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Crítica | Os Croods 2 diverte enquanto aborda temáticas extremamente atuais

Por| 10 de Janeiro de 2021 às 17h00

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Dreamworks
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Os meses de janeiro e julho costumam render grandes bilheterias nos cinemas devido ao período de férias escolares, e, por conta disso, as distribuidoras de filmes destinam os lançamentos infantis e principalmente de animação para esses dois meses. Com a pandemia de COVID-19 e o período de distanciamento social em vigor desde março de 2020, não foi possível para o público infanto-juvenil conferir lançamentos muito esperados do gênero, como Trolls 2, o live-action de Mulan, SCOOBY! O Filme e Bob Esponja – O Incrível Resgate nas telonas.

Infelizmente, ao que tudo indica, com Os Croods 2: Uma Nova Era não vai ser diferente. A sequência do longa de animação de 2013 distribuído pela Universal Pictures foi uma das muitas produções afetadas pelo fechamento das salas de cinema no mundo e teve sua estreia adiada duas vezes, inicialmente prevista para sessões antecipadas no dia 25 de dezembro e lançamento oficial nesta quinta-feira (7), mas conforme divulgado no início da semana, o filme chegará às telonas no Brasil no dia 25 de março — isso se não houver mais imprevistos que impactem diretamente a previsão de lançamento.

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Os Croods é uma animação que merece ser assistida numa tela grande, numa sessão cheia. O primeiro filme chegou em 2013, apresentando a primeira família da Era pré-histórica, em que os humanos viviam na natureza dentro das cavernas, alimentando-se de raízes, folhas e animais e fugindo de predadores para sobreviver. A animação chegou a ser indicada ao Oscar e rendeu 587,2 milhões de dólares em bilheterias globais, mas teve a produção do segundo filme cancelada em 2016, com relatos sugerindo que a DreamWorks estava em dúvidas de prosseguir com o projeto.

Em 2017, a produção foi retomada pelos próprios estúdios e enfim chegou aos cinemas dos Estados Unidos no dia 25 de novembro. Com o já conhecido humor e carisma dos personagens, a família que dá nome ao filme retorna para as telonas com uma leve repaginada no visual e trazendo questões importantes para a tela, como o embate cultural entre dois povos, protagonismo feminino, a glamoralização do individualismo e sensibilidade masculina. Isso tudo, é claro, sem deixar o mais importante de fora: entreter o público infantil.

Atenção! A partir daqui o texto contém spoilers de Os Croods 2: Uma Nova Era. Leia por sua conta e risco!

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Assim como todo filme infantil, Os Croods 2 reapresenta brevemente os personagens antes de partir para o primeiro ponto de virada do roteiro. Dessa vez, o público é introduzido superficialmente para um evento da infância de Guy (Ryan Reynolds), no momento em que se separa de seus pais e toca sua vida por si só, na companhia do bicho-preguiça Belt. Inicialmente, fica a impressão de que o filme se aprofundará muito mais na história dele, já que o primeiro ficou responsável por explorar a descoberta e o início da relação da família Crood com o restante do mundo assim que eles deixam a caverna em que moravam.

Mas a realidade é que Os Croods 2 utiliza muito pouco ou quase nada da história de Guy, apenas fazendo um aceno muito singelo em algumas cenas. De uma certa forma, Guy acaba sendo o único personagem que sofreu com a sequência e teve seu arco praticamente opaco, resumido a apenas ser o interesse amoroso de Eep (Emma Stone). Isso pode ser um choque para quem se apegou ao rapaz no primeiro filme, já que é um dos personagens mais interessantes da história original: graças a Guy, os Croods literalmente abrem os olhos para a vida e todo o planeta que rodeia a pequena e escura caverna em que moravam anteriormente, além de apresentar à família ideias e pensamentos muito mais profundos do que eles estavam acostumados, como missão e propósito da vida (que o personagem refere-se frequentemente como "encontrar o Amanhã").

