Buraco negro supermassivo da Via Láctea pode ser vizinho de muitos outros
Por Patricia Gnipper |
Buracos negros supermassivos comumente residem no centro de suas galáxias, por vezes "passeando" e saindo um pouco da região central. Um exemplo desse tipo de buraco negro é o Sagittarius A, que fica na Via Láctea. Mas, agora, pesquisadores acreditam terem desvendado o mistério desse movimento de escape – e isso pode estar relacionado à presença de outros buracos negros menores por ali.
O estudo em questão foi documentado no Astrophysical Journal Letters, mostrando que esse fenômeno pode ocorrer como consequência de uma fusão entre duas galáxias. A menor se junta a uma de maior dimensão, e seus buracos negros acabam se acumulando.
Sendo assim, os astrônomos da Universidade de Yale, de Washington, do Institut d'Astrophysique de Paris e do University College London que conduziram o estudo acreditam que galáxias com uma massa equivalente à da nossa têm grandes chances de abrigar vários buracos negros em seu interior.
Para chegar a essa conclusão, o pessoal usou a simulação cosmológica Romulus com o objetivo de prever a dinâmica dos buracos negros supermassivos dentro de suas galáxias. E, entre os resultados, confirmaram que é altamente improvável que qualquer buraco negro errante e desconhecido apresente algum risco para o Sistema Solar. Segundo Michael Tremmel, de Yale, "estimamos que uma abordagem próxima de um desses peregrinos que poderia afetar o Sistema Solar deva ocorrer a cada 100 bilhões de anos, ou quase dez vezes a idade do universo".
Complementando essa pesquisa, no início do mês um outro estudo indicou que o centro da Via Láctea pode abrigar não apenas o Sagittarius A, mas também uma grande população de buracos negros menores. Enquanto o supermassivo é mais ou menos quatro milhões de vezes mais massivo do que o nosso Sol, esses outros buracos negros menores podem ser tantos que o número total pode ser de aproximadamente 20 mil orbitando o centro de nossa galáxia. Vale ressaltar que, até o momento, temos conhecimento de apenas 60 buracos negros em toda a galáxia (cuja extensão é de 100 mil anos-luz).
Para chegar a essa previsão, a equipe de astrofísicos do Columbia Astrophysics Lab decidiu olhar com mais atenção para sistemas estelares binários em que uma estrela faz par com um buraco negro. Nesses casos, a matéria dessas estrelas é "consumida" pelo parceiro, o que resulta em despejo de gases que, ao se acumularem, formam um disco ao redor do buraco negro. Esse disco emite raios-x, fazendo com que a detecção do buraco negro seja, portanto, possível.
Foi assim que a equipe conseguiu detectar 12 buracos negros em um raio de apenas 3 anos-luz do Sagittarius A e, analisando a distribuição espacial deles, os astrofísicos concluíram que podem existir de 300 a 500 sistemas binários do tipo, e mais de 10 mil buracos negros ao redor do supermassivo que se encontra no centro da galáxia.
Segundo Chuck Hailey, astrofísico que fez parte da pesquisa, "isso é só a ponta do iceberg" no que diz respeito a estudar esses buracos negros. Isso porque os buracos negros com os tais discos, que permitem sua descoberta, são apenas uma pequena parcela da totalidade dos existentes.
Vale lembrar que estudar buracos negros não serve somente para conseguirmos mapear com mais precisão tudo o que há na Via Láctea, mas também é essencial para o estudo das ondas gravitacionais, previstas por Albert Einstein e confirmadas apenas há alguns anos. Sendo assim, ter conhecimento de quantos buracos negros existem em nossa galáxia pode ajudar os cientistas a entenderem melhor as ondas gravitacionais, descobrindo que tipos de ondas podem ser atribuídas a buracos negros e como elas se formam.