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Crítica | The Wilds reinventa fórmula de Lost mirando no público adolescente

Por| 28 de Dezembro de 2020 às 12h00

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Amazon Studios
Amazon Studios

Um grupo de passageiros sofre um acidente aéreo e cai numa ilha misteriosa e deserta, no meio do oceano; de repente, eles precisam criar uma convivência do zero ao mesmo tempo que estudam possibilidades de serem resgatados dali. Nesse processo, acabam descobrindo que nem tudo é o que parece... Esse tipo de enredo pode soar muito familiar para quem acompanhou séries de televisão nos anos 2000, e mesmo quem não assistiu Lost associa a trama imediatamente.

Lost foi um verdadeiro fenômeno na televisão global, fazendo tanto sucesso que acabou sendo agregada à cultura pop norte-americana. A produção chegou a ter um dos maiores elencos da época e até hoje é considerado um dos mais altos orçamentos da indústria. Durou, ao todo, seis temporadas, sobrevivendo à crise de roteiristas de Hollywood e mantendo-se como uma das melhores séries de TV até hoje. Sabendo disso, convenhamos: não é nada fácil lançar um projeto cuja trama é praticamente a mesma de um dos maiores patrimônios da cultura pop.

Quando a Amazon anunciou The Wilds, foi praticamente inevitável não relacioná-la a Lost: um grupo de meninas sofre um acidente aéreo e cai numa ilha deserta, tendo que lidar com a convivência uma da outra enquanto procuram maneiras de sair do local. Analisando por uma ótica mais fria, soa como a mesma história criada por Jeffrey Lieber, J.J. Abrams e Damon Lindelof, mas seria muito infeliz e injusto com a nova produção do Amazon Studios resumir a trama de Sarah Streicher em uma simples releitura de Lost.

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Atenção! A partir daqui, esse texto pode conter spoilers de The Wilds e referências à Lost. Leia por sua conta e risco.

The Wilds acompanha um grupo de nove garotas cujo avião (que partia em direção a uma espécie de colônia de férias somente para meninas) caiu numa ilha, matando o piloto e o restante da tripulação, deixando apenas as passageiras. A série dedica um episódio a cada personagem da trama com os tradicionais flashbacks para explorar e desenvolver ainda mais suas personalidades.

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Não é coincidência que as protagonistas sejam todas mulheres da mesma faixa etária, pois The Wilds traz uma proposta de reflexão quanto às problemáticas da idade e coisas que vão muito além da convivência na ilha. "O que tinha de tão bom nas vidas que deixamos para trás?", questiona Leah (Sarah Pidgeon) numa sessão interrogatória com dois policiais que investigam o acidente. "Se vamos falar sobre o que aconteceu [na ilha], teve trauma sim. Mas ser uma adolescente nos Estados Unidos? Esse sim era o pesadelo", completa.

Após os segundos iniciais do primeiro episódio, o espectador é arremessado para uma linha do tempo antes do acidente aéreo, mostrando os mais íntimos segredos da vida de Leah e, eventualmente, das outras garotas. A montagem e edição da série, responsabilidade de Sophie Corra e Steve Edwards, ganha muitos pontos nisso, sabendo contrastar diversas cenas do primeiro ao último episódio e transmitindo as mais variadas sensações sem deixar o público se perder na narrativa.

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Entre os pontos positivos estão os esperados plot twists conforme os mistérios vão se desencadeando com a evolução da convivência entre as garotas. Além disso, numa série cuja trama gira em torno de problemas vividos por garotas adolescentes, a identificação do público-alvo é indispensável, e isso The Wilds faz muito bem: nenhuma personagem é parecida com a outra, desde coisas simples como estatura ou cor do cabelo a orientação sexual, religião, etnia e a traços de personalidade mais complexos, como temperamento forte e baixa autoestima.

Além disso, a série vai além das tradicionais preocupações da idade, como amor não-correspondido, sexo e pressão para sair bem na escola, e as garotas ainda devem viver com adultério dentro de casa, envolvimento com homens mais velhos (que é apresentado de duas formas: em que uma das partes se vê apaixonada por tal e outra em que ocorre abuso sexual), pressão estética que entra em conflito direto com problemas genéticos e homossexualidade dentro de uma família puramente cristã. The Wilds sabe explorar muito bem cada um desses assuntos, tornando a identificação por parte do público fácil e quase orgânica. O mesmo acontece com a torcida e o apego pelas personagens.

Com enredo muito parecido com a franquia literária The Maze Runner ou os primeiros momentos da Dharma Initiation em Lost, logo é descoberto que o acidente aéreo e todo o drama das garotas na ilha faz parte de uma experiência científica com humanos que visa estudar a força e resistência do corpo feminino nas mais extremas situações. Ainda não dá para dizer se The Wilds errará a mão ao tentar transmitir uma mensagem feminista na segunda temporada (que já foi anunciada pela Amazon), já que o assunto foi introduzido discretamente nos últimos episódios; o que não é exatamente um erro, já que em nenhum momento é revelado 100% do objetivo do programa.

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Aliás, já que diversas referências foram citadas ao longo desse texto, vale dizer que os fãs de Orphan Black terão uma breve nostalgia do final da segunda temporada ao assistir a última cena da série.

Ainda não se sabe muito bem qual rumo terá a segunda temporada, mas a aposta do Canaltech é que, a partir de agora, o público verá uma presença científica muito maior na história e ainda mais plot twists do que a primeira temporada. The Wilds talvez não seja tão indicada para os fãs de Lost, já que a comparação é praticamente inevitável; por outro lado, a série agrada bastante o público que mira, trazendo personagens e situações fáceis de serem identificadas em dez episódios de uma hora cada, coisa que a geração-alvo da produção já está acostumada a maratonar de uma só vez.

The Wilds está disponível no Prime Video.