Essa talvez seja a única ou a maior decepção do espectador diante do novo filme, mas felizmente o mau desenvolvimento de Guy na sequência passa batido quando comparado ao restante dos arcos, principalmente os femininos.

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A maior surpresa do filme é a maturidade de Eep em relação ao primeiro. Mais velha, madura e decidida, a jovem quer seguir a vida dando um enorme passo pessoal: desprender-se da família com quem passou anos grudada (literalmente) e curtir uma nova aventura do lado do garoto que ama, mas por conta da superproteção do pai Grug (Nicolas Cage, que surpreende na voz original), esse processo de independência acaba enfrentando maiores dificuldades. Eep ama a família, isso é fato; E mesmo após conhecer Guy ela ainda mantém os comportamentos e costumes de "mulher das cavernas", um termo que ainda vai ser ressignificado no desenrolar da história.

Um dos pontos positivos do longa é o cuidado, atenção e principalmente a criatividade fora da zona de conforto utilizada para escrever a história das personagens mulheres, em especial Eep. Assim como toda adolescente, ela possui suas inseguranças, e a maior delas acaba sendo perder Guy. Quando a família esbarra numa enorme e deslumbrante área da floresta, residida pelos Betterman (cujo significado é literalmente "melhor homem", em inglês), Guy acaba reencontrando antigos amigos que foram responsáveis por sua criação quando criança, e com eles, a jovem Dawn (Kelly Marie Tran) também ressurge, mais velha e mais bonita.

Infelizmente, o mais esperado nesse tipo de situação nas telas é ver a trama criar um embate entre as duas personagens mulheres, alimentando indiretamente a rivalidade feminina e os ciúmes descontrolados, bem como a competição por um homem. Mas Os Croods 2 resolve descartar essa possibilidade sem dar tempo para que a mesma seja cogitada pelo público, com Eep e Dawn tornando-se amigas logo no início e deixando bem claro que a história da sequência não se resumirá num triângulo amoroso cheio de estereótipos.

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Embora os personagens masculinos fiquem mais de lado, ainda há momentos que valem destacar, como o embate direto de duas ideias muito distintas e pouco flexíveis sobre o que é ser um bom pai, entre Grug Crood e Phil Betterman (Peter Dinklage). Além disso, ambos pais protagonizam sensíveis e frágeis situações, humanizando essa imagem de homem "másculo" e de "provedor da casa", que costuma colocá-los num pedestal de racionalidade, livres de sentir qualquer dor, alegria ou emoção.

Esse encontro de culturas entre os Croods e os Betterman também é algo muito interessante de se assistir, principalmente tratando-se de uma ficção destinada a crianças. Seja nas coisas pequenas, como comportamentos à mesa, vestuário, penteado de cabelo e afins, Os Croods 2 transparece que as diferenças culturais não estão necessariamente certas ou erradas e destacam-se justamente pelo mais simples, mas de nada vale se não soubermos respeitar uns aos outros. Junto com o público, os personagens percebem ao longo do filme que o que torna o ser humano diferente um do outro é o que lhe faz único de uma forma praticamente didática, disposto a segurar na mão das crianças e oferecer uma bela lição de convivência e cidadania.

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Além de se resolver em 95 minutos, Os Croods 2: Uma Nova Era ainda oferece grande impacto visual, sem economizar na paleta de cores utilizada nos mais diversos e exóticos cenários e não deixa de lado algumas críticas, mesmo que fazendo-as de maneira discreta, como o excesso de tempo que passamos em frente ao celular ou aparelhos tecnológicos e a "fuga" da família e das obrigações domésticas que alguns homens fazem em diversos lares.

É necessário também destacar o trabalho do elenco de voz original, composto por nomes como Ryan Reynolds, Emma Stone, Nicolas Cage, Leslie Mann, Peter Dinklage, Cloris Leachman entre outros. Os Croods 2 acaba sendo uma boa surpresa que merece ser assistido não só com as expectativas altas, mas também numa grande tela.