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Crítica | The Boys supera ano de estreia e tem ótimos ganchos para 3ª temporada

Por| 13 de Outubro de 2020 às 12h39

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Já parou para pensar por que os deuses de crenças antigas sumiram? Ou o que é necessário para extinguir um deus? A segunda temporada de The Boys tem boas reflexões para isso, afinal, se aqui os super-heróis são criados — e, assim como seus análogos da DC Comics, eles são como deuses na Terra —, então, eles também podem ser destruídos. Então, vamos para a crítica desta segunda temporada, que teve seus oito episódios exibidos entre o dia 4 de setembro e 9 de outubro.

Vale lembrar que já escrevi as “primeiras impressões” da segunda temporada, após os três episódios iniciais. E, claro, vai aqui aquele tradicional aviso de spoiler, porque abaixo estão informações que com certeza podem estragar as surpresas para quem ainda não viu.

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Só para recapitular: neste segundo ano, vemos os The Boys sendo perseguidos pelo governo, enquanto tentam resolver tretas internas sobre como lidar melhor com as situações e expor o uso do Composto-V pela Vought International na criação e supersoldados. Homelander (Anthony Starr) vê a ascensão de uma poderosa nova super-heroína, Stormfront (Aya Cash), enquanto tenta se aproximar de Ryan (Cameron Crovetti), seu filho com Becca (Shantel VanSanten), a esposa de Billy Butcher (Karl Urban).

Quando Stormfront se torna ainda mais relevante no grupo, Homelander decide unir forças e, assim, o discurso d’Os Sete ganha mais contornos políticos. Fica claro que os produtores quiseram criar para o grupo uma direção de extrema-direita, em oposição com as ideias da congressista Victoria Newmann (Claudia Doumit), que é caracterizada à imagem de Alexandra Ocasio-Cortez.

Em uma linha narrativa coadjuvante, vemos a Igreja do Coletivo influenciar alguns dos heróis, a exemplo de Profundo (Chance Crowford) e Trem-Bala (Jessie Usher), enquanto, aos poucos, mostra conexões com a Vought International.

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Mais tempo para os relacionamentos

Se muita gente esperava por uma multiplicação nas cenas de ação e no número de equipes e super-heróis, foi justamente o contrário o que aconteceu — e isso foi bom. O segundo ano mostrou outros análogos de heróis conhecidos, como o arqueiro Águia (Langston Kerman) e o incendiário Lamplighter (Shawn Ashmore, que, ironicamente, fez o Homem de Gelo na franquia X-Men); mas passou mais tempo se dedicando aos personagens que já existem.

Assim, a narrativa por muitas vezes foi até intimista. Dessa forma, pudemos conhecer um pouco melhor a família de Butcher, assim como a complicada relação com seus pais — e a forma como ele enxerga Hughie (Jack Quaid) como seu falecido irmão mais novo. Vimos mais sobre o relacionamento da Rainha Maeve (Dominique McElligott) com Elena (Nicola Correia-Damude).

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E, claro, tivemos como destaque o vai-e-vem de Hughie com Starlight (Erin Moriarty). Embora tenha alguns momentos de romance tórrido, o amor puro e inocente entre os dois simboliza um pouco o lado “bom” das pessoas em uma ambientação tão impregnada de cinismo e violência. Mas a interação que mais diverte e interessa mesmo o público é o da Fêmea (Karen Fukuhara) e o Francês (Tomer Kapon). A falta de tato e comunicação inicial progride para uma relação áspera e sem grandes chances de se tornar frutífera — mas o que vemos é justamente o oposto, devido às circunstâncias e às mudanças de comportamento dos próprios personagens.

Vale destacar também outros bons momentos entre Billy e Becca, Homelander e Ryan e até entre Homelander e Stormfront. Essa dedicação dos produtores às relações entre os personagens foi uma decisão muito acertada, especialmente para uma série que já tinha uma terceira temporada confirmada antes da estreia desta segunda.

