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Nuvens de alta altitude podem explicar água líquida no passado de Marte

Por| Editado por Patricia Gnipper | 28 de Abril de 2021 às 12h00

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NASA/JPL-Caltech
NASA/JPL-Caltech

Um dos maiores mistérios da ciência moderna envolve Marte e o que aconteceu com a água que, um dia, correu pela superfície do planeta. Embora nosso vizinho seja, hoje, um grande deserto, existem evidências de que, um dia, houve rios e lagos por lá. Contudo, ainda não está claro como a água pode ter ficado no estado líquido. Assim, um novo estudo propõe que, na verdade, o Planeta Vermelho sofreu uma espécie de efeito estufa causado por uma camada de nuvens.

Curiosamente, quando a água estava líquida, Marte recebia bem menos luz solar. Assim, o estudo liderado pelo cientista planetário Edwin Kite utilizou um modelo computacional para verificar o que pode ter acontecido para mantê-la assim mesmo com condições desfavoráveis. Segundo o modelo, uma camada de nuvens geladas em alta altitude poderia ter causado um efeito estufa que, talvez, seja o responsável: “houve uma desconexão constrangedora entre nossas evidências e a habilidade de explicá-las em termos de física e química”, disse. “Essa hipótese pode preencher essa lacuna”.

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Embora várias explicações dessa “contradição” já tenham sido propostas, nenhuma funcionou muito bem — por exemplo, houve pesquisadores que sugeriram que um asteroide teria atingido o planeta, e o impacto poderia ter liberado energia cinética suficiente para aquecê-lo, mas cálculos mostraram que esse efeito não duraria mais que dois anos. Em paralelo a isso, os vestígios dos antigos lagos e rios marcianos indicam que o calor ficou em Marte por pelo menos centenas de anos. Assim, Kite e seus colegas se voltaram para as nuvens e viram que, mesmo em pouca quantidade, elas são capazes de aquecer planetas de forma semelhante como ocorre com o efeito estufa.

Essa ideia foi proposta pela primeira vez em 2013, mas foi abandonada porque, na época, foi considerado que ela funcionaria somente se as nuvens ficassem na atmosfera por um período bem mais longo do que ficam na Terra, o que tornou o cenário pouco plausível. Contudo, com o modelo 3D da atmosfera de Marte, Kite e sua equipe descobriram algo faltando para a hipótese funcionar: se houvesse gelo cobrindo amplas áreas em Marte, existiria umidade suficiente na superfície para a formação de nuvens de baixa altitude. Nesse caso, elas não aquecem tanto os planetas e podem até ajudar a resfriá-los, porque refletem a luz solar.

Por outro lado, se o gelo existir em porções, como no topo de montanhas, o ar no solo fica seco e favorece a formação de uma camada de nuvens em altitudes maiores. Por isso, o modelo mostrou que os cientistas podem precisar descartar algumas ideias elaboradas com base em nosso próprio planeta: “construir modelos com base no que vemos na Terra não funciona, porque não é completamente parecido com o ciclo da água no nosso planeta, que move a água bem mais rapidamente entre a atmosfera e a superfície”, explica Kite. Como a água se move de forma mais rápida e desigual entre os oceanos, a atmosfera e o solo, alguns lugares ficam bastante secos — como o deserto do Saara —, enquanto outros têm mais umidade.

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Ao contrário da Terra, Marte teve menos água sobre sua superfície; por isso, quando o vapor d’água vai para a atmosfera, ele fica por lá. “O modelo sugere que, quando a água foi para a atmosfera primordial marciana, ela ficaria lá por um bom tempo — algo próximo de um ano —, o que cria as condições para nuvens antigas de alta altitude", finaliza Kite. O rover Perseverance poderá ajudar na investigação dessa ideia com a análise de seixos, que permite a reconstituição da pressão atmosférica do passado de Marte.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista PNAS.

Fonte: University of Chicago