrismo foi comprovado há séculos, mas ainda há quem o questione

O filósofo e guru de figuras políticas da atualidade, Olavo de Carvalho, atraiu os holofotes em uma polêmica nessa semana por questionar se a Terra orbita mesmo o Sol, além de questionar a física moderna revolucionada por Albert Einstein. Contudo, ele mesmo admite não ser estudioso do assunto, ainda que se mostre cético quanto ao fato científico de que a Terra não é o centro do Sistema Solar.

Em um dos vídeos que viralizou nas redes sociais, ele diz: "No fim do século passado, uma dupla de cientistas, Mitchelson e Morley, disse que se de fato a Terra se move ao redor do Sol, então deve haver diferenças na velocidade da luz em vários pontos da Terra conforme as estações do ano. E eles mediram isso milhares e milhares de vezes e viram que não mudava nada". Na mesma gravação em que ele contesta o heliocentrismo (o Sol sendo o centro do Sistema Solar, com planetas em sua órbita) ele também contesta a teoria da relatividade, de Albert Einstein. "Então, um cidadão chamado Albert Einstein achou que era preferível modificar a física inteira só para não admitir que não havia provas do heliocentrismo". E o que aconteceu foi que a física foi mesmo modificada, não por um capricho ou ego ferido de um cientista, mas sim porque ficou comprovado que conceitos da física aceitos como verdadeiros até então se mostraram incoerentes.

Olavo segue dizendo que "o fato é que, no confronto entre geocentrismo [a Terra sendo o centro do Sistema Solar] e heliocentrismo, não existe uma prova definitiva de um lado, nem do outro". Só que Olavo está errado nessa afirmação, pois as provas de que planetas orbitam suas estrelas estão aí há muito tempo, com as recentes descobertas de exoplanetas orbitando suas estrelas apenas comprovando, mais uma vez, que o heliocentrismo é real.

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Voltando ao experimento de Michelson e Morley, nas palavras de Gustavo Rojas, astrônomo da Universidade Federal de São Carlos, "o que esse experimento [de Mitchelson e Morley] tentou fazer era detectar a velocidade da luz no éter; eles imaginavam que a luz precisava de um meio para se propagar". E como a dupla não conseguiu medir diferença alguma na velocidade da luz em vários pontos do planeta e em diferentes épocas do ano, "a conclusão óbvia é que a velocidade da luz é independente do movimento do observador", mostrando que o conceito inicial que levou a dupla a conduzir tal estudo estava incorreto.

E as comprovações de que os planetas giram ao redor do Sol (refutando a antiga ideia de que a Terra seria o centro do nosso sistema) datam de séculos atrás. No século XVII, Galileu Galilei observou as diferentes fases do planeta Vênus, que são explicadas pela rotação da Terra e de Vênus ao redor do Sol, com Vênus ficando antes da Terra na ordem dos planetas. No século seguinte, James Bradley descobriu que a posição das estrelas oscila, e essa variação se chama "aberração da luz", o que acontece justamente por conta do movimento da Terra ao redor do Sol. A luz das estrelas está chegando até nós, mas justamente graças ao movimento da Terra, há uma pequena mudança na detecção dessa luz com o passar do tempo. Ainda, há o fenômeno da paralaxe, pelo qual há uma mudança na posição das estrelas no céu com o passar do tempo. Se nosso planeta fosse estático, não veríamos as estrelas mais próximas mudarem mais de posição no céu em comparação com as mais distantes — todas estariam sempre exatamente na mesma posição.

E quanto ao que Olavo fala sobre a teoria da relatividade de Einstein, e também sobre não existir prova definitiva "nem de um lado nem do outro", mais uma vez seu entendimento da ciência se mostra infundado. Cassio Barbosa, professor do departamento de física do Centro Universitário FEI, explica que "a relatividade tem sido provada há mais de 100 anos, e todo mundo que inventa um teste para derrubar a relatividade tem falhado", sendo que a relatividade vem sendo comprovada experimentalmente, e não está mais apenas no campo da teoria há muito tempo.

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Um dos fatos científicos que comprovam a teoria da relatividade é a recente detecção das ondas gravitacionais, com um anúncio feito em fevereiro de 2016 comprovando a teoria que o gênio elaborou há mais de 100 anos. Na ocasião, um observatório detectou a colisão de dois buracos negros que aconteceu há 1,3 bilhão de anos, o que distorceu o "tecido" do espaço-tempo ao seu redor, formando, então, as ondas gravitacionais que se propagaram à velocidade da luz e enfim puderam ser observadas daqui da Terra. Einstein citou a existência das ondas gravitacionais em 1915, quando descreveu a teoria da relatividade geral, em que massas aceleradas podem causar tal fenômeno capaz de perturbar o campo gravitacional. E, em 2017, uma outra colisão de buracos negros foi descoberta também produzindo ondas gravitacionais, com três norte-americanos conquistando o prêmio Nobel justamente por terem confirmado que as ondas gravitacionais são reais.

É compreensível que as pessoas sem conhecimento científico questionem tais fatos comprovados pela ciência, até porque a Terra gira tão lentamente, para os padrões humanos, que não é possível sentir qualquer coisa daqui da superfície. Mas, antes de refutar fatos científicos com base em uma experiência pessoal, é preciso lembrar da existência do método científico: um conjunto de regras básicas para a produção de conhecimento científico, o que envolve reunir evidências empíricas que sejam verificáveis em experimentos ou pesquisas de campo, com a aplicação da lógica para sua análise. Há variados métodos que fornecem as bases lógicas para tais análises, por sinal. E, para Barbosa, "quando você conhece o método, começa a entender como as coisas progridem no campo da ciência; a partir do momento em que você compreende o método e como se chegou à conclusão, você percebe como as coisas são feitas pela ciência e não vai se deixar enganar por falácias".

Fonte: UOL