Crítica | The Mauritanian se apoia nas atuações
Por Sihan Felix • Editado por Jones Oliveira |

Filmes biográficos não deixam de ser ficção. Por mais que a base seja em histórias reais, há toda uma narrativa guiada pelo roteiro e uma encenação fundamentada pela forma idealizada pela direção. The Mauritanian é, justamente, um trabalho que pode parecer em dúvida sobre o próprio caminho, sendo ora focado no que quer contar e ora focado em como está contando tudo.
Essa falta de direcionamento encaminha o filme para uma espécie de limbo, onde tudo ou nada pode ser sincero; onde tudo ou nada pode causar impacto. Nesse esquema, The Mauritanian acaba sendo um drama antiquado guiado por uma direção que demonstra ser mais adepta das provocações do que da humanização tão necessária em uma biografia. Humanização esta que, felizmente, é gigante no desempenho dos protagonistas Tahar Rahim (o Mohamedou Ould Slahi), Jodie Foster (a Nancy Hollander) e Benedict Cumberbatch (o Stuart Couch).
Atenção! Esta crítica pode conter spoilers sobre o filme!
Almas repartidas
Acontece que um dos maiores pecados do roteiro de Michael Bronner (de Chasing Planes: Witnesses to 9/11) e dos estreantes em longas-metragens Rory Haines e Sohrab Noshirvani é a indefinição do protagonismo. Claro que o filme é sobre Slahi e a situação passada por ele enquanto preso. O título pode deixar isso claro. Mas todo o desenvolvimento de Nancy e Stuart são quase que supérfluos à história em si.
Nesse sentido, é possível reparar as inserções da personagem de Foster e o quanto elas são repetitivas. Mesmo que o seu trabalho seja um tipo de leitmotiv de situação e, por isso, precise de repetições para que toda a burocracia seja compreendida, a sensação de que suas aparições permanecem interessantes pode ser fruto da competência da atriz. Foster é tão dona das situações que sua postura faz frente, inclusive, à própria situação de Slahi.
Contudo, são nos créditos finais que as cenas mais humanas surgem. Isso porque, como de praxe, algumas filmagens reais daquele que deveria ser o verdadeiro protagonista são mostradas. Então, pode surgir a sensação de que, por mais que Rahim seja um excelente ator e tenha sido bem dirigido, o seu tempo em cena não foi suficiente para a sedimentação de uma empatia mais real — esta que tem força para surgir, instantaneamente, quando o verdadeiro Slahi canta sorrindo, depois de tudo que passou.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech