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Amostras do asteroide Ryugu chegam ao Japão e serão analisadas em todo o mundo

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No final da semana passada, a nave japonesa Hayabusa2 deixou na Terra a cápsula com amostras do asteroide Ryugu, que podem responder perguntas importantes sobre a formação do Sistema Solar. A cápsula foi liberada a 200 quilômetros de altitude da superfície e caiu em direção a um deserto australiano, contendo amostras que foram coletadas em julho de 2019. A agência espacial japonesa deverá distribuir as amostras para cientistas de todo o mundo no final de 2021, permitindo que cientistas diversos façam estudos paralelos.

Com as amostras em mãos, os cientistas irão analisar os grãos para estudar suas origens. Entre as equipes que vão receber o material, estão cientistas do Laboratório de Astrobiologia Analítica no Goddard Space Flight Center, da NASA, onde os pesquisadores irão utilizar instrumentos para buscar evidências moleculares que ajudem a completar lacunas da história do Sistema Solar primordial. Segundo Jason P. Dworkin, diretor do laboratório, a equipe vai tentar entender como a Terra se tornou o que é hoje: “como, de um disco de um gás e poeira em torno do Sol e formação, conseguimos vida na Terra e possivelmente em outros lugares?”, questiona.

Dworkin é o representante de uma equipe internacional que vai estudar uma parte das amostras em busca de componentes orgânicos precursores da vida na Terra. Assim, quando ele e a equipe receberem o material, vão procurar componentes orgânicos para entender como se formaram e se distribuíram pelo Sistema Solar — os astrobiólogos têm interesse pelos aminoácidos, moléculas que formam as proteínas responsáveis por algumas das funções mais importantes para a vida, como a formação do DNA. Então, ao estudar as diferenças nos tipos e quantidades de aminoácidos preservados em rochas espaciais, os cientistas conseguem criar um registro de como elas se formaram.

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Os astroquímicos do laboratório têm — ironicamente — um grande desafio em mãos, já que vão ter que trabalhar uma amostra bem pequena de material. A Hayabusa2 não deve ter coletado pouco mais que alguns gramas de poeira do Ryugu, algo como cerca de seis grãos de café. Essa pequena amostra será distribuída entre vários cientistas, e Dworking e sua equipe terão um material que equivale quase um floco de neve. Com a amostra em mãos, eles vão suspender as partículas em uma solução de água em um tubo de vidro.

Em seguida, a solução será aquecida a 100 °C por 24 horas para tentarem extrair qualquer componente orgânico que possa ser dissolvido na água. Depois, a solução será inserida em máquinas poderosas de análise, que vão separar as moléculas de acordo com a forma e massa para identificá-las posteriormente. Após analisar a constituição do Ryugu, os cientistas vão compará-la aos dados do Bennu, que foi a rocha com a qual a missão OSIRIS-REx fez história ao coletar amostras em outubro. "Os dois asteroides têm formas similares, mas o Bennu parece ter bem mais evidências de água e componentes orgânicos", comentou Dworkin. "Vai ser bem interessante ver como eles ficam na comparação, considerando que vieram de diferentes corpos do Cinturão de Asteroides e têm diferentes histórias".

Um viajante de longe

Rico em carbono, o Ryugu é o fragmento de um antigo asteroide que se formou na nuvem de gás e poeira que originou o Sistema Solar. O Ryugu fica a 15 milhões de quilômetros de distância de nós, e sua poeira é um dos materiais preservados de forma mais eficiente que a ciência já viu. A sonda Hayabusa2 o alcançou em 2018, mas foi somente em fevereiro de 2019 que o primeiro pouso ocorreu. Já no meio daquele ano, a nave fez seu segundo pouso e coletou amostras com sucesso.

Após deixar a cápsula, a sonda já seguiu viagem com destino ao asteroide 1998 KY26. Esta rocha mede pouco menos de 1 km de diâmetro, e se encontra mais próxima da Terra do que o Ryugu — só que, como a Hayabusa2 vai precisar fazer algumas manobras em torno de outros objetos para conseguir alcançá-lo, ela só deverá chegar lá em 2031.

Segundo Hiroshi Naraoka, professor de geoquímica na Kyushu University e líder da equipe global da Hayabusa2, o objetivo da missão é entender como os componentes orgânicos se formaram no ambiente extraterrestre: “queremos analisar vários componentes orgânicos, incluindo os aminoácidos e componentes de enxofre e hidrogênio para construir a história dos tipos de síntese orgânica que ocorrem em asteroides”, finaliza.

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Fonte: NASA