Cátion metil: molécula de carbono é encontrada em nebulosa pela 1ª vez
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper | •
Uma molécula essencial, com carbono em sua estrutura, foi encontrada no sistema d203-506, formado por um disco protoplanetário cercando uma estrela jovem. Chamada cátion metil, ela chama a atenção porque tem uma propriedade única: apesar de não reagir bem com o hidrogênio, ela reage facilmente com outras moléculas, permitindo a formação de moléculas mais complexas com átomos de carbono.
- Vida extraterrestre: conheça iniciativas que buscam sinais de vida fora da Terra
- É possível existir vida em planetas no centro da Via Láctea?
A molécula CH3+ foi encontrada no disco ao redor de uma pequena estrela anã vermelha na Nebulosa de Órion, a cerca de 1.350 anos-luz. Estudos publicados no início da década de 1970 já haviam previsto a importância do cátion metil para a química interestelar baseada no carbono, mas até então, ela ainda não havia sido detectada no espaço.
Isso mudou com o telescópio James Webb, cujos instrumentos permitiram a observação da molécula. Melhor ainda: ela foi encontrada em uma região onde planetas capazes de abrigar vida podem se formar. Entretanto, o sistema recebe grande quantidade de radiação de estrelas jovens e massivas por perto. Por muito tempo, isso foi considerado um problema para a formação de moléculas orgânicas complexas, já que a luz ultravioleta pode destruí-las.
Ao mesmo tempo, há evidências significativas de que a maioria dos discos protoplanetários ficam expostos à intensa radiação ultravioleta — e, inclusive, este pode ter sido o caso do Sistema Solar no passado. Surpreendentemente, a molécula no sistema d203-506 pode ter relação com a radiação ultravioleta das estrelas.
Para pesquisadores, a luz delas pode fornecer a energia necessária para a formação do composto. Além disso, o período de radiação ultravioleta pelo qual alguns discos protoplanetários passam parece ter efeito significativo na composição química deles.
Estes efeitos apareceram nas observações do Webb: o telescópio mostrou que discos protoplanetários que não estão expostos à luz ultravioleta intensa, vinda de alguma fonte próxima, têm grande quantidade de água. Já no caso de d203-506, eles não detectaram água alguma.
Olivier Berné, autor principal do estudo que descreve as descobertas, acredita que isso mostra como a luz ultravioleta pode mudar a composição química de discos protoplanetários. "Ela [a luz] pode, na verdade, ter papel crítico nas etapas químicas essenciais da origem da vida, ajudando a produzir CH3+ — algo que, talvez, não tenha sido considerado o suficiente antes", observou ele.
As descobertas foram apresentadas em um artigo publicado na revista Nature.