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Fenômeno descoberto em Marte ajuda a entender interferências de rádio na Terra

Por| 04 de Fevereiro de 2020 às 22h20

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NASA Goddard/CI lab
NASA Goddard/CI lab
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Um fenômeno bastante comum na ionosfera da Terra, causador de interrupções nas comunicações a rádio, foi descoberto em Marte pela sonda MAVEN, da NASA. Trata-se de "camadas" e "fendas" na parte eletricamente carregada da ionosfera do Planeta Vermelho.

Talvez você já tenha experimentado uma interrupção em estações de rádio, ou até mesmo uma substituição por outra estação. Pois bem, isso provavelmente aconteceu por causa dessas camadas, formadas por gás com carga elétrica - um plasma. Essas camadas se formam repentinamente na ionosfera, a região mais alta da atmosfera, e têm duração de várias horas, agindo como espelhos gigantes no céu.

Assim, as camadas refletem os sinais de rádio no horizonte, causando interferência nas estações de rádio, mas não apenas isso - pode afetar também comunicações via rádio entre duas pessoas, de aviões e outros meios de transporte e podem cegar radares militares.

Embora sejam comuns e facilmente detectáveis aqui no nosso planeta, essas camadas ainda não são muito bem compreendidas e seus efeitos são imprevisíveis. É que elas se formam em altitudes que são muito difíceis de explorar na Terra. Por isso, essa descoberta inesperada em Marte mostra que o planeta vizinho pode ser um lugar interessante para pesquisar e entender melhor esse fenômeno.

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Glyn Collinson é um pesquisador do Goddard Space Flight Center, da NASA, e também o principal autor de um artigo publicado nesta segunda-feira (3) na Nature Astronomy. Ele diz que “as camadas estão tão próximas, acima de todas as nossas cabeças na Terra, e podem ser detectadas por qualquer pessoa com um rádio, mas ainda são bastante misteriosas". Para Collinson, é irônico que uma das melhores maneiras de compreender o fenômeno é lançar um satélite a outro planeta.

Aqui, as camadas se formam a uma altitude de aproximadamente 100 km, onde o ar é muito leve para uma aeronave voar, mas espasso demais para qualquer satélite orbitar. A única maneira de alcançá-la é com um foguete, mas essas missões duram apenas algumas dezenas de minutos antes de voltar à Terra. "Sabemos que elas existem há mais de 80 anos, mas sabemos muito pouco sobre o que acontece dentro delas, porque nenhum satélite pode ficar baixo o suficiente para alcançar as camadas", diz Collinson, "pelo menos, nenhum satélite na Terra".

Todavia, naves espaciais podem orbitar Marte em altitudes mais baixas e observar mais detalhadamente essas características da ionosfera no Planeta Vermelho. O MAVEN conta com vários instrumentos científicos que medem plasmas na atmosfera e no espaço ao redor de Marte e, por isso, obteve medições recentes que detectaram picos repentinos na quantidade de plasma por lá.

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Joe Grebowsky, ex-cientista do projeto MAVEN e co-autor do artigo, já havia reconhecido os picos em uma experiência anterior com voos de foguetes pelas camadas da Terra. "As baixas altitudes observadas ​​pelo MAVEN preencherão uma grande lacuna no nosso entendimento desta região em Marte e na Terra, com descobertas realmente significativas a serem realizadas", disse ele.

As observações da sonda já estão, inclusive, descartando muitas das ideias de cientistas sobre os fenômenos. Por exemplo, o MAVEN descobriu que as camadas também têm um espelho ao contrário - uma "fenda" - onde o plasma é menos abundante. A existência de tais "brechas" era completamente desconhecida antes dessa descoberta em Marte, e anula os modelos científicos existentes que dizem que isso não poderia se formar. Além disso, ao contrário da Terra, onde as camadas têm vida curta e imprevisível, as camadas marcianas são muito duradouras e persistentes.

Isso já oferece aos cientistas uma melhor compreensão dos processos fundamentais que formam e sustentam essas camadas. De acordo com a NASA, futuras explorações em Marte permitirão construir melhores modelos científicos de como as camadas se formam. Um dia, essas pesquisas podem nos levar a prever quando elas surgirão aqui na Terra, garantindo uma comunicação de rádio mais confiável.

Fonte: NASA