Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Crítica Bar Doce Lar | A ausência do desconhecido e suas consequências

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Janeiro de 2022 às 20h20

Link copiado!

Amazon Studios
Amazon Studios

A ausência pode ocasionar diferentes tipos de dor. Uma delas é a dor da saudade, sentimento tão único e indescritível cuja palavra e definição existe apenas na língua portuguesa; a saudade é vontade de reviver, e sua dor acaba sendo um pouco mais duradoura justamente pelo fato de tratar-se de algo familiar.

Há também a ausência do desconhecido, daquilo que nunca se viveu. A dor causada por esse tipo de absentismo acaba sendo até inocente, platônica: ela abre margem para muitos "e se", e acaba distanciando-se da realidade. Em Bar Doce Lar, longa-metragem de George Clooney baseado na obra de J. R. Moehringer, The Tender Bar (cujo título dá nome para o filme no idioma original), conhecemos essa dor ingênua do escritor, aqui vivido por três diferentes atores nas telas para retratar diferentes momentos de sua vida.

Continua após a publicidade

A questão é: quanto mais distante a expectativa e a realidade estiverem uma da outra, maior a frustração. Quando somos introduzidos à versão mais nova de Moehringer (de início interpretado pelo iniciante Daniel Ranieri), presenciamos essa inocência, essa curiosidade do desconhecido que inconscientemente já era carregada de expectativas.

Isso tudo porque o pequeno Júnior nunca conheceu seu pai e se referia a ele como A Voz por conta de um programa de uma estação local de rádio. Júnior vivera a ausência e presenciara a frustração de sua mãe que matava um leão por dia para criá-lo.

Continua após a publicidade

Clooney aqui retrata bem esse processo interno um tanto fantasioso em uma mente tão jovem e ainda tão desacostumada com as invertidas da vida: presenciamos os diálogos sem resposta do pequeno Moeringer com o rádio, bem como o balde de água fria após passar um dia inteiro no degrau gélido da casa de seu avô após esperar seu pai aparecer pela primeira vez.

A abordagem já é outra quando o encontro finalmente acontece e resume-se a um bate-papo medíocre no banco da frente de um carro e o pequeno Júnior desabafa sobre um dia que lhe disseram sobre não ter identidade: "pois vá arranjar uma", rebate seu pai sem muito interesse.

Ranieri aqui não demonstra fortes emoções sobre o choque de saber que o homem cujo sangue corre em suas veias é um verdadeiro babaca de forma proposital. Mesmo tão novo, Moehringer escondia suas angústias da mãe, que chorava quase que diariamente em seu quarto. O acontecimento, no entanto, serve de pontapé inicial para que Júnior de fato comece a buscar sua "nova identidade", a começar por uma das únicas coisas que lhe prendia ao pai biológico: seu nome.

Continua após a publicidade

Amadurecimento e a figura paterna

Bar Doce Lar configura o Tio Charlie (aqui vivido por Ben Affleck) como o personagem de maior peso no processo de amadurecimento do protagonista. Pouco carismático, franco até demais e um tanto galante, o ator vencedor do Oscar por Argo há quase uma década está um tanto confortável no papel justamente por não ser um que lhe exija tanto.

Parece bobo pensar que alguém como Affleck precise, de fato, de um longa coming of age de forte apelo independente em sua filmografia, e mesmo que o ator pudesse transbordar seu personagem como Robin Williams o fez em Gênio Indomável (1997), realizar um favor ao seu velho amigo George Clooney soa como uma tarefa recreativa.

Ele está aqui e tem alguns momentos de grande importância, como incentivar J.R. a ler e escrever ou até mesmo quando encara o pai biológico do sobrinho, mas é só isso.

Continua após a publicidade

Dito isso, J.R. coloca essa responsabilidade emocional e dá o peso da figura paterna ao personagem de Affleck praticamente sozinho. Há aquele carinho e cuidado em atos de serviço e pouco verbalizado, mas transparente nas dinâmicas entre Tio Charlie e o protagonista independente da faixa etária em que se encontra. De certa forma, é interessante de se acompanhar, mas dificilmente emociona justamente por caminhar numa narrativa bastante segura.

A redefinição de lar

Enquanto para mãe de J.R. a palavra "casa" proporcionava dor e problemas, seu filho procurava ressignificá-la sem ao menos ter a intenção de. O título do longa em sua tradução para a língua portuguesa já entrega, no entanto, o processo de amadurecimento do protagonista acontece não só dentro, como por causa do bar de seu tio, The Dickens.

Continua após a publicidade

Seja criança, adolescente ou adulto, Clooney usa e abusa do livro de memórias de Moehringer para criar um ambiente seguro e aconchegante com apenas um balcão e prateleiras de bebidas. Tudo isso com diálogos rápidos, divertidas jogadas de câmera e uma paleta de cores terrosas para dar vigor à atmosfera coming of age como um confeiteiro coloca uma cereja no topo de um bolo.

Bar Doce Lar ou The Tender Bar oferece uma visão íntima e com poucas surpresas sobre a vida de Moehringer, em que Clooney traz para a tela duma forma até mais emocionante do que realmente é. Affleck dificilmente brilha com sua performance diante dos demais títulos de sua filmografia, mas abre possibilidades para beliscar um SAG Awards em fevereiro.

Continua após a publicidade

The Tender Bar está disponível no Amazon Prime Video.