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Dados antigos da Voyager 2 revelam bolha de plasma gigante em Urano

Por| 25 de Março de 2020 às 22h00

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Lazca
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Usando dados coletados há 34 anos pela sonda Voyager 2, cientistas descobriram que a ela passou por uma bolha magnética gigante enquanto passava pelo misterioso planeta Urano. Isso permaneceu “em segredo” por todo esse tempo, até que uma equipe analisou os dados e encontrou pistas sobre o ambiente magnético do planeta e sobre como ele leva a atmosfera de Urano para o espaço.

Atmosferas de planetas em todo o Sistema Solar vazam para o espaço - até mesmo a da Terra -, e esse processo é bastante lento. A atmosfera terrestre, por exemplo, ainda vai durar por pelo menos um bilhão de anos. Marte já foi um planeta com atmosfera espessa, talvez até mesmo habitável, mas se tornou o mundo árido que vemos hoje após alguns bilhões de anos de vazamento.

Mas como isso acontece? Os cientistas teorizam que os campos magnéticos, que podem proteger o planeta dos ventos solares, também podem fazer com que a atmosfera acabe escapando para o espaço. Por isso, para estudar o fenômeno, os pesquisadores dão total atenção ao magnetismo. E a passagem da Voyager 2 por Urano revelou o quão estranho é o magnetismo por lá.

Diferente de qualquer outro planeta do Sistema Solar, Urano gira quase totalmente de lado, completando uma volta em si mesmo a cada 17 horas. O eixo de seu campo magnético está apontado 60 graus para longe do eixo de rotação. Assim, enquanto o planeta gira, sua magnetosfera oscila. É algo tão estranho que os cientistas ainda não sabem como modelar.

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Ao analisar os dados de 1986, os autores do estudo, DiBraccio e Dan Gershman, conseguiram mais detalhes do que as pesquisas anteriores. Linhas suaves de outras medições deram lugar a picos e quedas irregulares. Um pequeno zigue-zague deu a dica de que se tratava de um plasmoide - uma bolha gigante de plasma que, mais recentemente, foi identificada como um dos fenômenos que faz planetas perderem massa.

Essas bolhas de plasma, ou gás eletrificado, se desprendem do final da "cauda magnética" de um planeta, ou seja, a parte do campo magnético que é soprada pelo Sol e fica com o formato de uma pequena cauda. Com o passar do tempo, isso pode drenar os íons da atmosfera de um planeta, alterando sua composição.

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Comparando esses resultados com os plasmoides observados em Júpiter, Saturno e Mercúrio, os cientistas estimaram que a bolha de Urano teria uma forma cilíndrica de pelo menos 204.000 km de comprimento e até 400.000 km de diâmetro. Diferente de alguns plasmoides que têm um campo magnético interno torcido, a Voyager 2 observou laços magnéticos suaves e fechados. Isso acontece quando um planeta lança pedaços de sua atmosfera para o espaço enquanto gira.

De acordo com as estimativas de Gershman, plasmoides como esse poderiam representar entre 15 e 55% da perda de massa atmosférica em Urano, uma proporção maior do que ocorre em Júpiter ou Saturno.

Agora, como foi que essa perda de atmosfera mudou o planeta ao longo do tempo, é algo que só saberemos quando enviarmos espaçonaves dedicadas a estudar Urano de perto - a Voyager 2 fez apenas um sobrevoo enquanto navegava pelo Sistema Solar. Mas as novas descobertas ajudam a levantar novas questões importantes sobre o planeta gasoso. “É por isso que amo a ciência planetária”, disse DiBraccio. “Você sempre vai a algum lugar que não conhece”, completa.

Fonte: Geophysical Research Letters, NASA