Desenvolver melhor as subtramas e as motivações dos personagens, assim como a dinâmica entre eles, é algo que realmente coloca The Boys entre as melhores adaptações de super-heróis que também fazem bem isso — a exemplo de Stargirl e The Umbrella Academy.

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Como destruir um deus na Terra?

Se muita coisa do material original de Garth Ennis e Darick Robertson foi descartada — ainda bem —, uma das coisas que a adaptação do Amazon Prime Video manteve é a inventividade e conhecimento que os The Boys usam para detonar os Supers. E um aspecto muito interessante foi explorado nesta segunda temporada, justamente para mostrar como um deus pode perecer.

Ao longo dos capítulos, vemos Stormfront mostrando que ela foi esquecida no passado, quando criada como um dos primeiros experimentos da Vought. Também vemos a ascensão de um Homelander ainda mais poderoso e inflexível. Quando os dois se aliam, então, fica difícil encontrar uma saída para deter uma dupla de deuses dessa estatura.

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Eis que o roteiro usa justamente um conceito conhecido de estudiosos da mitologia tradicional e da mitologia moderna (leia-se quadrinhos de super-heróis): para não ser esquecido ou deixar de existir, um deus precisa de fé e adoração. É disso que ele se alimenta. Homelander e Stormfront representam isso. Ambos passam todos os capítulos em busca incessante por atenção.

E é justamente pela possibilidade de serem ignorados pelo mundo — e possivelmente esquecidos —, é que esses deuses são derrotados pelos humanos — com uma ajudinha dos próprios superseres criados pela Vought, claro.

E o que não deu muito certo?

Como nem tudo são flores, The Boys acumula também alguns momentos de bocejo. Como dito acima, os relacionamentos ganharam bastante tempo de tela. E, com isso, as sequências de ação, combate e exibição de poderes diminuíram bastante, quando comparados com a primeira temporada. A produção tentou manter pelo menos um “momento WTF” para cada capítulo, mas isso pode ser insuficiente para muitos fãs do ano anterior.

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Além disso, seja pela fragilidade da atuação ou por preguiças de roteiro, Starlight e Rainha Maeve flutuam de maneira bastante instável em toda a trama — especialmente a segunda. Maeve é sempre usada com um trunfo na manga. Aliás, na sequência final em que ela é utilizada dessa forma duas vezes consecutivas, soa mesmo como se os escritores não tivessem uma ideia melhor antes de fechar um prazo apertado.

Outro ponto que pode incomodar é a trama de fundo que envolve a Vought International e a Igreja do Coletivo. Se a produção liberasse todos os capítulos de uma vez, ficaria mais fácil notar que esse subplot é alimentado para a próxima temporada. Mas, jogado na história semanalmente, só serve para confundir, já que nem dá para lembrar direito qual a razão desse arco paralelo estar sendo contado.

Vale a pena?

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Se no final da primeira temporada tínhamos a expectativa de ver como Ryan se comportaria com dois “pais”, Homelander e Billy Butcher, a segunda, na verdade, não nos levou exatamente a isso. E essa foi uma decisão acertada, pois aprofundar os relacionamentos entre os personagens é o que os deixa mais palatáveis para a audiência, principalmente em uma trama cheia de violência e coisas absurdas.

Embora tenha menos ação, as poucas sequências de destruição são excelentes e bem orquestradas. E o final nos traz dois ótimos ganchos: será que veremos realmente Billy Butcher se tornar um pai, a contragosto, especialmente de um filho que ele inicialmente odeia? E o que Hughie vai fazer quando descobrir que sua vontade de combater a Vought com uma abordagem mais pacífica não vai se concretizar ao lado da congressista “demolidora de cabeças” Newmann?

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O palco está montado para mais uma boa temporada. E a escalada até o momento vai bem, esta segunda vale tanto a pena quanto a primeira.

As duas temporadas de The Boys estão disponíveis no catálogo do Amazon Prime Video para seus assinantes.